Uma coisa eu não entendo: de onde surgiu o termo “pontualidade britânica”? Só porque o Big Ben fica em Londres não significa que os ingleses sejam o povo mais pontual do mundo! Eu tenho motivos para acreditar que são os alemães que ganham essa parada. Para defender minha teoria vou citar alguns exemplos…
Os alemães levam esse assunto muito a sério. Para eventos profissionais não é de surpreender, pois até no Brasil se você por exemplo chegar atrasado em uma entrevista, esqueça. Reuniões têm horário para começar E acabar, que quase sempre são cumpridos.
A Alemanha também é conhecida pela pontualidade do seu sistema de transporte público. O que me admira é que, planejar os horários de chegada e saída de trens pode ser relativamente fácil se comparado ao planejamento dos ônibus. Aqui trens e ônibus programados para chegar às 9:42, chegam às 9:42! Percebe-se que o ônibus está para chegar quando começa a haver aglomeração no ponto…. não adianta chegar antes, não! Todo o sistema já está disponível para consulta nos celulares e isso torna ainda mais fácil a locomoção.
O que me causa espanto e, no começo também um certo desconforto, é que eles são assim nos eventos privados também. Aqui churrascos, encontros, bate-papos e coisas do gênero normalmente são marcados com dias, semanas, meses de antecedência! Os alemães gostam da previsibilidade e, quando se marca, está juramentado e sacramentado, mesmo que seja de boca. E o que se espera é que o convidado seja educado e chegue na hora. Nem 10 minutos antes, nem 10 minutos depois.
Férias são agendadas para o ano todo e muitas vezes também anos à frente. A vantagem é que aqui o funcionário tem o direito de dizer quando quer tirar férias. E tem que haver um motivo muito forte para o empregador negar o pedido. Então eles se programam no período que melhor lhes convém, fazem reserva nos hotéis, voos e pacotes de viagens. Tudo bem organizadinho… para não dar nada errado!
Outro exemplo de experiência intercultural inesquecível aconteceu com uma brasileira na visita prévia à sua transferência. Essa visita pode incluir a escolha do local de moradia, a escola dos filhos, a compra do carro e por aí vai.
Pois bem, a “madrinha” que a estava acompanhando marcou às 13 horas uma visita a um imóvel. A madrinha a pegou em casa e chegaram às 12:55 ao local combinado. E então a brasileira desatou os cintos e ia abrindo a porta para sair. A madrinha então disse: “Vamos esperar, chegamos 5 minutos mais cedo”. O meu leitor ou minha leitora deve estar fazendo a mesma cara que a personagem da história fez. “Quê?”. Isso mesmo, elas ficaram esperando dentro do carro, combinado é combinado….
A única similaridade com a pontualidade brasileira que observo aqui é o horário de atendimento nos consultórios médicos. Esqueça, você nunca vai ser atendida na hora. Eles dizem que é por causa dos “encaixes”, mas o que dizer de uma consulta que dura 15 minutos representar uma manhã toda no pediatra? Simplesmente inaceitável!!
A pontualidade por outro lado representa uma certa pressão para muitos nativos. Em nosso círculo de amigos, por exemplo, tem de tudo. Mas o que eu noto é que uma maioria crescente deles adora poder “usufruir” da nossa flexibilidade. Na nossa casa é assim: mais ou menos tal hora, a partir de tal hora. Hora para acabar? Brasileiro não sabe o que é isso! Se está bom, vai ficando… e assim aconteceu uma situação bem interessante.
Um casal de amigos com duas crianças vieram para um almoço de Páscoa. No dia demos tanta sorte que foi a Páscoa mais ensolarada e quente que já tivemos aqui. Eles chegaram no horário (12:30 h) e trouxeram o que havíamos combinado. Eu, bem prevenida, fiz compras pensando numa tarde gostosa no jardim. Afinal o dia estava reservado para eles mesmo. Quando chegou pouco antes das 4 da tarde, a esposa já estava juntando suas coisas para ir embora. Isso me causou espanto, porque estava realmente um dia muito gostoso, nosso papo e a brincadeira da criançada estava rolando solta…
Foi aí que perguntei o porque dela estar se aprontando para sair. E ela me respondeu que tinha sido convidada para o almoço… Olhei para ela e disse que, na nossa casa, não tem que sair na hora do café. Ela me olhou com surpresa nos olhos e desistiu da idéia. Coloquei a mesa para o café, servi bolo (um hábito típico alemão), sorvete, frutas, suco… e seguimos a tarde. Eles foram embora às 7 da noite. Desde esse dia eles aprenderam e se comportam como nós: chegam atrasados, são os últimos a sair, vão ficando… parece que estão de férias! Viva a diversidade!