“Vestibular” Americano

“Vestibular” Americano – Jovens Brasileiros São Bem Vindos

Não sei como anda o vestibular no Brasil com o Enem, mas estou descobrindo o processo que os jovens americanos enfrentam para entrar numa faculdade nos Estados Unidos com fascinação.

Enquanto no Brasil o sistema é 100% acadêmico, pelo menos era nos meus tempos de vestibular—no fim dos anos 80; nos Estados Unidos usa-se o que eles chamam de Processo Holístico. Não se leva em consideração apenas o resultado de testes, mas sim o conteúdo de dissertações sobre temas da atualidade, e outras de conotação pessoal do tipo: “Por que você acha que essa é a universidade certa para você?” Também são solicitadas cartas de recomendação, e detalhes sobre suas atividades extracurriculares. Bons atletas, músicos, bailarinos, cantores, atores, escoteiros, etc. devem expor estes aspectos de suas vidas. Atletas são particularmente bem vindos, chegando a receber bolsas de estudo integrais. Jovens músicos que tocam instrumentos clássicos como violino, viola, oboé, etc. também são bastante cogitados, dependendo da sua habilidade. Sem falar em intermináveis questionários online onde entram-se detalhes da vida inteira.

Outra diferença bastante interessante refere-se aos testes. No Brasil, no meu tempo, para cada universidade (university) ou faculdade (college) o jovem precisava passar por uma bateria de testes. Se você quisesse tentar entrar em 8 (oito) faculdades, tinha que participar de 8 vestibulares, ou prestar 8 vestibulares, e tinha que passar por 8 testes diferentes, sendo que alguns deles envolviam mais de uma fase. Nos Estados Unidos, os jovens escolhem entre dois testes padronizados, o SAT e o ACT (ambos oferecidos por companhias independentes), sendo que faculdades de elite (chamadas Ivy League, como Harvard, Yale, Princeton e Stanford entre várias outras), e de ciências exatas em geral, exigem o ACT. Além destes testes que cobrem inglês, matemática, e análise de dados, também são oferecidos testes específicos para matérias como química, biologia, física, história, e idiomas estrangeiros. A grande vantagem deste sistema é que os jovens fazem testes relacionados aos seus interesses. Assim, se o objetivo é entrar numa faculdade de engenharia, não é necessário fazer teste de história, por exemplo. Os jovens fazem os testes que enriquecerão seus currículos de acordo com as faculdades para as quais querem se inscrever. E usam os mesmos resultados para todas elas. É bastante prático. Faz-se os testes, e no website da empresa que os organiza marca-se as faculdades e/ou universidades para as quais se pretende “prestar”, e todas recebem formulários pelo correio no seu nome, com os seus resultados.

Outro aspecto que eu estou achando muito bacana sobre esse sistema é que respeitando-se um intervalo, que varia de acordo com o teste, pode-se repetir os testes quantas vezes se desejar. Por exemplo, se o resultado do ACT na primeira tentativa oficial não foi satisfatório, tenta-se de novo em alguns meses. As faculdades que estão na sua lista verão todos os resultados, mas dentro de um certo número razoável de tentativas (digamos no máximo três num período de um ano), elas apreciam o esforço dos jovens em estudar, e registram seus melhores resultados em cada matéria, e em cada teste, no processo final de avaliação. Isto sem contar a chance de se fazer os testes nas datas oficiais sem que se registrem os resultados oficialmente, estes são chamados testes preparatórios ou Prep-SAT (PSAT), por exemplo. Pode-se fazer Prep-Tests para todas as matérias nas datas oficiais, basta marcar a opção prep na hora da inscrição. Alguns jovens começam a fazer pre-tests na oitava série para saber em que matérias eles precisam se dedicar mais e para quais matérias eles tem uma aptidão natural.

Pronto, fácil fácil, basta ter excelentes notas que todo o mundo fica sabendo.

Currículo, porém, é a palavra-chave. O processo americano mais parece o de construir um currículo vitae onde os jovens descrevem capacidade intelectual, interesses, habilidades e experiências de vida. Não basta, de longe, ser bom aluno e se sair bem nos testes padronizados, tem que ter algum talento especial ou interesse ao qual se demonstra compromisso de anos, e alguma estória de vida para contar.

