Esse foi o título de uma reportagem sobre a cadeia produtiva de alimentos na Alemanha publicada no Handelsblatt, o Jornal do Comércio alemão. Nos últimos tempos têm sido vinculados em diversos meios de comunicação aqui na Alemanha (revistas, internet, documentários na TV) extensas matérias sobre o tema. Uma delas, da revista semanal “Stern”, tinha o título “Por que nós fazemos isso?”, referindo-se ao fato de ingerirmos alimentos cada vez mais industrializados, com cada vez mais ingredientes que não conhecemos, não temos idéia nem do que se trata, muito menos sabemos dos seus efeitos a longo prazo.
A cadeia produtiva foi definida na matéria como “um sistema altamente subvencionado, composto por grandes produtores rurais, fábricas de animais (que são os grandes abatedouros), fabricantes de pesticidas, veterinários, produtores de sementes e empresas farmacêuticas”. Também foi tratado como insanidade a superprodução, e a cultura do “jogar fora” como um efeito colateral da própria superprodução, e que o crescimento brutal do segmento é feito às custas de quem não pode se defender sozinho: os animais e o meio ambiente. Parece a “teoria da conspiração”, pensei num primeiro momento. Mas, analisando-se mais a fundo, percebo que não há exageros.
O círculo vicioso tem como motor o estímulo ao consumo. As empresas empregam técnicas que lhes permitem aumentar a produtividade e baixar o custo de produção, o que é legítimo, e feito em qualquer outra indústria. Prejudicial é o fato desses produtos/aditivos serem usados em grandes quantidades e frequentemente, sem o controle adequado. É o caso dos antibióticos que teriam por objetivo proteger a saúde dos animais mas que estão causando graves problemas de saúde nos seres humanos: as bactérias superresistentes dos animais são ingeridas com a carne, gerando nos seus consumidores – NÓS MESMOS – resistência aos antibióticos. Ainda que aqui na Europa os produtos geneticamente modificados nem são permitidos…
Que a carne na Europa não tem sabor eu já sabia, novidade é o fato de ela ser de má qualidade. Pelo menos a carne brasileira tem sabor…
Surpreendente é que até hoje não há controle sobre o que os animais recebem de medicamento, em que regiões e em qual quantidade ao longo da vida. Pelo menos isso deve mudar num futuro próximo. Há previsão de que entre em vigor uma lei que obrigue os criadores a relatarem o que seus animais ingerem além de comida, ao longo da vida.
Também quando compramos alimentos industrializados, que contém conservantes, corantes, e realçadores de sabor como o glutamato monossódico, estamos acostumando nosso corpo a reagir de acordo com esses ingredientes. Explicando: quando consumimos temperos prontos, nossas papilas gustativas vão sendo “treinadas” para esse sabor. De repente um molho de tomate ou um feijão temperado “só” com ervas, cebola e alho (como nossas mães e avós faziam) passam a não ter mais gosto. Esse efeito é o que deseja a indústria de alimentos. Ela não deixa de colocar esses ingredientes nos seus pacotinhos (o glutamato foi proibido, mas outras substâncias continuam sendo usadas e têm o mesmo efeito), pois sabe que o consumidor pode se desacostumar deles. A situação fica mais cruel quando se trata de alimentos para crianças, mas isso é assunto para outra conversa.
Em um documentário da TV foi exibido um teste com uma família de 4 pessoas que comprovou essa teoria. Durante 4 semanas a família se propôs a não consumir nenhum tipo de produto que contenha corantes, conservantes, etc. A tarefa é extremamente difícil, pois nos supermercados europeus a diversidade de produtos é imensa e manter-se longe desses ingredientes é quase impossível. As prateleiras estão repletas de soluções mágicas…
Um especialista em alimentos ajudou a família nas compras e no preparo das receitas, que envolveu desde purê de batatas, massas, filés de peixe empanados, enfim, tudo o que vai do freezer ou geladeira direto para o forno ou frigideira. Até o iogurte foi feito em casa. Claro que na primeira semana as crianças acharam a experiência não muito agradável mas, ao final desse período, a filha mais nova passou a achar o iogurte da mamãe mais gostoso….
E você sabia que as saladas de pacote, aquelas prontas para o consumo, como as que são vendidas nas cadeias de fast food, não têm valor nutritivo quase nenhum? Isso acontece porque as folhas não devem ser cortadas, e sim rasgadas no sentido das veias, sob pena de perda de seus nutrientes.
Aqui na Alemanha há muitos chefs de cozinha que têm se envolvido com a causa. Certa vez, num programa sobre panificação, ouvi que o pão de saco fatiado de fábrica é um pão morto… Parece exagero, mas a diferença é clara: experimente cortar um pão fresco da padaria e pegue uma fatia do seu pão de torradeira. Compare. O aroma, a textura… nunca mais consegui comer pão de saco.
A cada dia torno-me mais consciente do que eu como, como eu como, quem produziu, e com que ingredientes… Porque no fim das contas, nós consumidores somos os prejudicados. Porém temos sim o poder de mudança. Só que para isso precisamos ter consciência e aplicarmos consequências.
Minha pretenção é compartilhar com meus leitores(as) informações sobre nossa alimentação. Nas últimas décadas nossos hábitos sofreram mudanças tão abruptas para as quais nosso organismo não está preparado biologicamente. O simples fato de não termos o ritual de preparo de nossas refeições é um exemplo. Ensinar as crianças a cozinhar, a participar do preparo, a escolher ingredientes e a mexer com eles é fundamental. Só assim poderemos reduzir os casos de obesidade, diabetes, e câncer que assolam a humanidade.
“Você é o que você come”. A nossa principal fonte de energia, saúde e juventude é a alimentação, cuja importância tem sido sistematicamente colocada em segundo plano. Bom é o que é feito rápido? E que de preferência custe pouco? Eu já comecei a rever meus conceitos e convido você a fazer o mesmo. Tenho certeza de que há pontos em sua rotina que podem ser melhorados para aumentar sua qualidade de vida.
Se você souber alemão e quiser ler a reportagem na íntegra, com dicas de livros para continuar se informando, acesse o link: