Meu Primeiro Dia de Ação de Graças “Americano”

Apesar de eu ter mudado com meu marido para os Estados Unidos em Dezembro de 1997, durante nossos primeiros seis anos no país vivemos na Flórida, onde a maioria dos amigos que fizemos eram latinos. Portanto, nossos Dias de Ação de Graças eram passados entre mexicanos, cubanos, porto-riquenhos, etc., numa mistura de culturas e tradições familiares diversas. Sim, era servido peru assado, mas com sabor de América Latina. E os acompanhamentos variavam de “guacamole” e “feijões refritos” a “torta de choclo” e “plátanos”. E como todo latino é exagerado, não ficávamos só no peru, não, alguém trazia um pernil assado, e sempre havia “arroz com pollo” e umas “papas rellenas”. Somente quando nos mudamos para Atlanta em 2006, foi que eu participei do meu primeiro jantar de Thanksgiving tradicional americano.

Na mudança para Atlanta contamos com o apoio de um velho amigo do Flavio, que muito gentilmente, nos preparou uma pasta com informações sobre a região onde moramos. E assim que chegamos ele e sua mulher nos convidaram para um brunch em sua casa. Quando chegamos fiquei encantada com o capricho da nossa anfitriã, estava tudo tão lindo. Já havia frutas, em camadas com iogurte e cereais, servidas em taças de cristal sobre a mesa, que ela havia decorado com toalha bordada, porcelana fina e talheres de prata.

A minha filha mais velha tinha sete anos e a pequena apenas três. Você acha que eu consegui relaxar para desfrutar daquilo tudo? Claro que não. Eu fiquei em cima delas durante toda a visita, pois como o casal já tinha os filhos adultos, e nenhum neto ainda, além da mesa elegantemente servida, toda casa era muito bem decorada com lindos objetos sobre todas as mesinhas de centro e canto. Lembro de passar boa parte do tempo caminhando atrás da pequena, enquanto mantinha o ouvido na minha mocinha que conversava animada com a anfitriã, mas no fim tudo deu certo, ambas portaram-se bem, e eu voltei para casa aliviada.

Retribuímos o brunch com um jantar simples, porque nossa mudança foi entregue pela metade, e o segundo container só chegaria em três meses, pois havia sido enviado para a China por engano. Eu conto essa estória em outro artigo. No momento basta dizer que eu retribui um café da manhã servido em porcelana e cristal, com um jantar servido em descartáveis, porque meu marido insistiu que não podíamos deixar passar muito tempo sem retribuir a gentileza deles. Em minha defesa, preciso salientar que fiz o que pude. O importante é que durante o jantar aqui em casa, nós fomos convidados para o jantar de “Thanksgiving” na casa deles. E eles perguntaram para a minha mocinha se ela gostava de peru. E a fofa disse:

– I love turkey. Eu amo peru.

Assim mesmo, nos dois idiomas, bem enfática.

Pelo cuidado que eles tiveram quando serviram o brunch, imaginei como seria o jantar de Thanksgiving na casa deles, e mesmo assim me surpreendi. A decoração da casa havia sido incrementada com detalhes outonais, e móveis tinham sido remanejados para acomodar uma mesa gigante em forma de T que ocupava todo o espaço da ampla sala de jantar. E a família inteira deles estava presente, todos muito simpáticos, e adultos, nenhuma outra criança além das minhas meninas. Ninguém para nos solidarizarmos nos momentos embaraçosos.

A primeira coisa que nossa anfitriã disse após as apresentações de praxe foi:

– A Giulia adora peru. Venha Giulia, vou te mostrar seu prato favorito.

E lá estava, sobre a ilha da cozinha, o peru assado, pronto para ser servido.

A fofa não decepcionou, passou as mãozinhas sobre a barriguinha, fez carinha de entusiasmo e disse:

-Estou morrendo de fome.

Aguardamos a chegada de um casal de sobrinhos e então nos pusemos a transportar travessas de acompanhamentos típicos à mesa, purê de batatas e batatas doces assadas, gravy, legumes sauté, geleia de cranberry, cestos de pães, e o famoso peru. Quando fomos nos sentar, descobrimos que haviam nos dado a base do T, com dois banco altos para as meninas na ponta, o Flavio e eu, um de cada lado delas, tudo muito prático e bem pensado para cuidarmos das pimpolhas. Nessa disposição, a Giulia ficou bem de frente para o casal que sentou-se no meio da mesa do lado oposto de onde estávamos.