Vamos começar com o tal do interesse, é por aí que se começa a compreender a verdadeira obsessão dos pais americanos com associações, voluntariado, clubes esportivos de bairro, artes, etc. etc. Como dizemos no Brasil, é de pequenino que se torce o pepino, pois é, gracinhas a parte, é logo entre 4 e 6 anos que as crianças americanas, de pais bem informados, começam a praticar esportes como natação, futebol americano (aquele que se joga com as mãos) e o nosso tradicional de bola no pé que aqui chama-se soccer (daí o termo, tradicionalíssimo, soccer-mom – mãe que leva filho para cima e para baixo por conta de atividades extracurriculares), balé, tênis, reuniões de escoteiros, coral musical, orquestra, banda, clube de xadrez, de debate, de soletrar, de desenhar, de inventar (falando sério, chama-se “makers” ou uma variação de criadores em inglês, começa com lego e vai ficando cada vez mais sofisticado até chegar a robótica, tem até robô de lego), enfim, as opções são inúmeras. Isso é bacana, pois existem atividades para todas aptidões e personalidades, mas por outro lado, pode ser bem complicado para se decidir ao que se dedicar. Todos sobrevivem, porém, e após alguns anos batendo cabeça entre várias atividade, lá pela sexta série, a primeira do ginasial (middle school) as crianças com alguma aptidão particularmente especial já foram identificadas. Tipo aquele molequinho que logo na terceira aula de natação já colocava duas piscinas na frente dos coleguinhas, pois é, acontece mesmo que eu vi, ninguém me contou. As outras crianças que não nasceram com guelras, também já descobriram que curtem ser escoteiras, ou voluntariar no banco de alimentos da cidade, ou desenhar, dançar balé, tocar violino, etc. Se o jovem é absolutamente fantástico em alguma coisa, pode ser que consiga uma bolsa de estudos pelo menos parcial. Mesmo que esse não seja o caso, se a atividade que se gosta for levada com compromisso e seriedade, tipo voluntariar por uma ou duas horas toda semana por anos (algumas escolas, e com certeza os pais, ajudam as crianças a encontrar organizações adequadas para cada idade), o resultado é uma estória de dedicação que fica muito bonita no currículo dos jovens vestibulandos.

Ótimo, você diz, entendi tudo: boas notas no histórico escolar, boas notas nos testes padronizados, e alguma atividade, ou com sorte talento atlético ou artístico, beleza, peguei o jeito da coisa. Ainda não.

Agora vem o detalhe que fecha o currículo ideal, a tal experiência de vida. Por favor, me diga, que experiência de vida para contar tem o jovem de dezessete-dezoito anos, de classe média, numa sociedade relativamente segura, e que cresceu protegido pelos pais? E esse é o grande mistério das dissertações para se entrar nas faculdades e/ou universidades americanas, e que faz com que o processo seja um tanto turvo. Minhas filhas não terão problemas nesse quesito. Através da nossa vida de nômades elas viveram em três continentes, e mudaram de escola tantas vezes, que têm estórias para contar até demais. Porém, tenho muitos amigos americanos cujos filhos não conseguem entrar nas faculdades que gostariam por conta desse fator. A boa notícia para os brasileiros é que o ser brasileiro conta como algo interessante para se explorar numa dissertação. Portanto, jovens brasileiros estudiosos e talentosos, não se acanhem, as universidade americanas estão interessadas em vocês. Se você fala inglês fluentemente e tem condições de bancar os custos de tal empreitada, suas chances de entrar na faculdade americana da sua escolha, incluindo “Ivy League”, são maiores que as chances dos jovens americanos de classe média. Mas se você pensa em estudar no exterior, deveria considerar também a Alemanha que recebe estudantes fluentes em inglês com boas notas, e oferece curso universitário gratuito para estrangeiros.

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Revisão da Lei Americana “No Child Left Behind”

learningApós anos de críticas e meses de debates, ficou pronta hoje a revisão da lei “No Child Left Behind” que, se tudo correr como o esperado, poderá ser votada na primeira semana de dezembro. Numa conquista rara para o congresso americano, o novo projeto de lei foi desenvolvido através da cooperação entre os dois partidos políticos americanos, o Democrata e o Republicano.

