Quanto desperdício….

O problema do desperdício em geral é o emprego de recursos, caros e escassos, para se produzir bens que não são usados ou consumidos. Além disso lixo é custo, não só ambiental, mas financeiro também: o caminhão do lixo e as pessoas que trabalham para recolhê-lo custam dinheiro aos cofres públicos e aos cidadãos.

Desperdiçar alimentos é uma insanidade, de um lado porque boa parte do planeta ainda não tem uma nutrição adequada ou mesmo acesso à comida. E por outro lado, é um “tiro no pé”, pois se o que compramos no supermercado vai para o lixo, por que compramos?

Jogar alimentos fora é uma insanidade

Especialistas no assunto discutem a “cultura do desperdício” e procuram respostas a perguntas como: como chegamos a isso? como podemos reduzí-lo? Quando, por exemplo, 40% da batata colhida apodrece ou, na melhor das hipóteses, é dada aos porcos ou metade da produção de 20 milhões de toneladas de alimentos é jogada ano após ano no lixo, então algo definitivamente está errado.

A organização para alimentos e agricultura da ONU examinou o fenômeno do desperdício de alimentos globalmente e notou grandes diferenças regionais. Na América do Norte e Europa é onde se joga mais alimentos fora (280 – 300 kg por ano, por habitante), seguidos da Ásia e América Latina. Na região subsaariana e sudoeste da Ásia são apenas 120-170 kilos per capita anualmente.

A Revista Galileu fez a análise da situação no Brasil:  http://www.youtube.com/watch?v=uwXcErXvp1E

O estudo “Save Food”,  feito pela empresa Cofresco (dona da marca “Toppits”) fez algumas descobertas interessantes sobre nossos hábitos no que tange o desperdício de alimentos. Foi identificado o percentual de alimentos que vão para o lixo, de acordo com categoria: frutas e legumes (48%), restos de refeições e produtos prontos (15%), pães (14%), carne, peixe e derivados de leite (11% cada).

E existem diferenças no comportamento dos consumidores de acordo com a faixa etária. Especialmente os grupo de pessoas até 39 anos e com nível de escolaridade alto jogam mais alimentos fora. Quem ganha mais, desperdiça mais. Parece lógico? Ou seria lógico o contrário?

Há quem defenda que hoje as pessoas não têm uma ligação com os alimentos como tinham no passado, tornando o ato de jogar fora comida uma atitude corriqueira. Uma comparação interessante foi feita com a energia elétrica: ela vem da tomada enquanto nossos alimentos vêm do supermercado…

O consumidor subestima o próprio desperdício de alimentos sistematicamente. Os entrevistados no estudo disseram que sabiam que parte do desperdício de alimentos feitos por eles poderia ser evitado se comprassem com mais consciência. Mas a propaganda e promoções nos pontos de venda fazem com que comprem alimentos que nem precisariam… Os pesquisadores estimam que através de um melhor planejamento e acondicionamento das compras em casa cerca de metade do lixo pode ser evitado.

Acredito que seja uma combinação dos dois. Para ajudar a fazer nossa relação com nossos alimentos ficar um pouco mais “humana”, passo algumas dicas minhas e de especialistas de como contribuir para a diminuição do desperdício:

1-    Planeje suas idas ao supermercado. O que e a quantidade do que se compra determina o que e quanto vai ser jogado fora depois… Os lares alemães jogam 21% de tudo o que compram no lixo, o que representa 300 euros e 80 kilos por ano, por cabeça. E o que é pior: quase 1/3 disso nem foi aberto…

Controle o que você põe no carrinho do supermercado!

2-    Alimento vencido não significa alimento estragado. Verifique se ainda pode ser consumido usando seus sentidos: visão, olfato, tato e paladar. Só então descarte.

3-    Utilize os restos de refeições e procure cozinhar em quantidades “porcionáveis”. Congele, por exemplo, os pãezinhos que não vão ser usados no dia (o pão assado congelado fica como fresco depois de descongelado) ou faça torradinhas.