Nosso anfitrião levantou-se, destrinchou o peru e todos começamos a passar os pratos de mão em mão servindo o que estivesse a nossa frente na maior animação, tipo jantar em família, até que todos tivéssemos um pouco de tudo a nossa frente. Foi feita uma oração em agradecimento as nossas bençãos e começamos a comer. A Giulia atacou o purê de batatas com entusiasmo, e num destes momentos mágicos, onde várias coisas acontecem ao mesmo tempo, e precisamente quando não deveriam, a mesa ficou em silencio com todos mastigando, ela provou o peru, e nossa anfitriã perguntou em voz alta para ser ouvida desde o outro lado da mesa:

– Você está gostando da comida Giulia?

E ela respondeu igualmente em voz alta, praticamente gritando:

– O purê está bom, mas eu não gostei do peru não, eu prefiro o da minha mãe.

Geleia de Cranberry

Caro leitor(a), acho que fiquei da cor da geleia de cranberry.

Um Primeiro Dia da Escola memorável

Há duas semanas começou o ano letivo no Estado onde moro. Esse início de aulas me fez querer compartilhar com meu(s) leitor(es) minha experiência de início das aulas no ano passado, quando meu filho foi para o 1o. ano da escola.

Da minha infância lembro-me que estava de uniforme novo, todo arrumadinho e limpinho, mochila nova, cabelo penteado e, ao sair de casa, minha mãe tirou uma fotografia. E só. E talvez me lembre porque vi a fotografia tempos depois! Eu fui para a escola não lembro como, ela foi trabalhar e meu pai já estava no trabalho como qualquer outra segunda-feira.

Aqui a passagem da pré para a escola primária (ou ensino fundamental, como se chama hoje no Brasil) é bem diferente. As crianças que irão para a escola entram num programa especial do Kindergarten (creche) que as prepara para a vida escolar. Uma série de atividades internas e passeios são programados, inclusive um pernoite de despedida no Kindergarten!

Além disso, entram no programa a visita na nova escola. Na matrícula a criança está presente. Há também uma avaliação psicológica e pedagógica na creche e uma outra de saúde feita por um pediatra especializado. Não passa nada despercebido!

Outra sensação é a mochila escolar. Como tudo aqui, tem que ser aprovada pelos órgãos de proteção ao consumidor, obedecer a critérios técnicos e de ergonomia e ainda ser capaz de resistir por 4 anos chuva, barro, neve, chutes, peso e todo tipo de agressão que se possa imaginar. E ainda, se possível, passar para o irmão mais novo! Conclusão: nunca achei que fosse gastar tanto com uma mochila da escola!

E então, tendo sido aprovada em todos os testes, comprado a mochila e a matrícula confirmada pela escola, chega o grande dia! O dia da iniciação escolar!

É um dia tão especial que nem acontece na segunda-feira, mas na terça-feira.

Logo de manhã as crianças ganham um cone fechado em cima (às vezes uma de cada membro da família) cheia de doces, brinquedos e, claro, algumas coisinhas mais educativas, como livrinhos, canetinhas, etc). Essa história do cone eu incorporei, pois desde que moro aqui vejo-as por todo o comércio nessa época do ano. Mas mãe que é mãe (e prendada) confecciona-o manualmente! Não cheguei a tanto, por sorte o Gabriel escolheu uma de dinossauro, prontinha… ufa!

Então todos se reúnem na igreja para um culto ecumênico com os iniciantes e seus familiares. Em seguida todos seguem para a escola, onde são recebidas com uma festa  organizada pela diretoria, corpo docente e as crianças da 2a. série. Após a recepção, cada uma encontra sua professora e são encaminhadas junto com os colegas para a sala de aula.

Beleza, pensei, eu vou acompanhar isso tudo! E os avós também!

Aí é que tomei um choque! No que chego na igreja, percebo que os outros alunos estavam com TODA a família presente. Aí descobri que o pai também tira o dia de férias para acompanhar o rebento no primeiro dia da escola. Aí vem os tios, padrinhos, avós, irmãos, amigos mais próximos da família, cachorro (no Brasil incluiria-se o  papagaio, galinha, porco, etc).

