Recentemente vi num post, no facebook de uma amiga, uma foto de um homem de sunga, daquelas com a lateral bem fininha, quase como um biquíni feminino. Eu particularmente não gosto muito deste visual, acho bacana as que tem a lateral bem larga, para mim fica mais masculino, enfim, tem gosto para tudo. O caso é que a tal foto me lembrou uma situação bastante constrangedora que meu marido e eu passamos no nosso primeiro verão na Flórida. Aviso aos leitores mais sensíveis que este não é um post dos mais discretos.
Meu marido e eu nos mudamos para a Flórida no fim de 1997, era inverno e apesar de não fazer muito frio, não dava para entrar na piscina da casa que a companhia alugou para morarmos, pois a água não era aquecida. Assim que passaram-se vários meses até que decidíssemos molhar os pés. O verão chegou e nós passamos a disfrutar do nosso novo quintal com muito gosto, almoço de fim de semana era na churrasqueira a beira da piscina. Não era bem uma churrasqueira para os padrões brasileiros, mas uma grelha americana a gás. Churrasco aqui é muito diferente do nosso, mas disso eu falo em outro post. Para o objetivo desta estória é suficiente dizer que levamos vários fins de semana para dominar a técnica de não queimar a picanha por fora e deixá-la completamente crua por dentro, tendo a grelha tão próxima das chamas. Era um “fumacê” danado, e acabávamos comendo saladinha. Fala sério, achar a picanha para comprar já havia sido um parto, enfim, como eu já disse, esta é outra estória. O ponto é que, quando finalmente nos sentimos confiantes no manejo da grelha americana já era para lá do meio de agosto, fim de verão por aqui, e eu estava grávida de seis meses.
Decidimos então fazer um social, e o Flavio convidou um colega de trabalho com a mulher e a filhinha de três anos. Eu não os conhecia, mas apostei na picanha com salada e cervejinha gelada.
Fazia uns 40ºC naquele sábado, e como brasileiros que somos, eu vesti um maiô, amarrei uma canga em volta da cintura e calcei minhas havaianas, meu marido vestiu shorts e camiseta por cima da sunga (de lateral bem larga), e também calçou havaianas.
Primeiro choque:
O decote do meu maiô era até recatado para os padrões brasileiros, mas aparentemente não para americanos, detalhe, eles tinham acabado de mudar de Rochester (terra de gelo que faz divisa com o Canadá) para a Flórida. Tudo bem que eu tenho um bonito décolletage, mas juro que não era para tanto, era um maiô de grávida com um decote V adequado a uma festa infantil, a beira de qualquer piscina brasileira. Eles no entanto demoraram uns dez minutos para conseguirem parar de olhar para o meu decote, mas eu não posso reclamar, pois também levei um bom tempo para superar os tênis brancos com meias pretas até o meio das canelas que nosso convidado usava. Alguém, por favor, me explica esta combinação que eu não assimilei até hoje.
Segundo choque:
Não tínhamos nem hambúrguer e nem cachorro quente para a criança, a pobre menina comeu só pão com manteiga a tarde toda. Ainda bem que ela ainda tomava mamadeira e a mãe havia trazido duas prontas. Por sorte eu havia comprado duas baquetes, e nunca falta boa manteiga na minha geladeira. Peço desculpas as mães lendo este post, na época eu ainda não tinha filhos e não sabia quantas particularidades podem ter uma criança de três anos. Aqui nos Estados Unidos churrasco para crianças envolve invariavelmente hambúrgueres e cachorros quentes, lição aprendida. Por sorte os pais adoraram a picanha, senão até do ponto de vista culinário teria sido um fiasco, o que causaria grande dano a minha boa reputação de festeira.
