A primeira vez a gente nunca esquece….

Essa história de escrever em blog está mexendo comigo. Tenho me lembrado de tantas coisas engraçadas – ou não – que já aconteceram… e vontade de registrá-las também. Uma dessas histórias agora hilárias, aconteceu na primeira vez que botei meus pés em terras germânicas.

Quando um funcionário é transferido com a família para alguma cidade ou país diferente, acontece uma série de preparações para essa transferência. Onde vai-se morar, pra que escola vão os filhos, etc. são temas que perturbam nossa cabeça e são bem importantes para a nossa adaptação no novo ambiente. No meu caso um passo importante era fazer com que eu me sentisse mais “em casa” na medida em que soubesse me comunicar melhor. Eu nunca tinha aprendido uma palavra de alemão antes, a não ser “chucrute” – que depois ainda vim a saber que não é alemão, e sim francês!

Pois bem, ainda no Brasil tive algumas aulas de alemão pra começar a me familiarizar com o idioma, que na época era tão estranho pra mim quanto o japonês é hoje…. Aí aconteceu a primeira viagem de “reconhecimento”. Fomos instalados num hotel confortável, no centro de uma bela cidade, com muita opção de comércio, restaurantes, etc.

Meu marido foi trabalhar e eu, entediada em ficar no quarto de hotel assistindo nada na televisão, resolvi sair pra passear, “me aventurar”.

“Agora é a hora de eu testar meu alemão!”- pensei.

Joia!  Após andar por algum tempo observando as pessoas, os lugares por onde passava (pra não me perder, claro), as lojas e tudo o que havia à minha volta, pintou uma sede…. daquelas de deixar a boca sem saliva, sabe? Então entrei numa padaria e pedi pra moça, em alemão, toda orgulhosa:

“Uma água, por favor.”

“%&ˆ%$$%ˆ&**()()((*&ˆ%$##@!!@#$” – ela respondeu.

“Como?”

“&ˆˆ%$$##$%ˆ&*()))*&%$#@!@#”- ela retrucou.

Nesse momento ela, me vendo com cara de ponto de interrogação, colocou uma série de garrafinhas de água em cima do balcão, pensando estar me ajudando a escolher uma água. UMA SIMPLES ÁGUA!

Claro que não consegui saber o que era aquilo tudo… peguei uma das garrafas, ela pegou minha nota de 5,00 – eu não ia me atrever ainda a perguntar o preço, dei a nota que seria suficiente pra pagar a p… da água!

Peguei o troco e fui me embora. Nunca pensei que iria ficar tão esgotada por comprar uma água na vida! E o pior é que eu até hoje não sei o que a senhora falou pra mim…

O Ganso Selvagem

Quando minha filha mais velha tinha uns dois aninhos nós morávamos numa casa que a companhia onde meu marido trabalhava na época alugava para nós. Era um bairro muito agradável e atrás da nossa casa tinha um lago bastante grande.

Grupo de gansos selvagens ciscando tranquilamente a beira do lago.

No outono, que na Flórida é quase tão quente quanto o verão, os gansos selvagens começavam a chegar fugindo das temperaturas rigorosas dos estados mais ao norte, onde eles passavam a primavera e o verão.

Minha filha adorava e eu também, é claro. Começávamos a juntar casquinhas de pão. Sabe as beiradas do pão de forma, pois é, eu assumo, sou mãe condescendente, eu cortava e ainda corto as casquinhas do pão de forma para as minhas filhas. Mas lá na Flórida elas eram muito bem aproveitadas no fim da tarde, quando eu saía para uma caminhada ao redor do lago com minha filhota e nós alimentávamos os gansos. Os danados eram tão mal acostumados que lá pelas três da tarde eles já iam aparecendo atrás da minha casa para esperar a merenda. Além dos gansos adultos vinham os filhotinhos atrás das mães, uma graça.

Era uma delícia ver minha pequena toda contente jogando as casquinhas do pão que a gente coletava no café da manhã e da tarde para os gansos, que a gente chamava de pato mesmo.

Ela apontava o dedinho gorduchinho toda feliz e dizia umas duas dezenas de vezes:

– Pato.

E eu repetia:

– É filha, o pato.