Nós nem pensamos nisso! E é uma coisa tão “óbvia” para eles que nem se comentou em conversas. É subentendido… Coitado do meu filhinho… o único “sem pai” no primeiro dia da escola… Se já não tivesse acostumada com a ausência dos membros da família em outras ocasiões, isso seria uma tragédia mesmo. Ainda bem que os avós estavam lá!

Passado o alvoroço todo, as famílias alemãs se reúnem mais uma vez no dia para uma festa particular. Pode ser um churrasco ou uma janta especial no fim do dia. Pra fechar com chave de ouro! Parece batizado… Nós fomos para o grande M amarelo comemorar. Para o pequeno foi realmente uma festa levar sua família para lá.

Mas será que a vida escolar é tão ruim assim pra ser vendida tão “cara” às crianças? Ou elas precisam desse ritual para sentirem que alguma coisa muito importante está acontecendo?

De qualquer forma, essa iniciação escolar ficou em nossas memórias como um momento muito mais especial do que imaginávamos!

Medicamentos Genéricos no Brasil

Medicamentos Genéricos - São Seguros?

Passei um sufoco danado em minha última visita ao Brasil. Minha filha levou várias picadas de borrachudo em nossa estada no litoral norte de São Paulo. Até aí toda a nossa família levou, mas ela coçou e coçou as picadas, até que essas se inflamaram e acabaram infeccionadas.

A pediatra prescreveu uma série de medicamentos para tratar as feridas, incluindo um antibiótico. Como estamos acostumados a comprar medicamentos genéricos nos Estados Unidos, nem questionamos quando nos deram o remédio genérico na farmácia, simplesmente pagamos e pronto.

Iniciamos o tratamento na maior tranquilidade, as feridas eram feiosas mas localizadas, ela não tinha nem dor nem febre, e a pediatra nos disse que em quarenta e oito horas deveríamos ver sinais de melhora.

Na manhã do terceiro dia após o inicio do tratamento, ou seja, passadas quarenta e oito horas, minha filha amanheceu com os pés inchados e doloridos. Estavam muito feios, levei o maior susto. Fomos ao pronto-socorro onde recebemos a noticia que a infecção havia atingido a camada subcutânea e que ela deveria ser internada imediatamente para receber medicação intravenosa, pois o antibiótico que ela estava tomando via oral não havia feito um bom trabalho.

– Mas este não é o medicamento indicado?

Perguntei eu ao pediatra do hospital mostrando a caixa do antibiótico.

– Ah, você comprou genérico.

Me respondeu o médico naquele tom de quem acaba de desvendar um quebra-cabeças. Ele me explicou que infelizmente nem todos os genéricos brasileiros seguem padrões de qualidade de “primeiro mundo”. Apesar do Brasil ser um grande exportador de medicamentos genéricos, somente países subdesenvolvidos e em desenvolvimento compram. Nem a Europa nem os Estados Unidos compram genéricos brasileiros por questões de baixo controle de qualidade.

Ou seja, se eu tivesse comprado o medicamento de referência, que é como se chamam os remédios da marca oficial, teríamos evitado uma estada de quatro dias no hospital, e muito nervoso.

Pesquisa feita pela Asspociação de Consumidores Proteste (clique no link e veja documento completo – Pesquisa Genéricos v3.1) demonstra que um percentual respeitável de médicos tem restrições ao uso de medicamentos genéricos no Brasil, conforme demonstra a análise publicada no site do CFR-ES – Conselho Regional de Farmácia do Espirito Santo, baseada no estudo.

Aparentemente alguns laboratórios oferecem controles de qualidade superiores, portanto se for optar por medicamento genérico no Brasil, converse com seu médico, pergunte se o remédio receitado tem genérico de qualidade, e que laboratório ele recomenda.

 

O que um descuido é capaz de causar….

Essa história se passou em um dia quente e ensolarado de agosto do ano de 2004, o mês em que tudo que há de bom na face da Terra se encontra: verão e férias!! Eu havia estado por meses em uma escola de línguas, já conseguia pedir bem mais que água na padaria…

Na época eu morava num apartamento funcional da empresa onde meu marido trabalhava. Um apartamento até que bom, mas simples em seu mobiliário e acessórios. O prédio tinha uns 10 andares e elevador (coisa rara por aqui) e haviam 3 apartamentos por andar.

Pois bem, nesse dia inusitado, meus pais desembarcariam em Frankfurt para uma estada de 4 semanas em minha residência. Eu estava bem ansiosa e feliz pela chegada deles. Queria deixar tudo ajeitadinho, arrumadinho… sabe como é?

