Ontem vivi uma situação chata, e hoje, passado o primeiro impacto, guardo comigo a sensação positiva do desfecho.
Fui ao supermercado com minha filha para comprar algumas guloseimas para um chá da tarde. Tínhamos apenas quatro itens do carrinho: uma baguete, uma caixa de blueberries, um pão doce de ricota e um de maçã. Não havia ninguém na fila quando eu coloquei meus artigos sobre a esteira, e a moça do caixa puxou conversa, como de costume.
– Como vai? Está tendo um bom dia?
Eu respondi:
– Sim, obrigado. E você?
Ela sorriu e disse que estava bem. Eu gosto dessas trocas cordiais. Agradeço a atenção, e sempre devolvo a gentileza.
Passei o meu cartão de crédito e comecei a seguir as instruções da tela para pagar a minha compra, quando notei que a moça do caixa olhava preocupada para a minha filha, que havia ficado um pouco para trás, folheando as revistas que eles sempre colocam acima da correia transportadora.
– Ele foi rude, mas você se portou bem.
A caixa disse à minha filha.
Quando eu terminei de pagar e olhei para minha filha, seus olhos estavam marejados.
– O que houve filha?
Eu perguntei preocupada.
– Aquele homem atrás de mim bateu a barra de separação no balcão e gritou comigo. Porque ele queria colocar suas coisas na esteira e eu estava no caminho, folheando uma revista.
Eu achei a estória tão improvável que pensei ser exagero de adolescente, mas olhei para a moça do caixa, que confirmou com a cabeça. No tempo que eu levei para pagar a minha pequena compra, com certeza menos de dois minutos, um homem de cabelos brancos, ou seja, pela maturidade aparente já deveria ter aprendido a ser educado, conseguiu fazer minha filha chorar.
– Você disse algo a ele?
– Eu não disse nada não, mãe, vamos embora por favor.
– Mas eu não ouvi nenhum grito?
– É que ele chegou bem perto do meu ouvido para falar. E eu levei um susto mãe, está tudo bem, eu só quero ir embora.
Ela me respondeu enquanto secava um lágrima teimosa.
O fulano se aproximou de uma criança lendo distraída, para dispensar grosseria, porque não podia esperar um minuto sequer para começar a descarregar o carrinho.
Aquela foi a gota d’água, eu cruzei os braços e olhei para o homem ostentando a minha melhor expressão de “não mexa com a minha filha”. Olhei para o meu relógio, e comecei a contar um minuto encarando o indivíduo. A moça do caixa imediatamente seguiu minha liderança, cruzou os braços e se pôs a encará-lo também, com um olhar tipo: “O que um velho como você, pensa que está fazendo ao tratar uma criança assim?”
Ele baixou os olhos imediatamente e não se atreveu a tirá-los do chão durante todo o minuto que marquei no relógio. Dei uma última medida de cima abaixo na figura, peguei a mão da minha filha e sai andando como se nada tivesse acontecido.
Aquela moça do caixa foi gentilíssima e atenta. Enquanto eu estava distraída pagando a conta ela ficou de olho na minha filha e a apoiou. Foi questão de segundos, mas jamais esquecerei a solidariedade daquela mulher naquele momento.
E com relação aos gritões, e outros rudes que estão sempre impacientes querendo atropelar os outros, por favor peguem leve, ao contrário do que se diz, o mundo não foi feito em sete dias.
Boas maneiras são importantes em qualquer lugar do mundo, ser gentil e bem educado abre portas, grosserias fecham.