O golpe final:
Quando eles chegaram já se puseram a passar protetor solar cuidadosamente na filhinha que era a única entre eles de maiô, e a ajudaram a vestir boias nos bracinhos. Meu marido já servia um aperitivo básico de linguicinhas grelhadas e queijo coalho que eu havia encontrado na loja brasileira, quando a garotinha muito fofinha sentou na beirada da piscina e pediu para entrar. Os pais dela não vestiam maiôs por baixo da roupa, então meu querido marido muito solicito na sua postura de anfitrião disse:
– Curtam o aperitivo, vocês precisam provar este queijo, é uma delícia, pode deixar que eu entro com ela enquanto vocês comem. Depois vocês se trocam com calma e entram, a água está ótima.
Ele então, com a maior naturalidade, caminhou até uma espreguiçadeira, tirou a camiseta e os shorts, e pulou na piscina.
Nada demais diria meu caro leitor brasileiro, porém, o efeito nos nossos convidados foi o mesmo que se ele tivesse feito um strip-tease em câmera lenta dançando ao redor de uma barra de aço tipo aquelas de clubes de profissionais em danças exóticas, vocês sabem quais.
Enquanto eu assistia a expressão de espanto nos rostos dos pais da criança meu marido atravessou a piscina (com a água misericordiosamente batendo na cintura) até onde ela estava sentada e a pegou no colo.
Eles trocaram um olhar apreensivo, e ele saiu correndo para o quarto de hóspedes, com seus tênis brancos e suas meias pretas, e ela ficou sentada com o olhar fixo no meu marido que não estava nem aí, ele estava tranquilo na piscina, brincando com a menina. Eu, tentando ajudar, piorei a situação, quando tirei a canga e entrei na água. Se meu decote tinha chamado a atenção deles, a parte de traz do meu maiô que fazia um U nas costas e tinha uma cava em V foi ainda mais marcante. Veja bem, não era nenhum fio dental, muito ao contrário, era até bem careta, mas quando peguei a menina e virei de frente para a mãe dela, para ver se ela estava mais tranquila, percebi meu erro. A pobre parecia atordoada.
O pai da criança retornou vestindo uma bermuda tão longa quanto a que usava quando chegou, assim no meio dos joelhos. Ele pulou na piscina, literalmente arrancou a filha dos meus braços, e começou a beijar os cabelos dela como se a tivesse resgatado de um incêndio. Meu marido fez uma expressão de estranheza e eu tentei um sorriso como se não tivesse notado. O mais difícil porém foi quando ela voltou, sim, pois depois que o marido estava presente para defender a filha daqueles brasileiros desavergonhados, nossa convidada se sentiu segura para ir se trocar também. Gente, sabe aqueles maiôs de bebês que usam fraldas, aqueles que tem uma sainha, pois é, daí foi a minha vez de tentar disfarçar a expressão de espanto, ela vestia um maiô cuja parte de cima parecia uma regata com alças largas e decote quase careca, e o traje tinha uma sainha que ia até uns três dedos antes dos joelhos. Não é de se estranhar que ela tenha ficado tão surpresa com meu maiô afinal.
Eu saí da piscina olhando para os lados, evitando encará-la de frente, com medo de não conseguir segurar o riso, e amarrei minha canga ao redor da cintura. Peguei uma travessa de salada e pedi uma ajudinha ao meu marido, lá na cozinha, onde contei a ele o que havia acontecido. Ele nem arriscou ir buscar a roupa que estava na espreguiçadeira, foi diretamente ao nosso quarto e retornou com a bermuda mais longa que tinha, uma de linho que parava, apropriadamente, um dedo acima dos joelhos, e uma camisa bem larga daquelas que as mangas chegam quase aos cotovelos. Eu não tirei mais a canga nem entrei na piscina. Fala sério, estava um calor danado!
Quando retornamos a mesa notei que nossos convidados também haviam tido uma conversinha e me pareciam um pouco constrangidos. Talvez tivessem percebido a ofensa que a atitude deles representava, ou talvez eu tenha me convencido desta idéia para levar o restante da tarde numa boa.
No dia seguinte meu marido e eu fomos ao shopping, ele comprou uma bermuda de praia tipo surfista, e eu um maiô que tinha a parte de baixo feito shorts de vôlei. Mas sainha, jamais!
Ah, as nossas havaianas porém, fizeram o maior sucesso.