About Adriana Gomes

Adriana é brasileira nascida em São Paulo. Em 1997 seu marido, Flavio Gomes, recebeu uma oferta de transferência ao exterior. Desde então ela já morou em dois estados americanos, Flórida e Georgia, e também teve a oportunidade de viver por um ano em Xangai, na China. Em cinco mudanças internacionais incluindo um bate-e-volta de dois anos ao Brasil, Adriana teve seis endereços diferentes nos últimos quatorze anos. Sem dúvida ela já acumulou muitas estórias que pretende compartilhar aqui no Hallo Hello, acompanhem!

Meatloaf – Bolo de Carne Americano

Este prato tem aparencia rústica, mas é muito gostoso.

Esta é uma receita básica de Meatloaf, prato tradicionalíssimo aqui nos Estados Unidos, que pode ser adaptada a vários tipos de carnes.

            Ingredientes:

½ Kg de carne de vaca moída;

½ Kg de carne de porco moída (não é todo açougue que aceita moer carne de porco, se esse for o caso do seu açougueiro simplesmente use 1 kg de carne de vaca);

2 ovos;

2 xícaras de farinha de rosca grossa (eu gosto daquelas de padaria, se a padaria perto da sua casa não fizer a própria farinha de rosca, basta torrar o pão amanhecido e triturar no processador de alimentos);

2 colheres de sopa de azeite de oliva (ou outro óleo de sua preferência);

1 cebola grande bem picada;

6 dentes de alho bem picados;

3 tomates bem vermelhos sem peles picados (na pressa não se acanhe e use tomates em lata mesmo);

2 colheres de sopa de salsinha picada;

1 colher de sopa de cebolinha picada;

1 colher de sopa de manjericão picado;

½ colher de sopa de orégano picado;

Se quiser substitua as ervas frescas por quantidade menor de ervas secas, aqui também uso uma mistura pronta de ervas secas italianas, tudo depende da disponibilidade na geladeira e na dispensa. 😉

2 colheres de sopa de molho inglês;

Sal e pimenta do reino a gosto;

Opcional, molho de pimenta vermelha a gosto;

            Preparo:

Ligue o forno para que aqueça a 180º C (350 F). Em uma panela média aqueça o azeite e refogue a cebola e o alho, quando estivarem dourados acrescente os tomates, as ervas e o molho inglês. Não salgue este refogado. Cozinhe todos os ingredientes por uns cinco minutos e apague o fogo.

Em uma tigela grande, coloque a carne moída, acrescente sal e pimenta do reino a gosto (eu nem uso a pimenta do reino), acrescente o refogado e misture bem. Bata os ovos com um pouco de molho de pimenta, aqui em casa uso uma colher de café de Tabasco, mas se não for sua praia não use. Acrescente os ovos à carne temperada e incorpore. Adicione a farinha de rosca, meia xícara por vez, antes de acrescentar a última meia xícara de farinha avalie a massa, dependendo de quão gordurosa é a carne você precisará ou não das duas xícaras completas de farinha. A massa deve ficar macia, com boa liga, e uniforme.

Fig. 1 - Forma Americana para Meatloaf

Se você possui forma para bolo de carne, besunte ligeiramente a parte perfurada com azeite, coloque a massa, e cubra com papel alumínio. Senão, coloque um folha grande de papel alumínio em uma assadeira retangular com a parte brilhante para cima e besunte-a ligeiramente com azeite ou o óleo de sua preferência, coloque a massa sobre o papel alumínio besuntado e ajeite o bolo de carne com as mãos e dobre o papel alumínio sobre a massa de forma que fique bem ajustado ao do bolo de carne conforme a Fig. 2

Fig. 2 - Meatloaf enrolado no papel alumínio

Leve ao forno pré-aquecido e asse coberto por uma hora, descubra o bolo de carne e volte ao forno até que fique dourado. Retire do forno e deixe que descanse por 15 minutos antes de servir.

Nos Estados Unidos o acompanhamento tradicional do Meatloaf é o purê de batatas com gravy. Aqui em casa a meninada gosta com arroz, feijão e salada.

Qualquer legume sauté também vai bem.

Meatloaf Bolinha

É um prato ótimo para se congelar inteiro ou em partes.

No dia seguinte costumo fazer sanduiches que são alegremente devorados. Simplesmente corto fatias que levo ao micro ondas cobertas com fatias de mozzarella e sirvo no pão que tiver disponível em casa com maionese, mostarda e salada. Não tem hambúrguer que vença.

Também costumo substituir a carne de vaca e porco por carne moída de peru ou frango que se encontram facilmente aqui nos Estados Unidos. E as vezes uso molho de soja no lugar do molho inglês.

Para congelar basta enrolar bem com magi-pack. Eu congelo inteiro, partes e até fatias.

Bom Apetite!

Católicos nos Estados Unidos

Do que você abriu mão nesta Quaresma? Esta pergunta me pegou de surpresa. Sou brasileira e quando me perguntam qual minha religião respondo automaticamente que sou católica. Mas a verdade é que sou católica por tradição, não por exercício rigoroso da religião.