Fui levar meu marido em seu local de trabalho e voltei com nosso carro, para eu poder ir ao aeroporto buscá-los. Ao retornar dessa pequena viagem, entrei em casa, coloquei a bolsa em cima do aparador junto à porta e lembrei do lixo.

(Naquele prédio colocava-se o lixo num latão na saída de serviço comum, como no apartamento em que morava em São Paulo)

Entrei e, como disse, coloquei a bolsa de lado – para não atrapalhar – e fui buscar o saco. Abri a porta e saí bem correndo porque o dito estava pingando!! Oh droga, só me faltava essa, vou ter que limpar o corredor!!!

Então entrei novamente, peguei um paninho e saí para limpar a meleca que tinha deixado, antes que caísse no esquecimento. Estou acabando de limpar, junto à porta do corredor que fica quase colado ao apartamento de frente, quando ouço um “tuc” atrás de mim.

A PORTA FECHOU!!!!! – lembrei apavorada no mesmo momento.

Na Alemanha TODAS as portas externas das residências têm esse dispositivo que só permite que se abra pelo lado de fora com a CHAVE. Cadê a chave? Exato: dentro da bolsa que estava dentro do apartamento!

Estava trancada do lado de FORA!! O que fazer agora?

Minha primeira opção foi chamar o serviço de chaves. Mas como chamar, se meu celular e o cartãozinho do moço estavam dentro de casa? Eu ainda tentei tocar nos meus vizinhos, mas aparentemente só eu estava em casa naquele momento.

Esse descuido iria me custar uns 60 euros – que eu obviamente não tinha… Teria que ir ao banco, mas vamos lá. Foi aí que me lembrei da minha simpática cabeleireira, que tinha o salão há uns 150 metros dali. Fui até lá e na conversa ela acabou me emprestando primeiro uma escada. Afinal eu morava no 1. andar. Era só esticar um pouco o braço…

Em vão. Voltei com a escada para o salão. Era muito curta.

Quem teria uma escada maior? – pensei.

“Tem um apartamento no prédio em frente ao seu que está em reforma. Quem sabe os pedreiros não tem uma escada maior?” – ela sugeriu. E eu aceitei a sugestão.

Voltei ao local e fui perguntar. Eles tinham uma escada um pouco maior. Mas ainda insuficiente.

Quem teria uma escada maior? – pensei….

Esse meu vai-e-vem já tinha chamado a atenção de algumas pessoas da redondeza. Até que um comerciante me disse que tinha um amigo que trabalhava para uma empresa que prestava serviços de eletricidade e eles tinham uma escada que alcançava até os cabos de luz da rua. Se eles estivessem na redondeza poderiam colocar a escada no parapeito da janela e abrir a janela por dentro. (Detalhe: era verão e a janela estava tombada e não trancada)

Foi então que, em 30 minutos, esse amigo e equipe chegaram e conseguiram abrir minha janela!!! Eu nunca imaginei que teria tanto trabalho para entrar em casa! Tive que pular a janela, literalmente!!! Nossa, como posso recompensar esses bravos homens que vieram até aqui praticamente arrombar minha própria casa para eu poder entrar? Ofereci algo para os “heróis” tomarem e perguntei o quanto custava o serviço deles. “Nada, não.” Como nada? Resolvi então “pagar uma cervejinha”, eu não tinha mais do que isso mesmo na carteira…. pronto, me senti no Brasil!

Essa foi uma das primeiras vezes que usei meu alemão para me comunicar eficientemente, numa situação pra lá de estressante. Foi aí que percebi que os alemães são bem mais solidários do que eu pensava.

Enquanto isso meu marido nem suspeitava do mico que a esposa passava em casa…. Só então pude acabar de me “embelezar” para ir ao aeroporto. Haja stress!

Imposto de Renda nos Estados Unidos

leao

Apesar de parecer manso, o leão americano morde pra valer.

É hoje o último dia para a entrega da declaração de imposto de renda nos Estados Unidos. Aqui existem algumas diferenças gritantes que causam grande impacto quando a gente põe tudo na ponta do lápis.

A primeira é que gastos com escola particular não são descontados do imposto. Portanto a busca por um bom distrito escolar pode salvar o orçamento familiar.

