Desde que cheguei aos Estados Unidos, um dos feriados que eu mais curto é o Halloween com sua tradição do “Trick-or-Treat”, que eu traduzo aqui livremente como “travessuras ou gostosuras”. Todos os anos, na noite do dia 31 de outubro, as crianças se fantasiam de fadas e princesas, super heróis, piratas e ciganos, bruxas e magos, personagens de filmes e de vídeo games, e até de m&m’s, sabe os docinho de chocolate cobertos de casquinhas coloridas tipo o confete brasileiro que na verdade é cópia do m&m, enfim, elas se vestem do que a imaginação delas desejar, e caminham pelos bairros batendo de porta em porta para ganhar doces, e até para levar alguns sustos de moradores mais empolgados.
Aqui, lá pela terceira semana de outubro, todos nós decoramos as frentes das nossas casas e abastecemos o hall de entrada com tigelas, ou caldeirões de bruxa, com doces variados. E no dia 31, Halloween, lá pelas 6:00hs da tarde a campainha começa a tocar. Os primeiros a chegar são os menores, e portanto os mais fofos. Pais e mães trazem as fadinhas, princesas e super heróis de dois aninhos pelas mãos, e até bebês de colo em carrinhos, vestidos de ursinhos e outras criações fofíssimas. Adoro ficar em casa recebendo as crianças que gritam animadíssima “twick-or-twit” e estendem suas sacolinhas decoradas esperando que eu lhes dê um doce. Conforme a noite avança as crianças que batem na porta vão ficando mais velhas até que lá pelas 9:00hs da noite só passam adolescentes, que chegam a beirar os 20 anos, fantasiados de zumbis, múmias e vampiros, e carregando fronhas de travesseiros enormes.
Até os animais de estimação entram na dança. Estima-se que 15% dos americanos fantasiam seus cachorros e gatos. Segundo especialistas do setor, este ano os americanos deverão gastar 370 milhões de dólares em fantasias para os bichinhos. Imagina se minhas filhas não me convenceram a comprar uma fantasia para nossa cachorrinha ano passado. Mas eu já disse que este ano ela usará a mesma.
Meu marido e eu nos dividimos. tradicionalmente ele anda pelo bairro com nossas filhas acompanhando um grupo grande de vizinhos com a criançada da nossa rua, e eu distribuo os doces daqui de casa. Tem gente que monta mesa na frente das casas com as tigelas de doces e fica vendo a garotada passando fantasiada na rua. Como eu curto ouvir o “Trick-or-Treat” fico dentro de casa mesmo. Além do que, para mim, o fim de outubro já é um gelo. E é uma farra quando o grupo das minhas filhas passa por aqui. Obviamente, todas as crianças do grupo acham que devem ganhar mais doces quando passam pela porta de uma das famílias delas, e claro que eu não decepciono, e elas saem saltitantes de alegria contando vantagem.
Alguns adultos se fantasiam junto com as crianças. Eu costumo me vestir de preto e colocar um chapelão de bruxa. Meu marido também se veste de preto e usa uma capa longa sobre os ombros. São apenas detalhes, mas que adicionam um certo ar divertido, e a garotada adora.
Quando minhas meninas voltam para casa, ao fim da longa caminhada, nós jantamos e daí elas se põe a contar e classificar seus espólios entre doces favoritos, os que elas gostam um pouco, e os que podem ficar para o papai e a mamãe. Eu imponho racionamento para, literalmente, evitar dores de barriga, e elas podem comer dois docinhos por dia. Quando a quantia que elas trazem para casa é absurda eu separo uma grande parte e faço uma doação ao trabalhadores da loja do Exército da Salvação mais próxima, que ficam realizados.
Isto tudo sem contar as festas, desfiles de fantasia, e peças de teatro organizados nas escolas. Onde minhas filhas estudam até os professores lecionam fantasiados no dia de Halloween, as crianças amam este feriado.
O Halloween marca o início das celebrações de fim de ano nos Estados Unidos, pois vem seguido do Dia de Ação de Graças em novembro, e Natal e Ano Novo em dezembro. É um tal de por e tirar decoração temática que haja disposição, mas não deixa de ser uma curtição, principalmente com a participação das crianças.
Mas de onde vem o Halloween?
Halloween tem suas raízes no “Samhain”, um festival celta pré-cristão, que era celebrado na noite do dia 31 de outubro. Os Celtas que viveram há 2.000 anos na região que hoje abrange a Irlanda, o Reino Unido e o norte da França, acreditavam que os mortos voltavam à Terra durante o Samhain. As pessoas se reuniam para acender fogueiras, oferecer sacrifícios e prestar homenagem aos seus mortos.