No Brasil 130 milhões de pessoas são católicas, ou seja, mais de 68% da população se declara católica, o que faz do Brasil a maior comunidade Católica Apostólica Romana do mundo. No entanto sociólogos especializados em religião veem o catolicismo no Brasil mais como tradição do que prática religiosa propriamente. Apesar de ser comum para brasileiros batizarem seus filhos e casarem-se na igreja católica, apenas 20% frequentam as missas, fazem confissão e participam das atividades da igreja. Portanto, o Brasil tem também o maior número de católicos culturais no mundo, este é o termo que a igreja usa para identificar católicos que só participam de missas em ocasiões especiais, como Natal, Páscoa, casamentos, funerais e missas de sétimo dia.

Os Estados Unidos tem o maior número de grupos religiosos do mundo, mas a maior parte dos americanos se identificam como cristãos, na sua maioria protestantes e católicos, representando respectivamente 51% e 21% da população. As religiões não cristãs (judaísmo, islamismo, budismo, hinduísmo, etc.) representam entre 3,9% a 5,5% da população americana adulta, e 15% dos americanos dizem não ter crenças ou afiliações religiosas. De acordo com uma pesquisa de identificação religiosa, entre os estados americanos que fazem parte do “Unchurched Belt” (cinturão sem igrejas) região mais a oeste do país onde a participação religiosa é baixa, 59% da população diz acreditar em Deus, já no “Bible Belt” (cinturão da bíblia) que compreende os estados do sul dos Estados Unidos, 86% da população acredita em Deus.

O protestantes americanos estão distribuídos em várias afiliações distintas, o que faz do catolicismo a maior denominação religiosa dos Estados Unidos. De acordo com um estudo de 2011 do Centro de Pesquisas Aplicadas da Universidade Apostólica de Georgetown, existem hoje 77.7 milhões de católicos nos Estados Unidos. Portanto o país é o quarto colocado em número de católicos no mundo atrás do Brasil, do México e das Filipinas.

Aqui onde eu moro na Geórgia (estado ao sul do país que faz parte do Bible Belt) posso dizer, sem correr o risco de exagerar, que temos uma igreja a cada três quarteirões. E são de todas as religiões e denominações possíveis. Temos igrejas católicas coreanas, hispânicas, chinesas, brasileiras, e etc., templos mórmons, budistas, hindus e etc., sinagogas, mesquitas, enfim não importa sua religião você encontrará alguém da sua tribo aqui, e todos coabitam. Algumas ruas chegam a ter uma igreja ou templo distinto em cada quarteirão, juro que não estou exagerando. O único lugar no Brasil onde eu vi tantas igrejas assim foi em Salvador, na Bahia.

Descobri portanto que sou uma católica cultural, vivendo entre pessoas que levam suas religiões muito a sério.

No Brasil a maioria de nós, católicos culturais, somente abrimos mão de algo na Sexta-Feira Santa, e substituímos este algo, a carne, por peixes e frutos do mar, o que no fim das contas não implica em sacrifício nenhum, a não ser que você seja alérgico. Claro que não estou falando do simbolismo do corpo de Cristo (Pois é, eu conheço bem a retórica da igreja católica, pois estudei em colégio de freiras onde tive aulas diárias de religião até a oitava série.), mas do sacrifício pessoal, que o bacalhau não cobre.

Aqui os católicos escolhem algo pessoal e significativo para deixar de consumir ou fazer, desde a Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo de Páscoa, quando então se reúnem para fartas refeições sendo o presunto defumado, que chamamos de tender no Brasil, a atração principal. Eles também evitam consumir carne, não apenas na Sexta-Feira Santa, mas todas a sextas-feiras da quaresma, e as escolas oferecem cardápios especiais aos católicos durante a quaresma respeitando esta tradição.

Vivendo aqui eu passei a observar o catolicismo sendo praticado de outra maneira, muito mais conservadora que a minha. E notei como isso afeta a política americana de forma questionável, pois acredito em separação entre estado e religião, e sou a favor do planejamento familiar, entre outras coisas. Mas voltando a questão que inspirou este post, quando me perguntaram qual meu grande sacrifício da quaresma, sem saber o que responder, simplesmente disse:

– Meu marido viaja a trabalho 40% do ano. Isto conta?

A minha nova amiga catoliquíssima disse que sim. Ufa! Estou salva! Ah, hoje aqui em casa é dia de bacalhau, e o meu marido está viajando a trabalho.

P de Pólen

Caixa de Correio

A caixa de correio está como toda a casa, completamente forrada.

Este post foi revisado pela Dra. Adriana de O. Fidalgo do Instituto de Botânica/SP, Núcleo de Pesquisa em Sementes. Adriana é PHD em ecologia e trabalha com polinização e comportamento de abelhas nativas do Brasil.

O que é pólen?