4-    Ensine às crianças a comer o que (elas mesmas) põem no prato, e faça o mesmo!

5-    Consuma sustentavelmente:

  1. compre produtos sazonais e regionais, e em lojas locais
  2. compre mais produtos frescos
  3. coma menos carne, porém de melhor qualidade
  4. use meios de transporte sustentáveis para as compras
  5. reduza ao máximo as idas ao restaurante (eles são grandes fontes de desperdícios)
  6. procure consumir alimentos orgânicos
  7. procure saber como seus alimentos são produzidos e faça escolhas conscientes
  8. tenha eletrodomésticos eficientes
  9. cozinhe economizando energia
  10. use fontes de energia renovável

6-    Procure comprar direto do produtor

7-    Plante para si mesmo, por exemplo temperos, legumes e frutas

Utilize espaços ao seu redor para plantar alimentos

8-    Utilize áreas urbanas para plantação de alimentos

9-    Influencie politicamente através do seu consumo

Hoje começa a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Participe, informe-se, reeduque-se. Sempre é tempo.

Para saber mais sobre o Save Food (link em alemão):

http://www.cofresco.de/de/unternehmen/save-food.html

Para saber mais sobre o desperdício de alimentos no Brasil:

http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/sobrou-no-prato-veja-6-dicas-para-evitar-o-desperdicio-de-comida/

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/conteudo_419178.shtml

 

Feliz Dia dos Pais ao Meu Marido

Presente especial para o papai.

Hoje é dia dos pais aqui nos Estados Unidos. E como o dia dos pais no Brasil é só em agosto, neste dia eu penso somente no meu marido, que é um paizão para as minhas filhas.

Como expatriados, não temos família por perto, se temos uma crise só podemos contar um com o outro, e isso nos aproximou ainda mais. Ser pai e mãe quando não se tem apoio extra, é o exercício mais altruísta que qualquer pessoa pode realizar, e eu tenho sorte de ter o Flavio ao meu lado nessa batalha diária.

Quantas vezes não precisei ligar para ele no escritório em situações de emergência e ele largou tudo e saiu correndo para me ajudar? Inúmeras. Quem é que me levava ao médico durante a gravidez, quando eu, com um barrigão enorme, já não dava conta de dirigir? Ele. Se eu tenho algum problema de saúde, quem segura as pontas da casa? Ele. Se rola alguma emergência com uma das meninas, e eu tenho que sair correndo para levá-la ao médico, quem pega a outra na escola enquanto segue em conferência pelo celular? Ele. Não tem vovó, vovô, empregada ou babá, aqui somos nós que seguramos todas as pontas. E por todos os desafios que já encaramos juntos, eu posso dizer com total convicção, que me casei com um homem maravilhoso, forte, seguro, sério, e presente.

Com um pai desses para minhas filhas, ser mãe fica bem mais fácil, pelo menos quando ele não está viajando, mas esta já é outra estória.

Boas Maneiras São Apreciadas em Qualquer Lugar

Ontem vivi uma situação chata, e hoje, passado o primeiro impacto, guardo comigo a sensação positiva do desfecho.

Fui ao supermercado com minha filha para comprar algumas guloseimas ​​para um chá da tarde. Tínhamos apenas quatro itens do carrinho: uma baguete, uma caixa de blueberries, um pão doce de ricota e um de maçã. Não havia ninguém na fila quando eu coloquei meus artigos sobre a esteira, e a moça do caixa puxou conversa, como de costume.

– Como vai? Está tendo um bom dia?

Eu respondi:

– Sim, obrigado. E você?

Ela sorriu e disse que estava bem. Eu gosto dessas trocas cordiais. Agradeço a atenção, e sempre devolvo a gentileza.

Passei o meu cartão de crédito e comecei a seguir as instruções da tela para pagar a minha compra, quando notei que a moça do caixa olhava preocupada para a minha filha, que havia ficado um pouco para trás, folheando as revistas que eles sempre colocam acima da correia transportadora.

