A Sandra e eu decidimos que em homenagem ao Dia das Mães ambas escreveríamos artigos falando sobre nossas experiências sendo mães fora do Brasil. E ela escreveu um texto lindo, muito íntimo e honesto, contanto sua experiência pessoal. Tirando a complicação no último trimestre de gravidez que ela teve – minha gravidez foi bem tranquila, mas não me pergunte sobre o parto – nossas experiências têm várias semelhanças.
Eu pretendia falar de alguns aspectos da vida da mãe expatriada, como o nível de atenção e cuidado que eu ponho em tudo que eu faço para evitar acidentes e não faltar às minhas filhas, pois além de eu morar há aproximadamente quinze horas da casa dos meus pais, meu marido viaja bastante e eu não posso falhar. E como os amigos tornam-se ainda mais importantes, pois precisamos nos apoiar mutuamente.
Ou ainda, como eu aprendi a ser firme nas minhas decisões, pois não há ninguém por perto para me orientar, mas também não sou questionada nas minha escolhas para minhas filhas. Como a Sandra mencionou em Meu Jeito de Ser Mãe, isso é “empowerment”, uma palavra em inglês que eu adoro e significa uma mistura de independência com responsabilidade, não existe palavra semelhante em português, assim como não existe “saudade” em inglês.
E principalmente, como eu aprendi a apreciar a minha mãe, depois que eu me tornei uma. E como eu, morando tão longe, sinto falta dela.
Pois é, eu pretendia elaborar sobre tudo isso, contando detalhes da minha vida de mãe vivendo no exterior. Mas sexta-feira, depois da minha conferência com a Sandra pelo Skype, recebi uma ligação da minha filha mais velha. Ligação típica de criança bem amada, daquelas que sabem que não importa a situação a mãe vai resolver a parada. E que me fez pensar como mãe é criatura tonta que só muda de endereço, não importa em que país a gente mora, se longe ou perto da família, que idioma a gente fala, qual nossa condição social e nosso nível cultural.
Minha filha querida, mal ou bem acostumada depende o ponto de vista, tinha uma aula especial de dança indiana na escola e esqueceu que tinha que levar uma tal de “dupatta”, uma echarpe longa que meninas indianas usam atravessando o torso na transversal, apoiada num dos ombros e amarrada logo abaixo da cintura do lado oposto do corpo. Como nós não somos indianos, eu não tenho nada parecido em casa, e ela deveria ter pedido uma dupatta emprestada para nossa vizinha indiana com dias de antecedência, é claro. Mas ela não fez isso porque estava atrapalhada com tarefas e testes atrasados, pois havia perdido quatro dias de aulas na semana anterior por estar super resfriada, olha só, eu sigo dando desculpas para as distrações dela, ai ai ai, mãe tonta é pouco, sou incurável mesmo.
Enfim, ela me ligou pedindo para eu ir na casa da vizinha pedir a dupatta emprestada, e levar para ela na escola, que fica há uma hora de casa (quando não tem trânsito). E eu fiz! Fala sério, eu deveria ter dito a ela que se virasse e que aprendesse a ser mais organizada, mas não. Não apenas fui pedir o favor para a vizinha, levei a tal dupatta para ela e fiquei assistindo a aula de dança. Detalhe, eu peguei o resfriado dela e estava miserável, como ainda estou hoje, mas dirigi até lá, super devagar com a cabeça zonza por conta do antigripal, mas fui. Até filmei… Típica mãe babona, e bobona!
E o pior, eu que sempre achei filmes de Bollywood o cúmulo do brega, achei a dança linda. Fiquei encantada com as explicações dos gestos e a energia dos movimentos.
Eu aprendi que Bollywood Dance é o hip-hop indiano, uma popularização da dança clássica indiana que é muito mais rigorosa. Na dança clássica indiana cada gesto, cada posição do corpo tem um significado e toda dança conta uma estória, existem coreografias milenares que contam lendas da história do país, e são praticadas rigorosamente. Já a Bollywood Dance é mais solta, usam-se os gestos para expressar sentimentos e atitudes, mas a prática é menos rigorosa e as músicas tem uma batida mais forte e rápida. Adorei!
Ser mãe é abrir a cabeça às novas experiências para acompanhar a evolução dos filhos, e aprender a apreciar Bollywood Dance!
Feliz Dia das Mãe!