Despesas médicas somente são descontadas se ultrapassarem o teto de 7.5% da sua renda bruta. Quem dispõe de seguro saúde tem em geral uma cobertura de 80 a 90% do custo total das despesas médicas cobertas pelo plano, portanto ninguém quer receber este desconto que indica sérios problemas de saúde na família.

O desconto mais significativo que se tem é referente aos juros da ipoteca da casa. Que aqui são baixíssimos. Portanto pode-se assumir que pagamos mais imposto aqui do que pagaríamos no Brasil, porém temos melhores serviços.

O que não muda em lugar nenhum é a natureza humana. Assim como no Brasil a maioria das pessoas deixa tudo para o último dia, e hoje estão em Rê Bordosa tentando fechar os números até a meia noite.

P de Pólen

Caixa de Correio

A caixa de correio está como toda a casa, completamente forrada.

Este post foi revisado pela Dra. Adriana de O. Fidalgo do Instituto de Botânica/SP, Núcleo de Pesquisa em Sementes. Adriana é PHD em ecologia e trabalha com polinização e comportamento de abelhas nativas do Brasil.

O que é pólen?

O pólen é um pó, de fino a grosseiro, contendo micro gametófitos de plantas com sementes, que produzem os gametas masculinos (espermatozoides). Os grãos de pólen têm um revestimento duro que protege suas células, que contém núcleos espermáticos (espermas), durante sua migração dos estames para o pistilo de plantas florescentes, ou a partir do cone macho para o cone do sexo feminino de plantas de coníferas. Quando o pólen aterrissa sobre um pistilo compatível ou cone fêmea (isto é, quando a polinização ocorre), ele germina e produz um tubo de pólen que transfere o esperma para o óvulo (ou gametófito).

Simplificando dramaticamente, o pólen é a P das plantas, e para não ficar repetitiva passarei a usar a letra P para ambas as palavras que podem ser intercambiadas livremente.

Flor de Pinheiro

Sem comentários!

Durante o processo evolutivo, as plantas desenvolveram várias estratégias reprodutivas, para assegurar a sua multiplicação e colonização dos seus habitats. Os espermatófitos, ou seja, plantas que produzem flores, utilizam várias modalidades de polinização como estratégias reprodutivas. A que nos interessa em particular é a polinização anemófila, realizada pelo vento, onde as plantas produzem grande número de grãos de P, muito leves ou com extensões da exina, como os grãos de pólen alados dos pinheiros, que lhes permitem ser transportados para flores de plantas que se encontram a maior distância da que os produziu, portanto com maior probabilidade de terem um genoma diferente.

Traduzindo, os pinheiros machos produzem o P, e o vento espalha essa P por todo lado.

No Brasil só nos importamos com o P nas aulas de ciências. Passados os anos escolares não damos mais importância ao P. Isto acontece porque no Brasil a forma mais comum de polinização é a zoófila – realizada por pássaros e insetos, como abelhas e borboletas – as flores possuem características que atraem os insetos, tais como coloração, cheiros especiais e nectários. Portanto nosso ar está liberado do P para dar espaço a agentes mais importantes como a poluição, outra P super bacana.

No Brasil, graças a nossa incrível biodiversidade também temos abundância de plantas que fazem a polinização hidrófila – realizada pelas plantas aquáticas através da… tchã, tchã, tchã, tchã… Água. E também existem as plantas hermafroditas, cuidado com a malícia querido(a) leitor(a), apenas falo sobre plantas que possuem os dois sexos, e algumas delas fazem autopolinização – algumas espécies de plantas hermafroditas admitem a germinação dos grãos de pólen no estigma da mesma flor que o produziu, ou em outras flores da mesma planta; esta estratégia diminui as possibilidades de recombinação genética, mas assegura que um maior número de óvulos sejam fecundados. E não enche o ar de P.

Galhada Florida

Este é apenas um galho de um pinheiro. Imaginem quantas flores uma árvore inteira não tem.

Depois de mudar para Atlanta, que está entre as dez cidades americanas com maior índice de P no ar por metro cúbico durante a primavera, passei a me interessar por P. Antes não tinha o menor interesse por essa P que cobre tudo que toca, procurando por gametófitos. Porém, na falta da sua parceira, o P aterrissa em qualquer superfície, incluindo os nossos olhos, e se enfia em qualquer orifício, como os nossos narizes. O P é democrático e não tem preconceito de cor, raça ou religião, aqui todos nós estamos a mercê do P.