–       Ele foi rude, mas você se portou bem.

A caixa disse à minha filha.

Quando eu terminei de pagar e olhei para minha filha, seus olhos estavam marejados.

–       O que houve filha?

Eu perguntei preocupada.

–       Aquele homem atrás de mim bateu a barra de separação no balcão e gritou comigo. Porque ele queria colocar suas coisas na esteira e eu estava no caminho, folheando uma revista.

Eu achei a estória tão improvável que pensei ser exagero de adolescente, mas olhei para a moça do caixa, que confirmou com a cabeça. No tempo que eu levei para pagar a minha pequena compra, com certeza menos de dois minutos, um homem de cabelos brancos, ou seja, pela maturidade aparente já deveria ter aprendido a ser educado, conseguiu fazer minha filha chorar.

–       Você disse algo a ele?

–       Eu não disse nada não, mãe, vamos embora por favor.

–       Mas eu não ouvi nenhum grito?

–       É que ele chegou bem perto do meu ouvido para falar. E eu levei um susto mãe, está tudo bem, eu só quero ir embora.

Ela me respondeu enquanto secava um lágrima teimosa.

Não à rudeza!

O fulano se aproximou de uma criança lendo distraída, para dispensar grosseria, porque não podia esperar um minuto sequer para começar a descarregar o carrinho.

Aquela foi a gota d’água, eu cruzei os braços e olhei para o homem ostentando a minha melhor expressão de “não mexa com a minha filha”. Olhei para o meu relógio, e comecei a contar um minuto encarando o indivíduo. A moça do caixa imediatamente seguiu minha liderança, cruzou os braços e se pôs a encará-lo também, com um olhar tipo: “O que um velho como você, pensa que está fazendo ao tratar uma criança assim?”

Ele baixou os olhos imediatamente e não se atreveu a tirá-los do chão durante todo o minuto que marquei no relógio. Dei uma última medida de cima abaixo na figura, peguei a mão da minha filha e sai andando como se nada tivesse acontecido.

Aquela moça do caixa foi gentilíssima e atenta. Enquanto eu estava distraída pagando a conta ela ficou de olho na minha filha e a apoiou. Foi questão de segundos, mas jamais esquecerei a solidariedade daquela mulher naquele momento.

Boa educação abre portas, grosserias fecham!

E com relação aos gritões, e outros rudes que estão sempre impacientes querendo atropelar os outros, por favor peguem leve, ao contrário do que se diz, o mundo não foi feito em sete dias.

Boas maneiras são importantes em qualquer lugar do mundo, ser gentil e bem educado abre portas, grosserias fecham.

 

Somente leis conseguem igualdade de direitos?

Realidade em outros países da Europa (França, Bélgica, Holanda e Itália desde 2011 e Espanha desde 2007), a discussão em torno da introdução de cotas para mulheres nos conselhos de administração e posições de liderança chegou com força aqui na Alemanha.

Emancipação só se consegue com leis?

A cidade-estado de Hamburgo está propondo um projeto de lei que obriga empresas a terem 40% de mulheres em conselhos de administração das empresas negociadas em bolsa. Há um complemento de projeto que quer que o sistema de quotas seja estendido também ao comando executivo das empresas. Atualmente o percentual é de quase 18%.

A chanceler Angela Merkel é a favor de uma “cota flexível”, em que empresas se declarem favoráveis à causa e cada uma implemente por si. O que não se entende é porque não pode haver uma mistura das duas: cota obrigatória nos conselhos e cargos executivos e flexível nos demais cargos de liderança?

A discriminação por parte dos homens, controle do Estado, violação do princípio da premiação por resultados são os principais argumentos dos que são contra à quota. Muitas mulheres não estão igualmente de acordo, pois querem ser contratadas e promovidas pelas sua capacidade. Uma posição compreensível, mas errada, afirmam alguns especialistas. A história da emancipação ensina que, sem leis concretas e ofensivas não há progresso nessa área. Como exemplo tem-se a reforma na lei do divórcio de 1977 e a lei da custódia de crianças, que só então garantiram os direitos  das mulheres nos casos de separação.

