Essa história se passou em um dia quente e ensolarado de agosto do ano de 2004, o mês em que tudo que há de bom na face da Terra se encontra: verão e férias!! Eu havia estado por meses em uma escola de línguas, já conseguia pedir bem mais que água na padaria…
Na época eu morava num apartamento funcional da empresa onde meu marido trabalhava. Um apartamento até que bom, mas simples em seu mobiliário e acessórios. O prédio tinha uns 10 andares e elevador (coisa rara por aqui) e haviam 3 apartamentos por andar.
Pois bem, nesse dia inusitado, meus pais desembarcariam em Frankfurt para uma estada de 4 semanas em minha residência. Eu estava bem ansiosa e feliz pela chegada deles. Queria deixar tudo ajeitadinho, arrumadinho… sabe como é?
Fui levar meu marido em seu local de trabalho e voltei com nosso carro, para eu poder ir ao aeroporto buscá-los. Ao retornar dessa pequena viagem, entrei em casa, coloquei a bolsa em cima do aparador junto à porta e lembrei do lixo.
(Naquele prédio colocava-se o lixo num latão na saída de serviço comum, como no apartamento em que morava em São Paulo)
Entrei e, como disse, coloquei a bolsa de lado – para não atrapalhar – e fui buscar o saco. Abri a porta e saí bem correndo porque o dito estava pingando!! Oh droga, só me faltava essa, vou ter que limpar o corredor!!!
Então entrei novamente, peguei um paninho e saí para limpar a meleca que tinha deixado, antes que caísse no esquecimento. Estou acabando de limpar, junto à porta do corredor que fica quase colado ao apartamento de frente, quando ouço um “tuc” atrás de mim.
A PORTA FECHOU!!!!! – lembrei apavorada no mesmo momento.
Na Alemanha TODAS as portas externas das residências têm esse dispositivo que só permite que se abra pelo lado de fora com a CHAVE. Cadê a chave? Exato: dentro da bolsa que estava dentro do apartamento!
Estava trancada do lado de FORA!! O que fazer agora?
Minha primeira opção foi chamar o serviço de chaves. Mas como chamar, se meu celular e o cartãozinho do moço estavam dentro de casa? Eu ainda tentei tocar nos meus vizinhos, mas aparentemente só eu estava em casa naquele momento.
Esse descuido iria me custar uns 60 euros – que eu obviamente não tinha… Teria que ir ao banco, mas vamos lá. Foi aí que me lembrei da minha simpática cabeleireira, que tinha o salão há uns 150 metros dali. Fui até lá e na conversa ela acabou me emprestando primeiro uma escada. Afinal eu morava no 1. andar. Era só esticar um pouco o braço…
Em vão. Voltei com a escada para o salão. Era muito curta.
Quem teria uma escada maior? – pensei.
“Tem um apartamento no prédio em frente ao seu que está em reforma. Quem sabe os pedreiros não tem uma escada maior?” – ela sugeriu. E eu aceitei a sugestão.
Voltei ao local e fui perguntar. Eles tinham uma escada um pouco maior. Mas ainda insuficiente.
Quem teria uma escada maior? – pensei….
Esse meu vai-e-vem já tinha chamado a atenção de algumas pessoas da redondeza. Até que um comerciante me disse que tinha um amigo que trabalhava para uma empresa que prestava serviços de eletricidade e eles tinham uma escada que alcançava até os cabos de luz da rua. Se eles estivessem na redondeza poderiam colocar a escada no parapeito da janela e abrir a janela por dentro. (Detalhe: era verão e a janela estava tombada e não trancada)
Foi então que, em 30 minutos, esse amigo e equipe chegaram e conseguiram abrir minha janela!!! Eu nunca imaginei que teria tanto trabalho para entrar em casa! Tive que pular a janela, literalmente!!! Nossa, como posso recompensar esses bravos homens que vieram até aqui praticamente arrombar minha própria casa para eu poder entrar? Ofereci algo para os “heróis” tomarem e perguntei o quanto custava o serviço deles. “Nada, não.” Como nada? Resolvi então “pagar uma cervejinha”, eu não tinha mais do que isso mesmo na carteira…. pronto, me senti no Brasil!
Essa foi uma das primeiras vezes que usei meu alemão para me comunicar eficientemente, numa situação pra lá de estressante. Foi aí que percebi que os alemães são bem mais solidários do que eu pensava.
Enquanto isso meu marido nem suspeitava do mico que a esposa passava em casa…. Só então pude acabar de me “embelezar” para ir ao aeroporto. Haja stress!