Impressionante como mãe acha graça da mesma coisa cem vezes por semana. Acho que durante os primeiro anos de vida das minhas filhas eu baixei pelo menos uns dez pontos no meu QI. Não tenho certeza se por conta de passar o dia todo conversando com crianças ou se pelas horas de sono perdidas.

Voltando a vaca fria, ou melhor, ao pato gordo, tudo ia muito bem, até que um dia chegou um ganso machão no pedaço. Ele era da altura da Giulia e decidiu que só pão não era suficiente, ele queria comer os dedinhos gorduchinhos da minha filha.

Gansos Selvagens II

Conforme eu me aproximo os gansos adultos param de ciscar e esticam os pescoços ameaçadoramente. E olha que eu estava a uns quatro metros de distância deles.

A Giulia tinha por habito correr atrás dos patos depois que o pão acabava, e adorava vê-los fugindo dela de volta ao lago. Estávamos as duas encantadas com aquele pato enorme e bonitão, mal sabia eu. Quando acabou o pão e a Giulia se preparava para correr atrás dos patos, ele começou a se aproximar esticando o pescoço na direção das mãos dela.

– Vem mais perto da mamãe, vem.

Disse eu já percebendo as más intenções da ave carnívora, mas ele continuou gingando na nossa direção. Eu muito autoconfiante dei uns dois passos na direção dele e gritei:

– Xô!

Mas quem levou um “Xô!” fui eu, o bicho abriu as asas soltou um granido ameaçador e começou a correr na minha direção. Eu taquei o cesto de pão vazio na cabeça dele, peguei a Giulia com um braço só e saí correndo com o pato louco no meu encalço, por pouco não pego o pescoço dele na porta de correr da varanda. Teria sido muito bem feito! Onde já se viu confundir os dedinhos da minha filhota com minhoca!

O que fazer com as coisas que não nos servem mais?

Todo mundo vive esse dilema um dia, alguns por falta de espaço outros porque querem que a energia circule melhor, enfim, há várias maneiras de solucionar o problema. A primeira é não acumular. Em São Paulo provavelmente seria essa a minha solução, pois nos apartamentos de hoje não há lugar pra se acumular nada!

Aqui na Alemanha é diferente: a existência de porão na maioria das casas faz com que a gente acumule, junte, guarde tudo. O que foi pensado para ser um depósito de mantimentos após a guerra acabou se tornando o lugar perfeito para se colecionar e esconder coisas. Todo tipo de coisas.

Pois bem, chegou um momento em que disse “eu preciso me livrar dessas coisas”! E resolvi me inscrever para participar de um bazar na escola evangélica do bairro onde moro, vulgo mercado de pulgas. A idéia era a de não só fazer espaço e diminuir a conteúdo para uma possível mudança de endereço e com isso ainda arrecadar um dinheirinho (aqui o senso de valor do dinheiro tem um outro significado que pra nós, mas isso é outra história), mas também de propiciar ao meu filho um contato mais direto com esses assuntos monetários da vida, afinal ele está aprendendo isso na escola.

E tive uma experiência inédita, após quase 9 anos de Alemanha. Selecionei umas coisas, encaixotei, botei no carro e levei ao local do bazar. Chegando lá, descarreguei o carro e comecei a arrumar minhas “quinquilharias” em cima de uma mesa larga, como as outras pessoas. Recordei meus tempos em que tinha loja, analisando o melhor lugar pra por as mercadorias, como melhor separá-las, dei uma “chupinhada” na concorrência… muito engraçado. Também passei a conhecer outras pessoas do bairro, por exemplo a mãe de um colega do meu filho do futebol que tinha a banca dela em frente a minha…

O bazar ainda não tinha aberto ao público e algumas pessoas ainda estavam arrumando suas bancas quando eu comecei a observar meus arredores. Gente trazendo todo tipo de coisas de criança, algumas quase novas e outras nem tanto, modernas e antigas, e eu olhando aquilo e imaginando como seria a vida daquela pessoa, o que ela teria em casa, coisas desse tipo.