A adesão de “livre e espontânea vontade” das empresas não trouxeram progressos significativos e a introdução de cotas é a única maneira de quebrar a “cota dos homens”, diz um artigo do Süddeutsche Zeitung, uma vez que esse tratamento igual é dado numa base desigual devido a situação familiar de mulheres, ou seja, elas ainda têm outras obrigações familiares que os homens não têm. “Não adianta as mulheres poderem tudo na teoria, elas precisam poder também na prática”.

O impacto nos conselhos e na direção das empresas será grande. Mas não só lá. O aumento da participação feminina deverá alterar também a politica de pessoal nas companhias: mulheres irão estimular o desenvolvimento profissional de outras mulheres. Elas poderão modificar as culturas corporativas de maneira positiva, como na Noruega, que desde 2008 também já conta com a quota nos conselhos de administração, diz a matéria.

Mais mulheres em cargos executivos implica mudanças no ambiente corporativo

“É inaceitável que mais de 40% dos formandos em cursos superiores são mulheres, que em parte têm aproveitamento acadêmico melhor do que dos homens, e ao final da carreira isso se dilui. A Alemanha não pode se dar ao luxo de perder essa preciosa força de trabalho.”, diz a presidente da organização das empresárias alemãs a um jornal.

A União Europeia está querendo ir pelo mesmo caminho: até 2020 deve haver pelo menos 40% de mulheres nos conselhos de administração das corporações na Europa. No verão deverá ser feita a sugestão pela Comissária de Justiça, seguidos de 3 meses de discussão aberta, o que deve acabar em maio de 2013. A decisão foi tomada porque, ao seu ver, as intenções trouxeram poucos resultados práticos.

Mas o que acontecerá então com os homens? O jornal FAZ publicou um artigo em que é colocado que os homens entre 30 e 45 anos estão ameaçados de verem suas promoções virarem fumaça, pois não há tantos cargos de direção assim disponíveis para absorver tantos homens preparados…. Os tempos estão difíceis, e a previsão é de que vai ficar pior. Se as quotas realmente forem aplicadas, quase nenhum homem será promovido a alta gerência nos próximos 5 anos. Dois degraus antes da diretoria executiva existem normalmente 85 a 90% de homens brigando por uma vaga.

Abertamente, quase nenhum homem reclama. Quem quer ser taxado de tirar os direitos das mulheres? Eles então se fecham, enterram seus planos de carreira, perdem a motivação. Especialistas prevêm resignação, medo e cinismo dos homens no ambiente de trabalho como o próximo grande problema. Na Deutsche Telekom, por exemplo, onde foi determinado uma cota que 30% para mulheres, um funcionário disse que dois fatores contam para uma promoção na empresa: tempo de casa e sexo. E ele é homem….

Há, entretanto, outros meios de se fazer crescer a participação de mulheres nos cargos de direção: estender a oferta de instituições de assistência a crianças é fundamental, dedução no imposto de renda dos custos com o cuidado e assistência aos pequenos, aumento de oferta de trabalhos em período parcial e flexibilização do local de trabalho dos homens estimulam o pai E a mãe a irem ao trabalho.

Complementando, há algum tempo li sobre a forma que as mulheres encaram o trabalho. A reportagem citava o exemplo de mulheres que desistiram de suas carreiras corporativas por não se sentirem compensadas pelo tempo que passam longe de seus filhos e buscavam ocupações alternativas que incorporassem a nova situação familiar. Também foi citado o “jogo de poder” que existe em muitas empresas nos altos cargos executivos e que muitas mulheres se negam a jogá-lo.

