Um projeto de lei na cidade de Nova York está gerando bastante polemica aqui nos Estados Unidos. O prefeito da cidade, Michael Bloomberg, acaba de conseguir aprovar uma proposta para um processo experimental de três meses, que bane copos que comportam mais que dezesseis onças (16 oz) – o equivalente a 473ml, quase meio litro, de serem servidos nos restaurantes, bares, lanchonetes, lojas de conveniencia ou barraquinhas de rua da cidade. http://www.cnn.com/2012/06/12/justice/new-york-soda-ban/index.html
Um copo de meio litro de Coca-Cola me parece imenso, mas aqui a maioria das cadeias de lanchonetes tipo fast-food como McDonalds, e vários restaurantes, oferecem copos que comportam até quarenta e duas onças (42 oz), ou seja 1,250 litros, como porção individual de refrigerante, refresco ou cerveja.
Não foi sempre assim, as porções foram aumentando sistematicamente no país nos últimos quarenta anos. Na década de cinquenta as porções americanas eram equivalentes as porções brasileiras. Conforme mostra o gráfico no artigo do Huffington Post, The New (Ab)Normal Portion Sizes: Today x In The 50s http://www.huffingtonpost.com/2012/05/23/portion-sizes-infographic_n_1539804.html
Quando eu mudei para os Estados Unidos paguei vários micos até aprender a escolher o que pedir quando saia para comer. As porções consideradas individuais aqui são ridiculamente grandes, como vocês podem ver na foto ao lado, e eu aprendi a fazer uma coisa que não pega bem no Brasil, mas é perfeitamente aceitável aqui. Eu trago o que sobra de comida para casa. A não ser em restaurantes ultra sofisticados, que eu frequento esporadicamente, e que costumam ter porções mais razoáveis, a não ser os de menu fixo como o Per Se em Nova York, a grande maioria dos restaurantes aqui embalam o que não foi consumido para levarmos para casa. Na verdade eles estão tão habituados a isto que ao final da refeição, quando eles não perguntam se você quer caixinhas para embalar sua própria comida, eles mesmos embalam, e te trazem a sacolinha com o logo do restaurante cheia de caixinhas, com todas as sobras da sua refeição, junto com a conta. Na verdade, se você deixa bastante comida no prato e diz que não vai levar para casa, eles perguntam se há algum problema com a comida. Eu estou tão acostumada ao sistema que hoje em dia pego minha sacolinha e saio andando numa boa, no dia seguinte o almoço está garantido, nada de desperdício.
Outra coisa que eu também faço que já não é tão comum, surpreendentemente, é pedir um prato para compartilhar com as minhas filhas ou meu marido. As vezes pedimos apenas dois pratos e dividimos entre os quatro. Já causamos surpresa a vários garçons com esta prática.
No entanto uma grande parte da clientela realmente consome estas porções gigantescas em uma refeição. O que me faz compreender a iniciativa do prefeito de Nova York. O que ele diz é que não está proibindo ninguém de consumir quanta bebida açucarada quiser, mas que as pessoas terão que pedir mais copos para beberem 1.2 litros de Fanta, e quem sabe assim elas se conscientizarão da quantia que estão consumindo.
É claro que a Coca-Cola está em campanha contra a medida, e vários jornalistas estão dizendo que ela é contra a liberdade de escolha de cada um, quem não quiser beber tanto que não peça o maior copo, mas eu acho que ele está tocando num ponto real. Este copos gigantes viraram o padrão para muitos, que perderam a sensibilidade para o quanto estão consumindo.
A primeira vez que entrei num Starbucks levei vários sustos, primeiro eles servem café em copos e não xícaras, e o menor copo de café que eles servem chama-se tall – alto em inglês, e contém doze onças (12oz – 355ml) de café, ou qualquer das misturas que eles oferecem. O menor café que eles oferecem é o short (8oz – 236ml), que não está no menu. Você precisa saber que existe para pedir, e eu não sabia. Joguei muito café fora até descobrir o short, e mesmo assim só vou ao Starbucks se tenho alguém com quem dividir um café. Ah, e eles só fazem bebidas quentes no tamanho short. Os cafés gelados, tipo frappés, são oferecidos somente de tall para cima, e vem com uma tampa redonda quase da altura do copo para conter o chantili, são bonitos de se ver. As outras porções oferecidas no Starbucks são: grande (16oz – 470ml), venti (20oz – 590ml), iced venty – venti com gelo (24oz – 710ml), e o espetacular trenta, tamanho exclusivo para cafés gelados (32oz – 946ml). Para colocar toda essa informação em perspectiva basta sabermos que a capacidade média do estomago humano é de 900ml como demonstra a ilustração no link do National Post: http://news.nationalpost.com/2011/01/17/graphic-how-big-exactly-is-starbucks-new-trenta-size/
O Starbucks passou a oferecer o tamanho trenta em 2011 para concorrer com lojas de conveniencia que oferecem copos de bebidas geladas entre 950ml a até o extraordinário volume de 1,9L. É realmente de impressionar.
Outra coisa que me espanta aqui são os baldes de pipocas vendidos nos cinemas, que vem, claro, com um gigantesco copo de refrigerantes. Até a porção infantil é enorme. Quando minhas filhas querem pipocas eu compro uma porção infantil para a família toda.
Num país onde mais de um terço da população é obesa (não fofinha, OBESA MESMO) – para detalhes cheque o link do Centers for Desease Control and Prevention (Centros para a Prevenção e Controle de Doenças) http://www.cdc.gov/obesity/data/adult.html, talvez Michael Bloomberg esteja no caminho certo.
Eu me lembro quando estive a primeira vez te visitando nos EUA. As férias foram ótimas, como sempre, mas engordei 5 kilos em 3 semanas como efeito das porções enormes de comida e sobremesa que pedíamos! E só consegui livrar-me deles 5 anos depois, com muita ginástica e uma dieta rigorosa.
Então me pergunto onde está o poder de decisão da população em não pedir os copos gigantes e as porções monstruosas que os restaurantes servem? Claro que Coca-cola e Mc Donald’s são contra. Eles vão ter que fazer mudanças estruturais em seus negócios para manter o nível de faturamento de antes…
Mas creio que a iniciativa é válida. Pode gerar mesmo uma mudança de comportamento e uma consciência que a população hoje não tem e precisa desenvolver para diminuir a obesidade, um problema epidêmico de saúde pública.
Seria bom se isso se espalhasse pelo país todo! Mas aí não seria uma tarefa para prefeituras, e sim uma tarefa para o governo federal. E ele vai comprar a briga?
Olha San, em ano de eleição, e com tantos problemas complexos como o desemprego, e a manutenção do novo plano para a saúde pública acho que ele está com a agenda tomada. A Michele Obama está carregando esta bandeira, espero que eles sigam na Casa Branca para avançarem ainda mais neste e outros projetos que começaram e que são necessários ao país.
Estou torcendo por isso também.
Acho até que a primeira dama tem peito para comprar essa briga!
Ela está em campanha séria contra a obesidade infantil no país. Vamos ver se eles seguem por mais um mandato para avançar ainda mais. Estou na torcida.