A sensação que tive foi inesperada e desconfortável. A impressão que eu tive é que toda aquela gente estava na minha casa, abrindo meu armário e bisbilhotando em minhas gavetas, coisa que nem a mais despojada anfitriã gostaria. Foi quando começaram a vir os primeiros compradores. Uma negociação aqui, outra ali, e de repente havia tanta gente no salão comprando que por mais de uma hora nem vi o tempo passar.

Depois disso, com mais da metade das coisas vendidas e algum dinheiro no bolso, percebi que idéia de ser “espionada” não me incomodava mais. Os alemães não tem vergonha disso, como nós latinos. Lá havia gente de todas as classes sociais comprando e vendendo seus badulaques, num clima perfeitamente normal. Afinal, por que jogar fora nossas coisas ao invés de repassá-la pra frente, para serem usadas por mais alguns anos? Eu mesma já havia comprado algumas coisas no bazar e nunca me arrependi.

Voltei pra casa com uma sensação muito boa. Eu me diverti fazendo aquilo. E estou pronta e mais afiada para o próximo. Meu porão está longe de estar no nível que eu gostaria…

Meu Primeiro Inverno de Verdade

A gente acha que sabe o que é inverno em São Paulo. Aquela garoa fria e fina que penetra pelas frestas dos casacos e tricôs, o céu cinzento, o apartamento gelado… Tudo isso é muito chato, mas nada que peça um sobre-tudo. Não, caros leitores, São Paulo oferece apenas um friozinho dos trópicos.

Frio mesmo eu passei no meu primeiro inverno aqui em Atlanta. Não porque aqui se tenha um inverno super rigoroso, não, não, já vi piores em terras escandinavas, e também recebo relatos terríveis da Sandra lá na Alemanha. O meu primeiro inverno em Atlanta foi difícil porque eu não estava preparada para ele.

Brincar na neve é uma delícia, desde que se tenha a roupa certa, senão você põe os pés para fora e dali a meia hora corre para dentro todo molhado e gelado até os ossos. Ao invés de garoa fina é gelo que molha toda sua roupa e sapatos. De repente a gente começa a bater os dentes. E nem pensar em luvas de tricô, a não ser que se queira perder os dedos.

Depois do fiasco de chamar minhas filhas para brincar na neve só para ter que chamá-las de volta e colocá-las para tomar um banho quente para degelar, veio o fiasco no shopping. O pessoal aqui é prevenido. Não encontrava em loja alguma os tais macacões de nylon que mais parecem umas tendas gigantes para se brincar na neve, muito menos botas de neve. Não, as botas não são de neve, elas são de material a prova d’água forradas de pele de carneiro ou alguma outra coisa parecida. Achei melhor explicar antes que alguém faça a mesma gracinha do meu marido que se ofereceu várias vezes para fazer uma bota com a neve acumulada no quintal. Enfim, como ia dizendo, tudo esgotado, parei de procurar quando cansei de pagar mico para os vendedores das lojas que riam e diziam: “Agora? Minha senhora, já estamos preparando as vitrines de primavera. Veja se a senhora dá sorte na arara da liquidação,” eles falavam rindo, com gosto. Fala sério! Ainda estávamos no meio de janeiro. Aqui o inverno começa alguns dias antes do Natal e vai até o começo de março. Ainda estávamos no começo do inverno. Como americano compra adiantado!

Mas o pior mesmo foi o show que eu dei para os vizinhos. Só consigo me desculpar porque era muito cedo e acho que meu cérebro ainda não estava funcionando. Aprendi naquele inverno que depois da neve vem o gelo. Ah, o gelo fino e transparente feito cristal que cobre todas as calçadas e ruas, ou branco-sujo se a neve acumula-se o suficiente. Aquilo escorrega mais que quiabo, é pior que sabão, nunca caí mais espetacularmente que naquele dia.

Acordo bem cedinho, assim lá pelas 5:45hs da manhã, num breu de meia-noite. É necessário esclarecer que não sou criatura matutina. Sabe aquelas pessoas que levantam dispostas, dando bom-dia para todo mundo? Não têm nada haver comigo. De manhã cedo sou mais para calada e com cara de perdida. Se estiver num dia ruin então, totalmente ranzinza. Não tenho como negar, há muitas testemhunhas.