O pólen é um pó, de fino a grosseiro, contendo micro gametófitos de plantas com sementes, que produzem os gametas masculinos (espermatozoides). Os grãos de pólen têm um revestimento duro que protege suas células, que contém núcleos espermáticos (espermas), durante sua migração dos estames para o pistilo de plantas florescentes, ou a partir do cone macho para o cone do sexo feminino de plantas de coníferas. Quando o pólen aterrissa sobre um pistilo compatível ou cone fêmea (isto é, quando a polinização ocorre), ele germina e produz um tubo de pólen que transfere o esperma para o óvulo (ou gametófito).

Simplificando dramaticamente, o pólen é a P das plantas, e para não ficar repetitiva passarei a usar a letra P para ambas as palavras que podem ser intercambiadas livremente.

Flor de Pinheiro

Sem comentários!

Durante o processo evolutivo, as plantas desenvolveram várias estratégias reprodutivas, para assegurar a sua multiplicação e colonização dos seus habitats. Os espermatófitos, ou seja, plantas que produzem flores, utilizam várias modalidades de polinização como estratégias reprodutivas. A que nos interessa em particular é a polinização anemófila, realizada pelo vento, onde as plantas produzem grande número de grãos de P, muito leves ou com extensões da exina, como os grãos de pólen alados dos pinheiros, que lhes permitem ser transportados para flores de plantas que se encontram a maior distância da que os produziu, portanto com maior probabilidade de terem um genoma diferente.

Traduzindo, os pinheiros machos produzem o P, e o vento espalha essa P por todo lado.

No Brasil só nos importamos com o P nas aulas de ciências. Passados os anos escolares não damos mais importância ao P. Isto acontece porque no Brasil a forma mais comum de polinização é a zoófila – realizada por pássaros e insetos, como abelhas e borboletas – as flores possuem características que atraem os insetos, tais como coloração, cheiros especiais e nectários. Portanto nosso ar está liberado do P para dar espaço a agentes mais importantes como a poluição, outra P super bacana.

No Brasil, graças a nossa incrível biodiversidade também temos abundância de plantas que fazem a polinização hidrófila – realizada pelas plantas aquáticas através da… tchã, tchã, tchã, tchã… Água. E também existem as plantas hermafroditas, cuidado com a malícia querido(a) leitor(a), apenas falo sobre plantas que possuem os dois sexos, e algumas delas fazem autopolinização – algumas espécies de plantas hermafroditas admitem a germinação dos grãos de pólen no estigma da mesma flor que o produziu, ou em outras flores da mesma planta; esta estratégia diminui as possibilidades de recombinação genética, mas assegura que um maior número de óvulos sejam fecundados. E não enche o ar de P.

Galhada Florida

Este é apenas um galho de um pinheiro. Imaginem quantas flores uma árvore inteira não tem.

Depois de mudar para Atlanta, que está entre as dez cidades americanas com maior índice de P no ar por metro cúbico durante a primavera, passei a me interessar por P. Antes não tinha o menor interesse por essa P que cobre tudo que toca, procurando por gametófitos. Porém, na falta da sua parceira, o P aterrissa em qualquer superfície, incluindo os nossos olhos, e se enfia em qualquer orifício, como os nossos narizes. O P é democrático e não tem preconceito de cor, raça ou religião, aqui todos nós estamos a mercê do P.

Eu que tinha crises leves de alergia em São Paulo, tenho crises épicas quando exposta ao P, ou seja, eu sou uma mutante com incrível capacidade de tolerância a dejetos químicos em forma de fumaça no ar, mas não tolero P de árvore.

Mesa do pátio coberta de pólen. Isso não é falta de lavar a mesa não, fica assim de um dia para o outro.

Mesa do pátio coberta de pólen.

A venda de antialérgicos nesta época do ano é responsável por 60% das vendas de medicamentos nas farmácias da região, sendo que eu devo ser responsável por metade destas vendas. Eu carrego na bolsa gotinhas para os olhos e para o nariz. Um dia desses pinguei a gotinha de olhos no nariz, e só percebi a besteira quando pinguei a gotinha de nariz nos olhos. É, podem rir, pimenta nos olhos dos outros é refresco mesmo, literalmente!

Ah, também carrego uma EpiPen, seringa de auto-injeção de Epinephrine, para crises que tapam de vez as vias respiratórias – nunca precisei usar, mas carrego por precaução, morrer por causa de P seria o cúmulo do absurdo. Imagino a reportagem do Fantástico: Brasileira morre nos Estados Unidos por causa de P americano(a).

 

Sunga, Maiô e Picanha

Recentemente vi num post, no facebook de uma amiga, uma foto de um homem de sunga, daquelas com a lateral bem fininha, quase como um biquíni feminino. Eu particularmente não gosto muito deste visual, acho bacana as que tem a lateral bem larga, para mim fica mais masculino, enfim, tem gosto para tudo. O caso é que a tal foto me lembrou uma situação bastante constrangedora que meu marido e eu passamos no nosso primeiro verão na Flórida. Aviso aos leitores mais sensíveis que este não é um post dos mais discretos.

