Realidade em outros países da Europa (França, Bélgica, Holanda e Itália desde 2011 e Espanha desde 2007), a discussão em torno da introdução de cotas para mulheres nos conselhos de administração e posições de liderança chegou com força aqui na Alemanha.
A cidade-estado de Hamburgo está propondo um projeto de lei que obriga empresas a terem 40% de mulheres em conselhos de administração das empresas negociadas em bolsa. Há um complemento de projeto que quer que o sistema de quotas seja estendido também ao comando executivo das empresas. Atualmente o percentual é de quase 18%.
A chanceler Angela Merkel é a favor de uma “cota flexível”, em que empresas se declarem favoráveis à causa e cada uma implemente por si. O que não se entende é porque não pode haver uma mistura das duas: cota obrigatória nos conselhos e cargos executivos e flexível nos demais cargos de liderança?
A discriminação por parte dos homens, controle do Estado, violação do princípio da premiação por resultados são os principais argumentos dos que são contra à quota. Muitas mulheres não estão igualmente de acordo, pois querem ser contratadas e promovidas pelas sua capacidade. Uma posição compreensível, mas errada, afirmam alguns especialistas. A história da emancipação ensina que, sem leis concretas e ofensivas não há progresso nessa área. Como exemplo tem-se a reforma na lei do divórcio de 1977 e a lei da custódia de crianças, que só então garantiram os direitos das mulheres nos casos de separação.
A adesão de “livre e espontânea vontade” das empresas não trouxeram progressos significativos e a introdução de cotas é a única maneira de quebrar a “cota dos homens”, diz um artigo do Süddeutsche Zeitung, uma vez que esse tratamento igual é dado numa base desigual devido a situação familiar de mulheres, ou seja, elas ainda têm outras obrigações familiares que os homens não têm. “Não adianta as mulheres poderem tudo na teoria, elas precisam poder também na prática”.
O impacto nos conselhos e na direção das empresas será grande. Mas não só lá. O aumento da participação feminina deverá alterar também a politica de pessoal nas companhias: mulheres irão estimular o desenvolvimento profissional de outras mulheres. Elas poderão modificar as culturas corporativas de maneira positiva, como na Noruega, que desde 2008 também já conta com a quota nos conselhos de administração, diz a matéria.
“É inaceitável que mais de 40% dos formandos em cursos superiores são mulheres, que em parte têm aproveitamento acadêmico melhor do que dos homens, e ao final da carreira isso se dilui. A Alemanha não pode se dar ao luxo de perder essa preciosa força de trabalho.”, diz a presidente da organização das empresárias alemãs a um jornal.
A União Europeia está querendo ir pelo mesmo caminho: até 2020 deve haver pelo menos 40% de mulheres nos conselhos de administração das corporações na Europa. No verão deverá ser feita a sugestão pela Comissária de Justiça, seguidos de 3 meses de discussão aberta, o que deve acabar em maio de 2013. A decisão foi tomada porque, ao seu ver, as intenções trouxeram poucos resultados práticos.
Mas o que acontecerá então com os homens? O jornal FAZ publicou um artigo em que é colocado que os homens entre 30 e 45 anos estão ameaçados de verem suas promoções virarem fumaça, pois não há tantos cargos de direção assim disponíveis para absorver tantos homens preparados…. Os tempos estão difíceis, e a previsão é de que vai ficar pior. Se as quotas realmente forem aplicadas, quase nenhum homem será promovido a alta gerência nos próximos 5 anos. Dois degraus antes da diretoria executiva existem normalmente 85 a 90% de homens brigando por uma vaga.
Abertamente, quase nenhum homem reclama. Quem quer ser taxado de tirar os direitos das mulheres? Eles então se fecham, enterram seus planos de carreira, perdem a motivação. Especialistas prevêm resignação, medo e cinismo dos homens no ambiente de trabalho como o próximo grande problema. Na Deutsche Telekom, por exemplo, onde foi determinado uma cota que 30% para mulheres, um funcionário disse que dois fatores contam para uma promoção na empresa: tempo de casa e sexo. E ele é homem….
Há, entretanto, outros meios de se fazer crescer a participação de mulheres nos cargos de direção: estender a oferta de instituições de assistência a crianças é fundamental, dedução no imposto de renda dos custos com o cuidado e assistência aos pequenos, aumento de oferta de trabalhos em período parcial e flexibilização do local de trabalho dos homens estimulam o pai E a mãe a irem ao trabalho.
Complementando, há algum tempo li sobre a forma que as mulheres encaram o trabalho. A reportagem citava o exemplo de mulheres que desistiram de suas carreiras corporativas por não se sentirem compensadas pelo tempo que passam longe de seus filhos e buscavam ocupações alternativas que incorporassem a nova situação familiar. Também foi citado o “jogo de poder” que existe em muitas empresas nos altos cargos executivos e que muitas mulheres se negam a jogá-lo.
Por outro lado foi mencionado que a maioria de homens faz muitas vezes o ambiente corporativo ser competitivo e “masculino” demais para muitas e que nós precisamos aprender a se impor nesse ambiente, não só em termos de apresentação pessoal, mas também na forma de comunicação.
Mas será? E será que a adoção de cotas pode aumentar a pressão para que se resolvam os outros problemas que impedem as mulheres de subirem na carreira ou é simplesmente uma lei que faltava? Ou vai causar mais problemas do que soluções? Que alguma coisa precisa mudar no sistema, precisa.
Leia também:
Executivos brasileiros não querem cotas para mulheres nos conselhos administrativos.
Sandra, encontrei um artigo bacana sobre essa questão aqui nos EUA, e outro sobre a posição dos executivos brasileiros, que claro são contra. Acrescentei o link no post e divulguei na página do Facebook. Espero que você aprove. 😉
Achei os artigos ótimos! Eu ando lendo tanta coisa sobre isso aqui que resolvi fazer um resumão da situação e colocar como post. E acho que os seus complementam perfeitamente a discussão. Já compartilhei e comentei. Muito bom!