Por outro lado foi mencionado que a maioria de homens faz muitas vezes o ambiente corporativo ser competitivo e “masculino” demais para muitas e que nós precisamos aprender a se impor nesse ambiente, não só em termos de apresentação pessoal, mas também na forma de comunicação.

Mas será? E será que a adoção de cotas pode aumentar a pressão para que se resolvam os outros problemas que impedem as mulheres de subirem na carreira ou é simplesmente uma lei que faltava? Ou vai causar mais problemas do que soluções? Que alguma coisa precisa mudar no sistema, precisa.

Leia também:

Executivos brasileiros não querem cotas para mulheres nos conselhos administrativos.

Quotas for Women

 

 

Copos Gigantes de Refrigerante Banidos da Cidade de Nova York

Um projeto de lei na cidade de Nova York está gerando bastante polemica aqui nos Estados Unidos. O prefeito da cidade, Michael Bloomberg, acaba de conseguir aprovar uma proposta para um processo experimental de três meses, que bane copos que comportam mais que dezesseis onças (16 oz) – o equivalente a 473ml, quase meio litro, de serem servidos nos restaurantes, bares, lanchonetes, lojas de conveniencia ou barraquinhas de rua da cidade. http://www.cnn.com/2012/06/12/justice/new-york-soda-ban/index.html

Copinho discreto de refrigerante facilmente encontrado nos Estados Unidos. Haja sede!

Um copo de meio litro de Coca-Cola me parece imenso, mas aqui a maioria das cadeias de lanchonetes tipo fast-food como McDonalds, e vários restaurantes, oferecem copos que comportam até quarenta e duas onças (42 oz), ou seja 1,250 litros, como porção individual de refrigerante, refresco ou cerveja.

Não foi sempre assim, as porções foram aumentando sistematicamente no país nos últimos quarenta anos. Na década de cinquenta as porções americanas eram equivalentes as porções brasileiras. Conforme mostra o gráfico no artigo do Huffington Post, The New (Ab)Normal Portion Sizes: Today x In The 50s http://www.huffingtonpost.com/2012/05/23/portion-sizes-infographic_n_1539804.html

Este prato do Cheese Cake Factory chama-se Chicken Bellagio, e é uma delícia. Mas como você pode ver é enorme, uma porção generosa de espaguete ao pesto, dois filés de frango a milaneza, prosciutto, e rucula. Eu dividi esta travessa com minhas filhas e todas comemos muito bem. Detalhe, esta é considerada uma porção individual.

Quando eu mudei para os Estados Unidos paguei vários micos até aprender a escolher o que pedir quando saia para comer. As porções consideradas individuais aqui são ridiculamente grandes, como vocês podem ver na foto ao lado, e eu aprendi a fazer uma coisa que não pega bem no Brasil, mas é perfeitamente aceitável aqui. Eu trago o que sobra de comida para casa. A não ser em restaurantes ultra sofisticados, que eu frequento esporadicamente, e que costumam ter porções mais razoáveis, a não ser os de menu fixo como o Per Se em Nova York, a grande maioria dos restaurantes aqui embalam o que não foi consumido para levarmos para casa. Na verdade eles estão tão habituados a isto que ao final da refeição, quando eles não perguntam se você quer caixinhas para embalar sua própria comida, eles mesmos embalam, e te trazem a sacolinha com o logo do restaurante cheia de caixinhas, com todas as sobras da sua refeição, junto com a conta. Na verdade, se você deixa bastante comida no prato e diz que não vai levar para casa, eles perguntam se há algum problema com a comida. Eu estou tão acostumada ao sistema que hoje em dia pego minha sacolinha e saio andando numa boa, no dia seguinte o almoço está garantido, nada de desperdício.

Esta fatia de bolo é gigante. Compartilhei este delicioso "Chocolate Fudge Cake", novamente do Cheese Cake Factory, com minhas duas filhas, de nove e treze anos que adoram doces, e ainda deixamos um quarto do bolo e do chantili no prato. E eu não quiz trazer o que sobrou para casa, o garçon ficou surpreso.