Meu marido e eu nos mudamos para a Flórida no fim de 1997, era inverno e apesar de não fazer muito frio, não dava para entrar na piscina da casa que a companhia alugou para morarmos, pois a água não era aquecida. Assim que passaram-se vários meses até que decidíssemos molhar os pés. O verão chegou e nós passamos a disfrutar do nosso novo quintal com muito gosto, almoço de fim de semana era na churrasqueira a beira da piscina. Não era bem uma churrasqueira para os padrões brasileiros, mas uma grelha americana a gás. Churrasco aqui é muito diferente do nosso, mas disso eu falo em outro post. Para o objetivo desta estória é suficiente dizer que levamos vários fins de semana para dominar a técnica de não queimar a picanha por fora e deixá-la completamente crua por dentro, tendo a grelha tão próxima das chamas. Era um “fumacê” danado, e acabávamos comendo saladinha. Fala sério, achar a picanha para comprar já havia sido um parto, enfim, como eu já disse, esta é outra estória. O ponto é que, quando finalmente nos sentimos confiantes no manejo da grelha americana já era para lá do meio de agosto, fim de verão por aqui, e eu estava grávida de seis meses.

Decidimos então fazer um social, e o Flavio convidou um colega de trabalho com a mulher e a filhinha de três anos. Eu não os conhecia, mas apostei na picanha com salada e cervejinha gelada.

Fazia uns 40ºC naquele sábado, e como brasileiros que somos, eu vesti um maiô, amarrei uma canga em volta da cintura e calcei minhas havaianas, meu marido vestiu shorts e camiseta por cima da sunga (de lateral bem larga), e também calçou havaianas.

Primeiro choque:

O decote do meu maiô era até recatado para os padrões brasileiros, mas aparentemente não para americanos, detalhe, eles tinham acabado de mudar de Rochester (terra de gelo que faz divisa com o Canadá) para a Flórida. Tudo bem que eu tenho um bonito décolletage, mas juro que não era para tanto, era um maiô de grávida com um decote V adequado a uma festa infantil, a beira de qualquer piscina brasileira. Eles no entanto demoraram uns dez minutos para conseguirem parar de olhar para o meu decote, mas eu não posso reclamar, pois também levei um bom tempo para superar os tênis brancos com meias pretas até o meio das canelas que nosso convidado usava. Alguém, por favor, me explica esta combinação que eu não assimilei até hoje.

Segundo choque:

Não tínhamos nem hambúrguer e nem cachorro quente para a criança, a pobre menina comeu só pão com manteiga a tarde toda. Ainda bem que ela ainda tomava mamadeira e a mãe havia trazido duas prontas. Por sorte eu havia comprado duas baquetes, e nunca falta boa manteiga na minha geladeira. Peço desculpas as mães lendo este post, na época eu ainda não tinha filhos e não sabia quantas particularidades podem ter uma criança de três anos. Aqui nos Estados Unidos churrasco para crianças envolve invariavelmente hambúrgueres e cachorros quentes, lição aprendida. Por sorte os pais adoraram a picanha, senão até do ponto de vista culinário teria sido um fiasco, o que causaria grande dano a minha boa reputação de festeira.

O golpe final:

Quando eles chegaram já se puseram a passar protetor solar cuidadosamente na filhinha que era a única entre eles de maiô, e a ajudaram a vestir boias nos bracinhos. Meu marido já servia um aperitivo básico de linguicinhas grelhadas e queijo coalho que eu havia encontrado na loja brasileira, quando a garotinha muito fofinha sentou na beirada da piscina e pediu para entrar. Os pais dela não vestiam maiôs por baixo da roupa, então meu querido marido muito solicito na sua postura de anfitrião disse:

– Curtam o aperitivo, vocês precisam provar este queijo, é uma delícia, pode deixar que eu entro com ela enquanto vocês comem. Depois vocês se trocam com calma e entram, a água está ótima.

Ele então, com a maior naturalidade, caminhou até uma espreguiçadeira, tirou a camiseta e os shorts, e pulou na piscina.

Nada demais diria meu caro leitor brasileiro, porém, o efeito nos nossos convidados foi o mesmo que se ele tivesse feito um strip-tease em câmera lenta dançando ao redor de uma barra de aço tipo aquelas de clubes de profissionais em danças exóticas, vocês sabem quais.

Enquanto eu assistia a expressão de espanto nos rostos dos pais da criança meu marido atravessou a piscina (com a água misericordiosamente batendo na cintura) até onde ela estava sentada e a pegou no colo.