Eu que tinha crises leves de alergia em São Paulo, tenho crises épicas quando exposta ao P, ou seja, eu sou uma mutante com incrível capacidade de tolerância a dejetos químicos em forma de fumaça no ar, mas não tolero P de árvore.

Mesa do pátio coberta de pólen. Isso não é falta de lavar a mesa não, fica assim de um dia para o outro.

Mesa do pátio coberta de pólen.

A venda de antialérgicos nesta época do ano é responsável por 60% das vendas de medicamentos nas farmácias da região, sendo que eu devo ser responsável por metade destas vendas. Eu carrego na bolsa gotinhas para os olhos e para o nariz. Um dia desses pinguei a gotinha de olhos no nariz, e só percebi a besteira quando pinguei a gotinha de nariz nos olhos. É, podem rir, pimenta nos olhos dos outros é refresco mesmo, literalmente!

Ah, também carrego uma EpiPen, seringa de auto-injeção de Epinephrine, para crises que tapam de vez as vias respiratórias – nunca precisei usar, mas carrego por precaução, morrer por causa de P seria o cúmulo do absurdo. Imagino a reportagem do Fantástico: Brasileira morre nos Estados Unidos por causa de P americano(a).

 

A primeira vez a gente nunca esquece….

Essa história de escrever em blog está mexendo comigo. Tenho me lembrado de tantas coisas engraçadas – ou não – que já aconteceram… e vontade de registrá-las também. Uma dessas histórias agora hilárias, aconteceu na primeira vez que botei meus pés em terras germânicas.

Quando um funcionário é transferido com a família para alguma cidade ou país diferente, acontece uma série de preparações para essa transferência. Onde vai-se morar, pra que escola vão os filhos, etc. são temas que perturbam nossa cabeça e são bem importantes para a nossa adaptação no novo ambiente. No meu caso um passo importante era fazer com que eu me sentisse mais “em casa” na medida em que soubesse me comunicar melhor. Eu nunca tinha aprendido uma palavra de alemão antes, a não ser “chucrute” – que depois ainda vim a saber que não é alemão, e sim francês!

Pois bem, ainda no Brasil tive algumas aulas de alemão pra começar a me familiarizar com o idioma, que na época era tão estranho pra mim quanto o japonês é hoje…. Aí aconteceu a primeira viagem de “reconhecimento”. Fomos instalados num hotel confortável, no centro de uma bela cidade, com muita opção de comércio, restaurantes, etc.

Meu marido foi trabalhar e eu, entediada em ficar no quarto de hotel assistindo nada na televisão, resolvi sair pra passear, “me aventurar”.

“Agora é a hora de eu testar meu alemão!”- pensei.

Joia!  Após andar por algum tempo observando as pessoas, os lugares por onde passava (pra não me perder, claro), as lojas e tudo o que havia à minha volta, pintou uma sede…. daquelas de deixar a boca sem saliva, sabe? Então entrei numa padaria e pedi pra moça, em alemão, toda orgulhosa:

“Uma água, por favor.”

“%&ˆ%$$%ˆ&**()()((*&ˆ%$##@!!@#$” – ela respondeu.

“Como?”

“&ˆˆ%$$##$%ˆ&*()))*&%$#@!@#”- ela retrucou.

Nesse momento ela, me vendo com cara de ponto de interrogação, colocou uma série de garrafinhas de água em cima do balcão, pensando estar me ajudando a escolher uma água. UMA SIMPLES ÁGUA!

Claro que não consegui saber o que era aquilo tudo… peguei uma das garrafas, ela pegou minha nota de 5,00 – eu não ia me atrever ainda a perguntar o preço, dei a nota que seria suficiente pra pagar a p… da água!

Peguei o troco e fui me embora. Nunca pensei que iria ficar tão esgotada por comprar uma água na vida! E o pior é que eu até hoje não sei o que a senhora falou pra mim…

O Ganso Selvagem

Quando minha filha mais velha tinha uns dois aninhos nós morávamos numa casa que a companhia onde meu marido trabalhava na época alugava para nós. Era um bairro muito agradável e atrás da nossa casa tinha um lago bastante grande.

Grupo de gansos selvagens ciscando tranquilamente a beira do lago.

No outono, que na Flórida é quase tão quente quanto o verão, os gansos selvagens começavam a chegar fugindo das temperaturas rigorosas dos estados mais ao norte, onde eles passavam a primavera e o verão.