A lei criada em 2001 é questionada há anos por ser excessivamente punitiva às escolas que servem as comunidades mais carentes dos estados americanos. Através de um controle por testes padronizados o governo federal pune as escolas com médias baixas cortando suas verbas, o que levou ao fechamento de várias escolas em comunidades carentes que não conseguem sobreviver sem o subsídio federal. Falei brevemente sobre o tema num post de 2012.

Numa tentativa de mudar o foco dos currículos escolares dos estados em testes padronizados, e sim em melhorar o nível de ensino por todo o país de maneira mais coêsa, o governo americano criou o Common Core. Os primeiros testes acadêmicos desde sua introdução em 2010 saíram no começo deste ano, mas para sabermos se o novo programa atingirá o objetivo de preparar as crianças para enfrentar os desafios atuais do ensino superior, e do mercado de trabalho, teremos que esperar mais alguns anos.

Minha experiência pessoal com o programa, através da minha filha que está na sétima série, numa escola pública considerada uma das melhores do país, está sendo muito positiva. Em matemática, por exemplo, o Common Core estabelece que as crianças não devem apenas solucionar os problemas aritiméticos, mas sim desenvolver a compreensão do processo que a levou a solucioná-los. As escolas tem liberdade para desenvolver seus programas. O Common Core é um conjunto de parâmetros, e não de métodos. E cada estado pode desenvolver o seu currículo respeitando os parâmetros e objetivos do programa, que são bastante ambiciosos.

A Califórnia está entre os estados que estão participando dos primeiros testes padronizados que ainda estão em desenvolvimento. Através dos resultados de cada teste o comitê responsável pelo teste ajusta sua metodologia. O objetivo é um teste em comum para todos os estados, hoje em dia cada estado tem seu próprio teste com diferentes padrões de dificuldade o que reflete seus diferentes padrões de ensino. Agora todos serão nivelados, espera-se que por cima.

 

Paulistano em São Francisco Sente-se em Casa

De Volta ao Caos Urbano na Baía de São Francisco

De Volta ao Caos Urbano na Baía de São Francisco

Após vários anos vivendo em subúrbios americanos super tranquilos na Flórida e na Georgia, mudei para a Baía de São Francisco na Califórnia. Estou de volta ao caos urbano.

       Transito, com direito a buzina, palavrão (sendo jerk, uma versão chula de idiota em inglês, o mais suave), e claro, gestos obscenos. Ah, e multas, coisa que não fazia parte da minha vida há muitos anos;

       Poluição, já faz duas semanas que apesar do frio não se pode acender lareira tradicional, sabe, do tipo que leva pedaços de madeira. Só quem tem o sistema a gás pode usar a lareira até sairmos do vermelho no índice de poluição atmosférica local;

       Pedintes nas esquinas, e sem teto vivendo em barracas de acampamento nos parques (se bem que para os padrões brasileiros tem sem-teto aqui até que bem equipado, mas também tem aqueles que dormem sobre papelão nas calçadas). Pelo menos não se vê crianças pedindo nas ruas;

       Filas enormes para pagar compras no supermercado, isso eu não enfrentava desde Xangai;

       Achar lugar para estacionar é um parto. Até os estacionamentos lotam, e há que se rodar para encontrar uma vaguinha apertada. Fazia anos que eu não precisava estacionar na paralela tanto quanto em São Francisco;

       Esperas absurdas nos restaurantes;

       Filas em postos de gasolina, juro;

       Custo de vida altíssimo, começando pelo preço do combustível, que na Califórnia é o mais alto dos Estados Unidos, tudo aqui é um absurdo. Os imóveis são ridiculamente caros, alugueis, escolas particulares, alimentos, enfim, somente os itens de consumo como eletrônicos, brinquedos, e roupas seguem os padrões que os brasileiros normalmente encontram no restante do país;

       Filas espetaculares no pedágio para atravessar a ponte “Bay Bridge” de Oakland para São Francisco, sabe quando a gente vai para o litoral em feriado, em fim de semana de jogos e shows grandes na cidade, fica daquele jeito, sem brincadeira, é de desanimar;

       Serviço público de qualidade duvidosa. Nem acreditei no atendimento que recebi num posto dos correios aqui perto de casa. Me senti em São Paulo;

       Correria insana, todo mundo está sempre correndo para lá e para cá num vai e vem incessante;

Enfim, estou me sentindo paulistana de novo. O stress está aumentando, a paciência acabando, e aquele jeitinho tranquilo que a gente adquire após anos vivendo em ambientes bucólicos (tipo cidadezinha do interior), está aos poucos sendo substituído por um certo ar de determinação, e aquela atitude de sai-da-frente-que-atrás-vem-gente, que todo habitante de grande metrópole conhece bem.