Eles trocaram um olhar apreensivo, e ele saiu correndo para o quarto de hóspedes, com seus tênis brancos e suas meias pretas, e ela ficou sentada com o olhar fixo no meu marido que não estava nem aí, ele estava tranquilo na piscina, brincando com a menina. Eu, tentando ajudar, piorei a situação, quando tirei a canga e entrei na água. Se meu decote tinha chamado a atenção deles, a parte de traz do meu maiô que fazia um U nas costas e tinha uma cava em V foi ainda mais marcante. Veja bem, não era nenhum fio dental, muito ao contrário, era até bem careta, mas quando peguei a menina e virei de frente para a mãe dela, para ver se ela estava mais tranquila, percebi meu erro. A pobre parecia atordoada.

O pai da criança retornou vestindo uma bermuda tão longa quanto a que usava quando chegou, assim no meio dos joelhos. Ele pulou na piscina, literalmente arrancou a filha dos meus braços, e começou a beijar os cabelos dela como se a tivesse resgatado de um incêndio. Meu marido fez uma expressão de estranheza e eu tentei um sorriso como se não tivesse notado. O mais difícil porém foi quando ela voltou, sim, pois depois que o marido estava presente para defender a filha daqueles brasileiros desavergonhados, nossa convidada se sentiu segura para ir se trocar também. Gente, sabe aqueles maiôs de bebês que usam fraldas, aqueles que tem uma sainha, pois é, daí foi a minha vez de tentar disfarçar a expressão de espanto, ela vestia um maiô cuja parte de cima parecia uma regata com alças largas e decote quase careca, e o traje tinha uma sainha que ia até uns três dedos antes dos joelhos. Não é de se estranhar que ela tenha ficado tão surpresa com meu maiô afinal.

Eu saí da piscina olhando para os lados, evitando encará-la de frente, com medo de não conseguir segurar o riso, e amarrei minha canga ao redor da cintura. Peguei uma travessa de salada e pedi uma ajudinha ao meu marido, lá na cozinha, onde contei a ele o que havia acontecido. Ele nem arriscou ir buscar a roupa que estava na espreguiçadeira, foi diretamente ao nosso quarto e retornou com a bermuda mais longa que tinha, uma de linho que parava, apropriadamente, um dedo acima dos joelhos, e uma camisa bem larga daquelas que as mangas chegam quase aos cotovelos. Eu não tirei mais a canga nem entrei na piscina. Fala sério, estava um calor danado!

Quando retornamos a mesa notei que nossos convidados também haviam tido uma conversinha e me pareciam um pouco constrangidos. Talvez tivessem percebido a ofensa que a atitude deles representava, ou talvez eu tenha me convencido desta idéia para levar o restante da tarde numa boa.

No dia seguinte meu marido e eu fomos ao shopping, ele comprou uma bermuda de praia tipo surfista, e eu um maiô que tinha a parte de baixo feito shorts de vôlei. Mas sainha, jamais!

Ah, as nossas havaianas porém, fizeram o maior sucesso.

Inventário

Conjunto para café de porcelana. Presente de casamento de minha tia-avó Filomena Belasques para minha mãe que me presenteou este tesouro de família quando eu saí do Brasil.

Você sabe quanta coisa tem na sua casa? Não assim tipo mais ou menos, mas detalhadamente? Pois é, este é um dos grandes desafios das mudanças em geral, e quando é internacional então, fica ainda mais complicado.

Não basta saber que você tem talheres, precisa saber com precisão quantos garfos, facas colheres, colherinhas de chá e café, ah, e não esqueça dos garfinhos de sobremesa, e nossa, já ia esquecendo dos talheres de servir. Enfim tem que saber tudinho, tintim por tintim. Comportamento obsessivo-compulsivo ajuda nestas horas.

Para que tudo isso? Para completar a documentação do seguro, mais precisamente o inventário. E acredite-me, não vale a pena cortar caminho, sem um inventário detalhado quem sai perdendo é você. Por que se você escrever xícaras e colocar um valor geral, e por azar aquela xícara de porcelana com decoração de ouro 24 quilates que foi da sua tia-avó quebrar durante a mudança, o seguro te ressarcirá o mínimo possível e o problema é seu. Quem mandou não especificar a tal xícara como antiguidade e estabelecer um valor adequado?

Portanto se algum dia você se deparar com um pedido de inventário para mudança tome seu tempo, e seja extremamente detalhista. Assim você terá como negociar melhor sua indenização em caso de perdas ou danos.

Ostras

Incrível, aos quarenta e três anos finalmente tomei coragem e provei ostras, cruas. Preciso admitir que não foi uma decisão fácil, e sim muita vontade de não fazer desfeita aos mais gentis dos anfitriões.

Fomos, a família toda, para Pensacola na Flórida, um lugar paradisíaco. Uma ilha em formato de península daquelas onde, da varanda do apartamento, você pode ver o mar dos dois lados. O máximo! Fomos com um casal de novos amigos cujo filho estuda com nossa filha mais velha. Após participarem de uma festa em nossa casa, muito graciosamente retribuíram a nossa noitada brasileira com um convite irresistível para passar uns dias no condomínio deles na ilha que eles tanto gostam. E pela qual meu marido e eu nos apaixonamos.