Outra coisa que eu também faço que já não é tão comum, surpreendentemente, é pedir um prato para compartilhar com as minhas filhas ou meu marido. As vezes pedimos apenas dois pratos e dividimos entre os quatro. Já causamos surpresa a vários garçons com esta prática.

No entanto uma grande parte da clientela realmente consome estas porções gigantescas em uma refeição. O que me faz compreender a iniciativa do prefeito de Nova York. O que ele diz é que não está proibindo ninguém de consumir quanta bebida açucarada quiser, mas que as pessoas terão que pedir mais copos para beberem 1.2 litros de Fanta, e quem sabe assim elas se conscientizarão da quantia que estão consumindo.

É claro que a Coca-Cola está em campanha contra a medida, e vários jornalistas estão dizendo que ela é contra a liberdade de escolha de cada um, quem não quiser beber tanto que não peça o maior copo, mas eu acho que ele está tocando num ponto real. Este copos gigantes viraram o padrão para muitos, que perderam a sensibilidade para o quanto estão consumindo.

A primeira vez que entrei num Starbucks levei vários sustos, primeiro eles servem café em copos e não xícaras, e o menor copo de café que eles servem chama-se tall – alto em inglês, e contém doze onças (12oz – 355ml) de café, ou qualquer das misturas que eles oferecem.  O menor café que eles oferecem é o short (8oz – 236ml), que não está no menu. Você precisa saber que existe para pedir, e eu não sabia. Joguei muito café fora até descobrir o short, e mesmo assim só vou ao Starbucks se tenho alguém com quem dividir um café. Ah, e eles só fazem bebidas quentes no tamanho short. Os cafés gelados, tipo frappés, são oferecidos somente de tall para cima, e vem com uma tampa redonda quase da altura do copo para conter o chantili, são bonitos de se ver. As outras porções oferecidas no Starbucks são: grande (16oz – 470ml), venti (20oz – 590ml), iced venty – venti com gelo (24oz – 710ml), e o espetacular trenta, tamanho exclusivo para cafés gelados (32oz – 946ml). Para colocar toda essa informação em perspectiva basta sabermos que a capacidade média do estomago humano é de 900ml como demonstra a ilustração no link do National Post: http://news.nationalpost.com/2011/01/17/graphic-how-big-exactly-is-starbucks-new-trenta-size/

O Starbucks passou a oferecer o tamanho trenta em 2011 para concorrer com lojas de conveniencia que oferecem copos de bebidas geladas entre 950ml a até o extraordinário volume de 1,9L. É realmente de impressionar.

Outra coisa que me espanta aqui são os baldes de pipocas vendidos nos cinemas, que vem, claro, com um gigantesco copo de refrigerantes. Até a porção infantil é enorme. Quando minhas filhas querem pipocas eu compro uma porção infantil para a família toda.

Baldinho de Pipoca

Num país onde mais de um terço da população é obesa (não fofinha, OBESA MESMO) – para detalhes cheque o link do Centers for Desease Control and Prevention (Centros para a Prevenção e Controle de Doenças) http://www.cdc.gov/obesity/data/adult.html, talvez Michael Bloomberg esteja no caminho certo.

Spätzle

Atendendo a pedidos, hoje vou ensinar como se prepara o Spätzle (lê-se xpetsle, no português) ou Spätzel.

É uma massa usada principalmente no sul da Alemanha, Alsácia, Áustria e Suíça e é feita a partir de batata, ovos, farinha e sal. Eu costumo dizer que é o “nhoque” do alemão. Tradicionalmente é acompanhamento para pratos de carne que têm bastante molho, como o picadinho ou o strogonoff. A minha preferida e que faço em casa, no entanto, é o chamado “Käsespätzle” – o Spätzle com queijo, típico do sul da Alemanha.

