Incrível, aos quarenta e três anos finalmente tomei coragem e provei ostras, cruas. Preciso admitir que não foi uma decisão fácil, e sim muita vontade de não fazer desfeita aos mais gentis dos anfitriões.
Fomos, a família toda, para Pensacola na Flórida, um lugar paradisíaco. Uma ilha em formato de península daquelas onde, da varanda do apartamento, você pode ver o mar dos dois lados. O máximo! Fomos com um casal de novos amigos cujo filho estuda com nossa filha mais velha. Após participarem de uma festa em nossa casa, muito graciosamente retribuíram a nossa noitada brasileira com um convite irresistível para passar uns dias no condomínio deles na ilha que eles tanto gostam. E pela qual meu marido e eu nos apaixonamos.
Já em várias ocasiões havia me deparado com ostras em buffets ou em cardápios de restaurantes, mas alguma coisa na aparências delas sempre me repugnou. Acho que ninguém, mesmo os mais aficionados por essas iguarias cascudas, pode dizer que elas são atraentes. Assim seguia eu, sem maiores considerações por ostras. Se alguém me oferecia simplesmente dizia não obrigada, e pronto. Não às assadas, não às fritas e ensopadas, e definitivamente não às cruas. Ninguém nunca insistiu, ou sequer exaltou suas qualidades para mim. Eventualmente um leve: “Você não sabe o que está perdendo.”
Desta vez foi diferente. Quando chegamos a cidade, paramos em um mercado local para fazer compras básicas e nosso anfitrião perguntou:
– Vocês gostam de ostras?
– Nunca comemos.
Foi nossa resposta em uníssono.
– Ah, mas hoje vou levá-los a um restaurante de frutos do mar onde as ostras são a atração principal. Vocês precisam provar! Tenho certeza que irão adorar!
– Claro!
Disse eu sorrindo e olhei para o meu marido que tentava disfarçar a expressão de alarme.
Levamos os mantimentos para o apartamento e de lá direto para o “Peg Leg Pete’s” um restaurante favorecido pelos habitantes locais. O ambiente era despretensioso e o atendimento excelente. Nosso amigo imediatamente pediu quatro dúzias de ostras frescas e mais umas tantas assadas e fritas.
A cada garçom que passava carregando bandejas rasas com porções de ostras sobre uma camada fina de gelo meu estomago dava um salto. Finalmente após uns dez minutos de bate-papo chegaram nossas bandejas. Eu decidi não olhar para elas e me mantive calma. Nosso anfitrião, muito solicito, vendo que nem eu, nem meu marido nos animávamos a pegar uma, se pôs a preparar uma bandeja completa enquanto conversávamos. Quando eu pensei que ele ia começar a comer ele pediu que entregássemos a bandeja que estava na nossa frente, e nos entregou a preparada com muito limão, um molhinho vermelhinho e uma pitada de raiz-forte. Quanta gentileza, ele achou que nossa imobilidade era por não sabermos como preparar as ostras, o que em parte era verdade, mas estávamos mesmo era tentando enrolar o máximo possível aguardando algum evento extraordinário como um tornado ou terremoto que nos obrigasse a sair correndo, e nos salvasse daquela situação.
Não havia o que fazer, o jeito era encarar o bicho, ou melhor, a cascuda. Escolhi a mais coberta de condimentos, e tentando não encará-la diretamente peguei a bicha com o garfo, controlei o impulso de tapar o nariz com os dedos feito criança tomando remédio, e coloquei a meleca inteira na boca.
Surpreendente! Adorei! Parece um marisco bem cozidinho, não é gosmento ou pegajoso, tem um gosto suave e uma textura delicada. Meu marido também gostou, e sem problemas compartilhamos uma dúzia delas. Também provamos das ostras cozidas de diferentes maneiras e minhas filhas, muito bem comportadas, provaram e gostaram das ostras assadas.
Depois dessa acho que estou pronta para o escargot.