Já em várias ocasiões havia me deparado com ostras em buffets ou em cardápios de restaurantes, mas alguma coisa na aparências delas sempre me repugnou. Acho que ninguém, mesmo os mais aficionados por essas iguarias cascudas, pode dizer que elas são atraentes. Assim seguia eu, sem maiores considerações por ostras. Se alguém me oferecia simplesmente dizia não obrigada, e pronto. Não às assadas, não às fritas e ensopadas, e definitivamente não às cruas. Ninguém nunca insistiu, ou sequer exaltou suas qualidades para mim. Eventualmente um leve: “Você não sabe o que está perdendo.”

Desta vez foi diferente. Quando chegamos a cidade, paramos em um mercado local para fazer compras básicas e nosso anfitrião perguntou:

–       Vocês gostam de ostras?

–       Nunca comemos.

Foi nossa resposta em uníssono.

–       Ah, mas hoje vou levá-los a um restaurante de frutos do mar onde as ostras são a atração principal. Vocês precisam provar! Tenho certeza que irão adorar!

–       Claro!

Disse eu sorrindo e olhei para o meu marido que tentava disfarçar a expressão de alarme.

Levamos os mantimentos para o apartamento e de lá direto para o “Peg Leg Pete’s” um restaurante favorecido pelos habitantes locais. O ambiente era despretensioso e o atendimento excelente. Nosso amigo imediatamente pediu quatro dúzias de ostras frescas e mais umas tantas assadas e fritas.

A cada garçom que passava carregando bandejas rasas com porções de ostras sobre uma camada fina de gelo meu estomago dava um salto. Finalmente após uns dez minutos de bate-papo chegaram nossas bandejas. Eu decidi não olhar para elas e me mantive calma. Nosso anfitrião, muito solicito, vendo que nem eu, nem meu marido nos animávamos a pegar uma, se pôs a preparar uma bandeja completa enquanto conversávamos. Quando eu pensei que ele ia começar a comer ele pediu que entregássemos a bandeja que estava na nossa frente, e nos entregou a preparada com muito limão, um molhinho vermelhinho e uma pitada de raiz-forte. Quanta gentileza, ele achou que nossa imobilidade era por não sabermos como preparar as ostras, o que em parte era verdade, mas estávamos mesmo era tentando enrolar o máximo possível aguardando algum evento extraordinário como um tornado ou terremoto que nos obrigasse a sair correndo, e nos salvasse daquela situação.

Não havia o que fazer, o jeito era encarar o bicho, ou melhor, a cascuda. Escolhi a mais coberta de condimentos, e tentando não encará-la diretamente peguei a bicha com o garfo, controlei o impulso de tapar o nariz com os dedos feito criança tomando remédio, e coloquei a meleca inteira na boca.

Surpreendente! Adorei! Parece um marisco bem cozidinho, não é gosmento ou pegajoso, tem um gosto suave e uma textura delicada. Meu marido também gostou, e sem problemas compartilhamos uma dúzia delas. Também provamos das ostras cozidas de diferentes maneiras e minhas filhas, muito bem comportadas, provaram e gostaram das ostras assadas.

Depois dessa acho que estou pronta para o escargot.

O Ganso Selvagem

Quando minha filha mais velha tinha uns dois aninhos nós morávamos numa casa que a companhia onde meu marido trabalhava na época alugava para nós. Era um bairro muito agradável e atrás da nossa casa tinha um lago bastante grande.

Grupo de gansos selvagens ciscando tranquilamente a beira do lago.

No outono, que na Flórida é quase tão quente quanto o verão, os gansos selvagens começavam a chegar fugindo das temperaturas rigorosas dos estados mais ao norte, onde eles passavam a primavera e o verão.

Minha filha adorava e eu também, é claro. Começávamos a juntar casquinhas de pão. Sabe as beiradas do pão de forma, pois é, eu assumo, sou mãe condescendente, eu cortava e ainda corto as casquinhas do pão de forma para as minhas filhas. Mas lá na Flórida elas eram muito bem aproveitadas no fim da tarde, quando eu saía para uma caminhada ao redor do lago com minha filhota e nós alimentávamos os gansos. Os danados eram tão mal acostumados que lá pelas três da tarde eles já iam aparecendo atrás da minha casa para esperar a merenda. Além dos gansos adultos vinham os filhotinhos atrás das mães, uma graça.

Era uma delícia ver minha pequena toda contente jogando as casquinhas do pão que a gente coletava no café da manhã e da tarde para os gansos, que a gente chamava de pato mesmo.

Ela apontava o dedinho gorduchinho toda feliz e dizia umas duas dezenas de vezes:

– Pato.

E eu repetia:

– É filha, o pato.

Impressionante como mãe acha graça da mesma coisa cem vezes por semana. Acho que durante os primeiro anos de vida das minhas filhas eu baixei pelo menos uns dez pontos no meu QI. Não tenho certeza se por conta de passar o dia todo conversando com crianças ou se pelas horas de sono perdidas.