O Spätzel com queijo e cebola frita é um dos pratos favoritos aqui em casa e muito fácil de fazer

Receita para 6 porções:

300 g de batatas para purê cozidas de véspera e espremidas no espremedor de batatas (como se fosse para purê)

6 ovos

300 g de farinha de trigo

1 colher de sopa de sal

nós moscada ralada

Junte todos os ingredientes e forme uma massa. Coloque uma panela grande com água salgada para ferver. “Rasgue” tiras da massa grudenta com uma faca ou mesmo com os dedos e coloque-as diretamente na água fervente, porém com o fogo mais baixo. Espere as tiras voltarem à superfície. Remova-as com uma escumadeira e deixe-as secar. Fazer esse procedimento com o restante.

Quem mora na Alemanha tem duas opções extras para facilitar o trabalho: comprar um utensílio chamado espremedor de Spätzle (é uma espécie de prato de metal com furos grandes para fazer a massa cair direto na água) ou comprar o produto pronto em qualquer supermercado…. 🙂

Para o preparo de 3-4 porções de Spätzle com queijo necessita-se:

500 g da massa Spätzle

1 colher de sopa de manteiga

150-200 g de queijo emental ralado (quanto mais queijo, mais “colante” fica)

cerca de 200 g de creme de leite fresco (o Sahne da Alemanha, quanto mais creme de leite, mais cremoso fica o molho)

salsinha

cebola frita (Röstzwiebel, que é inclusive originária da Dinamarca!)

Preparo:

Numa frigideira ou caçarola baixa derreta a manteiga. Coloque o Spätzle para refogar. Em seguida adicione o creme de leite, quando estiver bem quente adicione o queijo e mexa bem. A idéia é que fique um creme de queijo. Quando chegar a esse ponto, desligue o fogo e tempere com a salsinha e a cebola. Sirva em seguida.

Há uma variação que provei recentemente com presunto defumado refogado na manteiga e queijo gratinado por cima, ao invés de ser colocado na frigideira.

Há dois restaurantes que preparam esse prato de maneiras distintas, igualmente deliciosas, e que indico de olhos fechados:

– Restaurante Fass, em Bad Dürkheim: http://www.duerkheimer-fass.de/

– Restaurante Domhof, em Speyer: http://www.domhof.de/

Hummmm, bom apetite!

Curiosidades Linguísticas

Aquele hidratante Sarna do meu post anterior, é apenas um exemplo das surpresas que aguardam viajantes, mas mais divertidas ainda são as descobertas que fazemos quando nos aventuramos a aprender outros idiomas.

Cuidado com as palavras, as vezes elas podem te colocar num rolo danado.

Eu aprendi inglês quando criança, e não existem muitos paralelos entre este idioma e o português. Porém a maneira de se escrever, e dizer, certas palavras podem levar a grandes apertos. Veja caro(a) leitor(a) algumas palavras em inglês soam exatamente iguais, mas tem significados diferentes, constrangedoramente diferentes, como “beach” de praia, e “bitch” que quer dizer cadela, literalmente, os veterinários usam essa palavra livremente para se referirem as fêmeas dos cachorros. Porém na gíria popular usa-se “bitch” como no Brasil usamos pejorativamente a palavra vaca, que aqui não quer dizer nada, se você chamar alguém de “cow” (vaca em inglês) o pessoal vai te olhar como se você fosse um completo desconectado. O que é que tem a vaca?

Estas palavras em inglês chamam-se “homophones”, dizemos homófonos em português. Homófono é a junção de duas palavras gregas: “homo” – mesmo, com “phonos” – som, daí temos “mesmo som”. Pois bem estas são palavras com grafias distintas, significados distintos, mas com enunciação quase igual, algumas vezes idêntica. Em português também temos homófonos, que podem até constranger, como quando se diz brocha – um tipo de prego, ou broxa – pincel, ou broxa, ah, deixa para lá, vocês me compreenderam.