Durante algumas das celebrações dos celtas no Samhain, os aldeões se fantasiavam com roupas feitas de peles de animais para afastar os fantasmas visitantes. Banquetes eram preparados e deixados em mesas ao ar livre junto com mantimentos, como oferendas para aplacar os espíritos indesejáveis. Nos séculos seguintes, as pessoas começaram a se vestir como fantasmas, demônios e outras criaturas malévolas, pregando peças pelas vilas em troca de comida, bebida ou combustível para a fogueira da aldeia. Este costume, conhecido como “Disfarce” – fantasia, remonta à Idade Média e é considerado uma das origens do “Trick-or-Treat” – travessuras ou guloseimas.
As primeiras raízes cristãs e medievais do “Trick-or-Treat”
Por volta do século IX o Cristianismo se espalhou por terras celtas, onde gradualmente se mesclou com os costumes locais e acabou por suplantar velhos ritos pagãos. Em 1000 dC, a Igreja designou o dia 2 de novembro como o “All Hallows Day” – traduzido para o português como Dia de Finados, uma data escolhida para honrar os mortos. As celebrações do “Dia de Finados” na Inglaterra pareciam-se com as celebrações celtas de “Samhain”, completas com fogueiras e fantasias. As pessoas pobres visitavam as casas das famílias mais ricas e recebiam doces chamados “bolos da alma” em troca de promessas de rezar pelas almas dos parentes mortos dos proprietários. Conhecido como “souling”, a prática foi posteriormente retomada por crianças, que iam de porta em porta pedir presentes tais como dinheiro ou comida.
Na Escócia e na Irlanda, os jovens participavam de uma tradição chamada “guising”, da palavra inglesa “disguising”, que significa literalmente disfarce. Eles se fantasiavam e iam de porta em porta recebendo oferendas de várias famílias. Mas ao invés de prometer orações para os mortos, eles cantavam uma canção, recitavam um poema, contavam uma piada, ou realizavam outro tipo de “truque” antes de receber uma prenda, que normalmente consistia de frutas ou moedas.
A Malhação de Guy Fawkes
Outra raiz potencial do “Trick-or-Treat” é o costume britânico das crianças colocarem máscaras e carregarem efígies enquanto implorando por moedas de um centavo na Noite do Guy Fawkes (também conhecida como “Bonfire Night” – noite da fogueira), que comemora a frustrada “Conspiração da Pólvora” de 1605, a conspiração Católica tinha como objetivo explodir o prédio do parlamento inglês matando o rei protestante James I e seus parlamentares que estariam em seção, iniciando assim um levante católico. Em 5 de novembro de 1606, Fawkes foi executado por seu papel na tentativa de conspiração. No primeiro “Dia de Guy Fawkes”, celebrado imediatamente após a execução do traidor famoso, fogueiras comunais, ou “fogos de ossos”, foram acesas para queimar efígies de Fawkes assim como os simbólicos “ossos” do papa católico. No início do século 19, as crianças saiam carregando efígies de Fawkes pelas ruas na noite de 5 de novembro, pedindo trocados.
“Trick-or-Treat” nos Estados Unidos
Dependendo de que país Europeu vinham os colonos americanos, eles celebravam o “Bonfire Night” – Dia de Guy Fawkes ou o “All Hallows Even” – A Noite Antes do Dia de Finados. Em meados do século 19 o grande número de novos imigrantes, especialmente aqueles que fugiam da fome da batata da Irlanda na década de 1840, ajudou a popularizar o Halloween, pobremente traduzido para o português como o Dia das Bruxas. Halloween vem da contração Hallowe’en que por sua vez vem de “All Hallows Eve” noite antes do “All Hallows Day” – Dia de Finados.
No início do século 20, as comunidades irlandesas e escocesas reviviam as tradições do Velho Mundo, “souling” e “guising”, nos Estados Unidos. No entanto, esta tendência foi radicalmente reduzida com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, quando as crianças tiveram que interromper a prática por causa do racionamento de açúcar.
Após a Segunda Guerra Mundial a geração do baby-boom (literalmente uma explosão demográfica do pós-guerra) formada por milhões de bebês nascidos entre 1946 e 1964, retomou o “trick-or-treat” no Dia das Bruxas, que rapidamente se tornou uma prática comum para milhões de crianças nos subúrbios recém construídos das cidades americanas. Sem o racionamento de açúcar, empresas de doces capitalizaram com o ritual lucrativo, através do lançamento de campanhas publicitárias nacionais destinadas especificamente ao Halloween. Hoje, os americanos gastam cerca de 6 bilhões de dólares anualmente no Halloween, fazendo deste feriado nacional o segundo de maior sucesso comercial no país.
nossa nao da nada de medo isso é coisa de criança de ano
Estórias assustadoras de Halloween são coisa de cinema. Claro que tem gente que faz festa a fantasia para jovens e adultos onde as pessoas gostam de fazer brincadeiras de assustar. Também tem casas mal assombradas, tipo passeio de parque de diversão, que só abrem nesta época, mas eu prefiro as brincadeiras das crianças.