Voltando a vaca fria, ou melhor, ao pato gordo, tudo ia muito bem, até que um dia chegou um ganso machão no pedaço. Ele era da altura da Giulia e decidiu que só pão não era suficiente, ele queria comer os dedinhos gorduchinhos da minha filha.

Gansos Selvagens II

Conforme eu me aproximo os gansos adultos param de ciscar e esticam os pescoços ameaçadoramente. E olha que eu estava a uns quatro metros de distância deles.

A Giulia tinha por habito correr atrás dos patos depois que o pão acabava, e adorava vê-los fugindo dela de volta ao lago. Estávamos as duas encantadas com aquele pato enorme e bonitão, mal sabia eu. Quando acabou o pão e a Giulia se preparava para correr atrás dos patos, ele começou a se aproximar esticando o pescoço na direção das mãos dela.

– Vem mais perto da mamãe, vem.

Disse eu já percebendo as más intenções da ave carnívora, mas ele continuou gingando na nossa direção. Eu muito autoconfiante dei uns dois passos na direção dele e gritei:

– Xô!

Mas quem levou um “Xô!” fui eu, o bicho abriu as asas soltou um granido ameaçador e começou a correr na minha direção. Eu taquei o cesto de pão vazio na cabeça dele, peguei a Giulia com um braço só e saí correndo com o pato louco no meu encalço, por pouco não pego o pescoço dele na porta de correr da varanda. Teria sido muito bem feito! Onde já se viu confundir os dedinhos da minha filhota com minhoca!

Meu Primeiro Inverno de Verdade

A gente acha que sabe o que é inverno em São Paulo. Aquela garoa fria e fina que penetra pelas frestas dos casacos e tricôs, o céu cinzento, o apartamento gelado… Tudo isso é muito chato, mas nada que peça um sobre-tudo. Não, caros leitores, São Paulo oferece apenas um friozinho dos trópicos.

Frio mesmo eu passei no meu primeiro inverno aqui em Atlanta. Não porque aqui se tenha um inverno super rigoroso, não, não, já vi piores em terras escandinavas, e também recebo relatos terríveis da Sandra lá na Alemanha. O meu primeiro inverno em Atlanta foi difícil porque eu não estava preparada para ele.

Brincar na neve é uma delícia, desde que se tenha a roupa certa, senão você põe os pés para fora e dali a meia hora corre para dentro todo molhado e gelado até os ossos. Ao invés de garoa fina é gelo que molha toda sua roupa e sapatos. De repente a gente começa a bater os dentes. E nem pensar em luvas de tricô, a não ser que se queira perder os dedos.

Depois do fiasco de chamar minhas filhas para brincar na neve só para ter que chamá-las de volta e colocá-las para tomar um banho quente para degelar, veio o fiasco no shopping. O pessoal aqui é prevenido. Não encontrava em loja alguma os tais macacões de nylon que mais parecem umas tendas gigantes para se brincar na neve, muito menos botas de neve. Não, as botas não são de neve, elas são de material a prova d’água forradas de pele de carneiro ou alguma outra coisa parecida. Achei melhor explicar antes que alguém faça a mesma gracinha do meu marido que se ofereceu várias vezes para fazer uma bota com a neve acumulada no quintal. Enfim, como ia dizendo, tudo esgotado, parei de procurar quando cansei de pagar mico para os vendedores das lojas que riam e diziam: “Agora? Minha senhora, já estamos preparando as vitrines de primavera. Veja se a senhora dá sorte na arara da liquidação,” eles falavam rindo, com gosto. Fala sério! Ainda estávamos no meio de janeiro. Aqui o inverno começa alguns dias antes do Natal e vai até o começo de março. Ainda estávamos no começo do inverno. Como americano compra adiantado!

Mas o pior mesmo foi o show que eu dei para os vizinhos. Só consigo me desculpar porque era muito cedo e acho que meu cérebro ainda não estava funcionando. Aprendi naquele inverno que depois da neve vem o gelo. Ah, o gelo fino e transparente feito cristal que cobre todas as calçadas e ruas, ou branco-sujo se a neve acumula-se o suficiente. Aquilo escorrega mais que quiabo, é pior que sabão, nunca caí mais espetacularmente que naquele dia.

Acordo bem cedinho, assim lá pelas 5:45hs da manhã, num breu de meia-noite. É necessário esclarecer que não sou criatura matutina. Sabe aquelas pessoas que levantam dispostas, dando bom-dia para todo mundo? Não têm nada haver comigo. De manhã cedo sou mais para calada e com cara de perdida. Se estiver num dia ruin então, totalmente ranzinza. Não tenho como negar, há muitas testemhunhas.