Enfim, “I’m two tired too talk about it for to long.” 😉

Mas voltando ao ponto das curiosidades linguísticas, o espanhol oferece grandes momentos cômicos pelos paralelos que tem com o português, através de palavras com grafia idêntica, som idêntico, e significados completamente diferentes. Ou pior ainda, palavras que são ditas da mesma maneira, mas uma significa o oposto da outra. Quando eu morava em Miami, onde se fala mais espanhol que inglês, muitas vezes os convidados se despediam dizendo que o jantar estava “esquisitíssimo!”. Da primeira vez arregalei os olhos com espanto, mas daí aprendi que em espanhol este é um tremendo elogio.

Uma das melhores estórias que eu conheço para ilustrar a relação perigosa português/espanhol aconteceu com meu marido. Ele estava no aeroporto de Montevideo no Uruguai quando ouviu uma jovem que passava comentar com a amiga:

–       Mira aquel hombre pelado, que saco lindo!

Homem pelado no meio de um aeroporto internacional já é pouco provável, agora saco lindo é completamente impossível!

Vou deixar esta para meus queridos(as) leitores(as) destrincharem.

Geração perdida

Há alguns dias li uma notícia que me preocupou muito: a geração dos jovens europeus de hoje foi chamada de “geração perdida”. Esse termo foi associado principalmente aos jovens espanhóis, mas também a outros da Comunidade Europeia. Hoje 46% dos jovens abaixo dos 25 anos na Espanha está desempregado. O responsável por um estudo recente concluído para as Nações Unidas sobre desemprego entre jovens, vê com preocupação o futuro deles: a geração de hoje perdeu seus empregos e não os vão ter de volta nos próximos 4 a 5 anos. Isso significa que esses trabalhadores perderão sua empregabilidade.

Ministro da Economia espanhol, durante uma conferencia em Madri

O governo espanhol anunciou uma série de medidas para diminuir os gastos públicos e flexibilizar o mercado de trabalho, além de aumento de impostos sobre o consumo e renda. A reforma do mercado de trabalho inclui um bônus para empresas que empreguem jovens e trabalhadores mais “maduros”. Detalhe: se estes forem mulheres, o premio é maior.

A Organização Mundial do Trabalho alerta porém os governos da região contra a possibilidade de “inquietude social”, caso os programas de ajuste não sejam combinados com medidas que resultem em aumento de oferta de empregos, o que causaria uma nova recessão no continente. E isso em plena Europa!

Jovens espanhóis protentando conta as reformas econômicas

Jovens das maiores cidades espanholas, como Madrid e Barcelona, foram às ruas protestar agora em maio. Há que se mencionar o motivo pelo qual os protestos ainda não escalaram. Especialistas apontam que os jovens não têm um partido com o qual se identificam, como o Partido Verde ou Pirata na Alemanha. Além disso, os mais atingidos pela crise é a pacífica classe média. Esse pacifismo é uma consequência da cruel guerra civil espanhola.

Um terço dos espanhóis entre 25 e 34 anos ainda moram com os pais (na Alemanha são 14%), o que significa que eles têm abrigo, mas nenhuma perspectiva. O que falta seria somente uma faísca para que haja uma explosão, afirmam sociólogos.

Uma pesquisa de opinião do instituto americano Pew Research com mais de 9000 pessoas nos Estados Unidos e 8 países europeus, entre eles a Espanha, concluiu que a Alemanha é ainda a nação europeia mais admirada e os seus dirigentes são os mais respeitados.

A dificuldade de arranjar trabalho está provocando uma onda de emigração sem precedentes, principalmente entre os acadêmicos. A Alemanha recebeu no ano passado 52% mais espanhóis e o Instituto Goethe teve na Espanha 60% mais matrículas em seus cursos de alemão do que em 2010. Fazia muito tempo que não ouvia a palavra “êxodo”. É o que está acontecendo.

Muitos dos que emigram conseguem trabalho, porem aquém de suas qualificações (a barreira da língua atrapalha). Como não têm perspectivas em seu próprio país, eles vão ficando na esperança de melhores dias. Uma história que ainda vai mudar muita coisa por aqui.