Minha filha adorava e eu também, é claro. Começávamos a juntar casquinhas de pão. Sabe as beiradas do pão de forma, pois é, eu assumo, sou mãe condescendente, eu cortava e ainda corto as casquinhas do pão de forma para as minhas filhas. Mas lá na Flórida elas eram muito bem aproveitadas no fim da tarde, quando eu saía para uma caminhada ao redor do lago com minha filhota e nós alimentávamos os gansos. Os danados eram tão mal acostumados que lá pelas três da tarde eles já iam aparecendo atrás da minha casa para esperar a merenda. Além dos gansos adultos vinham os filhotinhos atrás das mães, uma graça.

Era uma delícia ver minha pequena toda contente jogando as casquinhas do pão que a gente coletava no café da manhã e da tarde para os gansos, que a gente chamava de pato mesmo.

Ela apontava o dedinho gorduchinho toda feliz e dizia umas duas dezenas de vezes:

– Pato.

E eu repetia:

– É filha, o pato.

Impressionante como mãe acha graça da mesma coisa cem vezes por semana. Acho que durante os primeiro anos de vida das minhas filhas eu baixei pelo menos uns dez pontos no meu QI. Não tenho certeza se por conta de passar o dia todo conversando com crianças ou se pelas horas de sono perdidas.

Voltando a vaca fria, ou melhor, ao pato gordo, tudo ia muito bem, até que um dia chegou um ganso machão no pedaço. Ele era da altura da Giulia e decidiu que só pão não era suficiente, ele queria comer os dedinhos gorduchinhos da minha filha.

Gansos Selvagens II

Conforme eu me aproximo os gansos adultos param de ciscar e esticam os pescoços ameaçadoramente. E olha que eu estava a uns quatro metros de distância deles.

A Giulia tinha por habito correr atrás dos patos depois que o pão acabava, e adorava vê-los fugindo dela de volta ao lago. Estávamos as duas encantadas com aquele pato enorme e bonitão, mal sabia eu. Quando acabou o pão e a Giulia se preparava para correr atrás dos patos, ele começou a se aproximar esticando o pescoço na direção das mãos dela.

– Vem mais perto da mamãe, vem.

Disse eu já percebendo as más intenções da ave carnívora, mas ele continuou gingando na nossa direção. Eu muito autoconfiante dei uns dois passos na direção dele e gritei:

– Xô!

Mas quem levou um “Xô!” fui eu, o bicho abriu as asas soltou um granido ameaçador e começou a correr na minha direção. Eu taquei o cesto de pão vazio na cabeça dele, peguei a Giulia com um braço só e saí correndo com o pato louco no meu encalço, por pouco não pego o pescoço dele na porta de correr da varanda. Teria sido muito bem feito! Onde já se viu confundir os dedinhos da minha filhota com minhoca!

Meu Primeiro Inverno de Verdade

A gente acha que sabe o que é inverno em São Paulo. Aquela garoa fria e fina que penetra pelas frestas dos casacos e tricôs, o céu cinzento, o apartamento gelado… Tudo isso é muito chato, mas nada que peça um sobre-tudo. Não, caros leitores, São Paulo oferece apenas um friozinho dos trópicos.

Frio mesmo eu passei no meu primeiro inverno aqui em Atlanta. Não porque aqui se tenha um inverno super rigoroso, não, não, já vi piores em terras escandinavas, e também recebo relatos terríveis da Sandra lá na Alemanha. O meu primeiro inverno em Atlanta foi difícil porque eu não estava preparada para ele.

Brincar na neve é uma delícia, desde que se tenha a roupa certa, senão você põe os pés para fora e dali a meia hora corre para dentro todo molhado e gelado até os ossos. Ao invés de garoa fina é gelo que molha toda sua roupa e sapatos. De repente a gente começa a bater os dentes. E nem pensar em luvas de tricô, a não ser que se queira perder os dedos.

Depois do fiasco de chamar minhas filhas para brincar na neve só para ter que chamá-las de volta e colocá-las para tomar um banho quente para degelar, veio o fiasco no shopping. O pessoal aqui é prevenido. Não encontrava em loja alguma os tais macacões de nylon que mais parecem umas tendas gigantes para se brincar na neve, muito menos botas de neve. Não, as botas não são de neve, elas são de material a prova d’água forradas de pele de carneiro ou alguma outra coisa parecida. Achei melhor explicar antes que alguém faça a mesma gracinha do meu marido que se ofereceu várias vezes para fazer uma bota com a neve acumulada no quintal. Enfim, como ia dizendo, tudo esgotado, parei de procurar quando cansei de pagar mico para os vendedores das lojas que riam e diziam: “Agora? Minha senhora, já estamos preparando as vitrines de primavera. Veja se a senhora dá sorte na arara da liquidação,” eles falavam rindo, com gosto. Fala sério! Ainda estávamos no meio de janeiro. Aqui o inverno começa alguns dias antes do Natal e vai até o começo de março. Ainda estávamos no começo do inverno. Como americano compra adiantado!