Naquela manhã em particular, levantei-me e estava preparando o café quando as minhas filhas, que são animadíssimas logo cedinho, começaram a gritar excitadamente: “Mamãe, está nevando! Venha ver que lindo!” Eu vesti o sobre-tudo, as luvas, o cachecol, a touca e as botas comuns que eu tinha, sem borracha anti-derrapante, abri a porta e disse: “Deixa a mamãe ver como está a temperatura daí vocês saeeeemmmmmm…” Saí escorregando num pé só, tentando me equilibrar sem ter onde segurar. Quando finalmente consegui pôr o outro pé no chão, já estava perto do degrau e caí de bunda. Peço perdão aos leitores mais sensíveis, mas não tenho outra palavra para usar nessa situação, bumbum não faz juz à queda.

Minhas filhas não conseguiam segurar o riso e foram correndo chamar o pai, que ao me ver sentada no degrau da frente da casa debaixo de neve quiz ser gentil e pisou no quiabo branco. Foi tão bonito. O pobre homem ainda estava de pijama e roupão, e com a barba feita pela metade. Eu até que tentei me levantar e ajudá-lo, mas foi em vão, caí de novo, junto com ele. A esta altura minhas filhas já estavam rolando no chão de tanto rir. Meu marido e eu ficamos sentados por um tempo, assim com quem está apreciando a paisagem. Acenamos para um vizinho que saía da garagem com o carro. O homem deve ter pensado que éramos loucos, ou deslumbrados que nunca haviam visto neve, sei lá…

Finalmente nos levantamos com nossas bundas geladas e doloridas, e nos apoiando mutuamente, assim feito bêbados caminhando pela calçada em fim de festa, conseguimos entrar em casa. Mas nossos percalços não haviam terminado. Meu marido precisava caminhar até o carro que havia ficado do lado de fora da casa, pois a garagem ainda estava cheia de caixas de mudança. Enquanto ele se trocava para ir trabalhar eu, muito prestativa, tive a brilhante idéia de tentar derreter o gelo com água quente. E comecei a fazer viagens entre a cozinha e a entrada da casa com canecas de água pelando que eu pegava da torneira. Minha vizinha, canadense é claro, passou na frente da minha casa levando o cachorro para sua caminhada matinal, mesmo embaixo de neve, coisa de gente que nasce muito distante da Linha do Equador, ela ao me ver jogando água sobre o gelo perguntou se eu estava fazendo um rinque de patinação para as crianças.

Claro, a água estava muito quente ao sair do aquecedor, mas a temperatura lá fora naquele dia era de -6ºC e poucos minutos após cair sobre o concreto gelado ela congelava-se espessando ainda mais a camada de sabão escorregadio. Uma beleza!

Depois dessa revelação acenei sorrindo para minha vizinha que seguiu seu caminho segurando a gargalhada, entrei, fechei a porta, e dancei o vira! Eu posso, afinal sou casada com um português.

Mandioquinha

Nos Estados Unidos não tem mandioquinha! Olha que eu já procurei bastante. Se algum leitor souber onde se pode encontrar mandioquinha por aqui, por favor me diga que eu vou atrás. Mas infelizmente acho que essa dica não vai chegar.

Acontece que mandioquinha é meu legume favorito. Adoro sopa cremosa de mandioquinha, purê de mandioquinha, nhoque de mandioquinha, para encurtar a lista vou concluir dizendo que nunca provei um prato com mandioquinha que eu não gostasse. Daí chego eu em terras gringas e me encanto com os supermercados imensos com longos corredores e prateleiras sem fim. Cada necessidade doméstica uma oportunidade de ir visitar esses templos de consumismo tão bem organizados e surtidos. Até um dia particularmente frio em que eu decidi fazer um creme de mandioquinha.

Que decepção! Não encontrei, e o pior, não conseguia me entender com o funcionário do mercado. “É uma raiz assim como a cenoura, mas amarelinha,” dizia eu, certa que era apenas um problema de vocabulário. Nem passava pela minha cabeça que não existisse mandioquinha nos Estados Unidos. Após demorados minutos de debates o prestativo senhor me entregou um pacote de raízes bem branquinhas chamadas “parsnip” que segundo o google translate em português se diz “cherivia”. Eu nunca ouvi falar. Olhei para aquelas cenouras pálidas apertadinhas no pacote a vácuo em dúvida, mas era aquilo ou nada.

Em casa tentei morder uma pontinha da cenoura anêmica. Que coisa estranha, diferente mesmo. Tem uma textura próxima a da cenoura, porém é mais fibrosa e quase sem sabor, em nada comparável com a minha querida mandioquinha. Fiz um creme de legumes com o que eu tinha disponível naquela noite e no dia seguinte saí novamente à procura da mandioquinha. Fui a uns sete mercados diferentes, é isso mesmo caro leitor, sete, “7”, e nada. Claro que essa maratona só foi possível porque no condado de Broward, próximo a Miami onde eu morava, no auje do trânsito formava-se uma fila de quatro carros no cruzamento. E a cada seis quadras tem um supermercado. Sério, era um sossego.

Voltei para casa vencida. A batalha tinha sido em vão, pensava eu enquanto descarregava o porta-malas do carro lotado de guloseimas americanas e importadas do mundo inteiro e curiosidades domésticas úteis e inúteis.