Naquela manhã em particular, levantei-me e estava preparando o café quando as minhas filhas, que são animadíssimas logo cedinho, começaram a gritar excitadamente: “Mamãe, está nevando! Venha ver que lindo!” Eu vesti o sobre-tudo, as luvas, o cachecol, a touca e as botas comuns que eu tinha, sem borracha anti-derrapante, abri a porta e disse: “Deixa a mamãe ver como está a temperatura daí vocês saeeeemmmmmm…” Saí escorregando num pé só, tentando me equilibrar sem ter onde segurar. Quando finalmente consegui pôr o outro pé no chão, já estava perto do degrau e caí de bunda. Peço perdão aos leitores mais sensíveis, mas não tenho outra palavra para usar nessa situação, bumbum não faz juz à queda.

Minhas filhas não conseguiam segurar o riso e foram correndo chamar o pai, que ao me ver sentada no degrau da frente da casa debaixo de neve quiz ser gentil e pisou no quiabo branco. Foi tão bonito. O pobre homem ainda estava de pijama e roupão, e com a barba feita pela metade. Eu até que tentei me levantar e ajudá-lo, mas foi em vão, caí de novo, junto com ele. A esta altura minhas filhas já estavam rolando no chão de tanto rir. Meu marido e eu ficamos sentados por um tempo, assim com quem está apreciando a paisagem. Acenamos para um vizinho que saía da garagem com o carro. O homem deve ter pensado que éramos loucos, ou deslumbrados que nunca haviam visto neve, sei lá…

Finalmente nos levantamos com nossas bundas geladas e doloridas, e nos apoiando mutuamente, assim feito bêbados caminhando pela calçada em fim de festa, conseguimos entrar em casa. Mas nossos percalços não haviam terminado. Meu marido precisava caminhar até o carro que havia ficado do lado de fora da casa, pois a garagem ainda estava cheia de caixas de mudança. Enquanto ele se trocava para ir trabalhar eu, muito prestativa, tive a brilhante idéia de tentar derreter o gelo com água quente. E comecei a fazer viagens entre a cozinha e a entrada da casa com canecas de água pelando que eu pegava da torneira. Minha vizinha, canadense é claro, passou na frente da minha casa levando o cachorro para sua caminhada matinal, mesmo embaixo de neve, coisa de gente que nasce muito distante da Linha do Equador, ela ao me ver jogando água sobre o gelo perguntou se eu estava fazendo um rinque de patinação para as crianças.

Claro, a água estava muito quente ao sair do aquecedor, mas a temperatura lá fora naquele dia era de -6ºC e poucos minutos após cair sobre o concreto gelado ela congelava-se espessando ainda mais a camada de sabão escorregadio. Uma beleza!

Depois dessa revelação acenei sorrindo para minha vizinha que seguiu seu caminho segurando a gargalhada, entrei, fechei a porta, e dancei o vira! Eu posso, afinal sou casada com um português.

Carnaval

Hoje estou oficialmente inaugurando o blog (de minha parte) e quero aproveitar pra falar do Carnaval, já que estamos em pleno feriado no Brasil. Sim, no Brasil, porque aqui não é feriado, não! Nem um mísero dia, nem na terça-feira! Foi a primeira coisa que me chocou em se tratando de Carnaval aqui. Só as escolas primárias e secundárias não funcionam, mas os trabalhadores que querem folga têm que tirar o dia de férias!

Na região onde vivo Carnaval é bem tradicional. Os das cidades de Colônia e Mainz são os maiores e mais famosos do Estado, com desfiles (aqui se fala “Umzug”, que quer dizer mudança, como na Bahia) na segunda-feira de carnaval que reúnem uma multidão de foliões vindos de vários outros Estados, dispostos a festejar o dia todo, a noite toda…

No sábado, domingo e terça-feira acontecem os eventos menores, nas vilas e pequenas cidades como a minha, onde as comunidades se organizam e o carnaval acontece com o desfile de vários blocos compostos pela associação desportiva, a escolinha, a juventude católica, o pessoal da velha guarda, etc. Os foliões acompanham um caminhãozinho, um trator, uma perua todo enfeitados e do alto se jogam doces (pipoca, chocolate, por exemplo) para as pessoas que aglomeram-se nas calçadas.