Mas o pior mesmo foi o show que eu dei para os vizinhos. Só consigo me desculpar porque era muito cedo e acho que meu cérebro ainda não estava funcionando. Aprendi naquele inverno que depois da neve vem o gelo. Ah, o gelo fino e transparente feito cristal que cobre todas as calçadas e ruas, ou branco-sujo se a neve acumula-se o suficiente. Aquilo escorrega mais que quiabo, é pior que sabão, nunca caí mais espetacularmente que naquele dia.

Acordo bem cedinho, assim lá pelas 5:45hs da manhã, num breu de meia-noite. É necessário esclarecer que não sou criatura matutina. Sabe aquelas pessoas que levantam dispostas, dando bom-dia para todo mundo? Não têm nada haver comigo. De manhã cedo sou mais para calada e com cara de perdida. Se estiver num dia ruin então, totalmente ranzinza. Não tenho como negar, há muitas testemhunhas.

Naquela manhã em particular, levantei-me e estava preparando o café quando as minhas filhas, que são animadíssimas logo cedinho, começaram a gritar excitadamente: “Mamãe, está nevando! Venha ver que lindo!” Eu vesti o sobre-tudo, as luvas, o cachecol, a touca e as botas comuns que eu tinha, sem borracha anti-derrapante, abri a porta e disse: “Deixa a mamãe ver como está a temperatura daí vocês saeeeemmmmmm…” Saí escorregando num pé só, tentando me equilibrar sem ter onde segurar. Quando finalmente consegui pôr o outro pé no chão, já estava perto do degrau e caí de bunda. Peço perdão aos leitores mais sensíveis, mas não tenho outra palavra para usar nessa situação, bumbum não faz juz à queda.

Minhas filhas não conseguiam segurar o riso e foram correndo chamar o pai, que ao me ver sentada no degrau da frente da casa debaixo de neve quiz ser gentil e pisou no quiabo branco. Foi tão bonito. O pobre homem ainda estava de pijama e roupão, e com a barba feita pela metade. Eu até que tentei me levantar e ajudá-lo, mas foi em vão, caí de novo, junto com ele. A esta altura minhas filhas já estavam rolando no chão de tanto rir. Meu marido e eu ficamos sentados por um tempo, assim com quem está apreciando a paisagem. Acenamos para um vizinho que saía da garagem com o carro. O homem deve ter pensado que éramos loucos, ou deslumbrados que nunca haviam visto neve, sei lá…

Finalmente nos levantamos com nossas bundas geladas e doloridas, e nos apoiando mutuamente, assim feito bêbados caminhando pela calçada em fim de festa, conseguimos entrar em casa. Mas nossos percalços não haviam terminado. Meu marido precisava caminhar até o carro que havia ficado do lado de fora da casa, pois a garagem ainda estava cheia de caixas de mudança. Enquanto ele se trocava para ir trabalhar eu, muito prestativa, tive a brilhante idéia de tentar derreter o gelo com água quente. E comecei a fazer viagens entre a cozinha e a entrada da casa com canecas de água pelando que eu pegava da torneira. Minha vizinha, canadense é claro, passou na frente da minha casa levando o cachorro para sua caminhada matinal, mesmo embaixo de neve, coisa de gente que nasce muito distante da Linha do Equador, ela ao me ver jogando água sobre o gelo perguntou se eu estava fazendo um rinque de patinação para as crianças.

Claro, a água estava muito quente ao sair do aquecedor, mas a temperatura lá fora naquele dia era de -6ºC e poucos minutos após cair sobre o concreto gelado ela congelava-se espessando ainda mais a camada de sabão escorregadio. Uma beleza!

Depois dessa revelação acenei sorrindo para minha vizinha que seguiu seu caminho segurando a gargalhada, entrei, fechei a porta, e dancei o vira! Eu posso, afinal sou casada com um português.