Eu acho muito impressionante o carnaval daqui. Há as associações carnavalescas, que iniciam os trabalhos de preparação no dia 11.11 do ano interior, as pessoas se inscrevem nas mudanças, preparam as fantasias, ensaiam… semelhante, não? O clima de alegria é muito parecido com o nosso. As pessoas aguardam esses dias para extravasar e fazer coisas que só se fazem nesses dias…

E me admiro que saia um carnaval que traz tanta diversão, tanta folia, numa cultura cujo ponto forte não seja sua alegria, descontração e criatividade. Principalmente porque falta uma coisa… um pequeno detalhe chamado MÚSICA. As mudanças a que já assisti eram acompanhadas por um aparelho portátil de som, que tocava a música brega daqui– chamada de Schlager – ou no máximo um bate-estaca da discoteca na tentativa de fazer o povo mexer as “cadeiras” pelo menos pelos poucos metros em que se ouve o som…

A conclusão a que chego é que há certos momentos em que se percebe fortemente a diferença entre o que é falar uma língua e pertencer ou crescer em uma cultura. Por mais que eu me esforce, que conviva com as pessoas, que faça amigos alemães, há um limite entre o que posso usufruir e o que não posso. Carnaval pertence a uma delas.

Claro que acompanho a festa, levo meu filho pra participar e acho até algumas músicas divertidas, mas nunca vou conseguir sentir a emoção de quando vejo o carnaval do Brasil, pela internet que seja. A energia é tão outra e a identidade cultural está mais presente do que normalmente. Ela nunca me deixa esquecer de onde eu vim, qual é minha raiz. E tenho muito orgulho dela. De verdade.

Um bom resto de carnaval para todos!

Beijos

Sandra

Mandioquinha

Nos Estados Unidos não tem mandioquinha! Olha que eu já procurei bastante. Se algum leitor souber onde se pode encontrar mandioquinha por aqui, por favor me diga que eu vou atrás. Mas infelizmente acho que essa dica não vai chegar.

Acontece que mandioquinha é meu legume favorito. Adoro sopa cremosa de mandioquinha, purê de mandioquinha, nhoque de mandioquinha, para encurtar a lista vou concluir dizendo que nunca provei um prato com mandioquinha que eu não gostasse. Daí chego eu em terras gringas e me encanto com os supermercados imensos com longos corredores e prateleiras sem fim. Cada necessidade doméstica uma oportunidade de ir visitar esses templos de consumismo tão bem organizados e surtidos. Até um dia particularmente frio em que eu decidi fazer um creme de mandioquinha.

Que decepção! Não encontrei, e o pior, não conseguia me entender com o funcionário do mercado. “É uma raiz assim como a cenoura, mas amarelinha,” dizia eu, certa que era apenas um problema de vocabulário. Nem passava pela minha cabeça que não existisse mandioquinha nos Estados Unidos. Após demorados minutos de debates o prestativo senhor me entregou um pacote de raízes bem branquinhas chamadas “parsnip” que segundo o google translate em português se diz “cherivia”. Eu nunca ouvi falar. Olhei para aquelas cenouras pálidas apertadinhas no pacote a vácuo em dúvida, mas era aquilo ou nada.

Em casa tentei morder uma pontinha da cenoura anêmica. Que coisa estranha, diferente mesmo. Tem uma textura próxima a da cenoura, porém é mais fibrosa e quase sem sabor, em nada comparável com a minha querida mandioquinha. Fiz um creme de legumes com o que eu tinha disponível naquela noite e no dia seguinte saí novamente à procura da mandioquinha. Fui a uns sete mercados diferentes, é isso mesmo caro leitor, sete, “7”, e nada. Claro que essa maratona só foi possível porque no condado de Broward, próximo a Miami onde eu morava, no auje do trânsito formava-se uma fila de quatro carros no cruzamento. E a cada seis quadras tem um supermercado. Sério, era um sossego.

Voltei para casa vencida. A batalha tinha sido em vão, pensava eu enquanto descarregava o porta-malas do carro lotado de guloseimas americanas e importadas do mundo inteiro e curiosidades domésticas úteis e inúteis.