Contatos de Emergência

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Vida de expatriado tem muitos desafios, mas um dos mais complexos é o tempo que levamos para estabelecermos relacionamentos sólidos. Relacionamentos sólidos para mim são aqueles de confiança, do tipo:

 

– Posso por você na lista de contatos de emergência da escola?

 

E é claro que este tempo varia de acordo com o lugar para onde nos relocamos. Por exemplo, estou na Califórnia há pouco mais de quatro meses e ainda não tenho contatos de emergência. Somos meu marido e eu para segurar todas as barras, quando ele está perto o suficiente, senão somos eu e Deus, como dizemos no Brasil.

 

As vezes damos sorte e pinta um “rapport” com um vizinho, outras vezes a cultura do lugar ajuda. Na Georgia, logo no primeiro dia de aulas das crianças conheci uma mãe enquanto esperávamos o ônibus escolar na esquina de casa. Quando eu disse que havia mudado para lá havia poucas semanas e ainda não tinha sequer um conhecido para colocar na lista de emergência da escola, ela imediatamente me ofereceu seu número. Ela também era expatriada, e apesar de haver mudado da Índia para os Estados Unidos fazia anos compreendeu imediatamente minha situação. Somos grandes amigas até hoje. Ela me apresentou aos vizinhos, e duas outras famílias se colocaram a disposição para qualquer situação inusitada, como estar num consultório médico porque uma criança se acidentou, e alguém precisa ir buscar seu outro filho na escola, e ficar com ele por algumas horas. Seu marido está do outro lado do atlântico, ou pacífico, ou qualquer outro oceano, em viajem de negócios, e não dá para contar com ele. Já passei várias situações assim.

 

Aqui na Califórnia as pessoas parecem ser mais reservadas, informais sim, porém cautelosas. E apesar de haver jogado um verde, mencionando de passagem como acabamos de chegar e ainda nem temos os tais contatos de emergência, ninguém se ofereceu para o posto. Já perguntaram se minha filha mais velha, que tem quatorze anos, se interessaria em trabalhar de baby-sitter, mas o tal contato de emergência nada. Não estou tão desesperada porque minhas crianças já sabem ficar sozinhas em casa, mas ainda assim, estou torcendo para encontrar alguém que se candidate o quanto antes.

 

O Chá de Erva Doce Chegou aos EUA

Fennel é Erva Doce em inglês. Um dos meus chás favoritos finalmente chegou aos Estados Unidos.

Encontrei na área de orgânicos do Safeway, uma cadeia de super-mercados daqui da Califórnia, mas acho que deve-se encontrar por todo país, senão em mercados comuns, certamente em lojas de produtos naturais e no Wholefoods.

Delícia!

 

Chá de Erva Doce

Valentine’s Day não é Como o Dia dos Namorados no Brasil

Amanhã é Valentine’s Day aqui nos Estados Unidos. Como no Dia dos Namorados no Brasil os casais trocam delicadezas como chocolates e flores, e até presentes sofisticados como joias e viagens românticas. Mas o que eu mais curto neste dia é a troca de cartões entre amigos e parentes que os americanos fazem, principalmente as crianças.

Os americanos usam esta data para declarar carinho e apreciação a todos que amam, não apenas aos seus parceiros românticos. No seu livro Minha Vida na França – “My Life in France”, Julia Child conta que ela e seu marido, o diplomata Paul Child, escolheram este dia para manter contato com os familiares que viviam nos Estados Unidos, e com os amigos que fizeram em suas viagens pelo mundo. Eles eram extremamente caprichosos e seguindo a tradição americana de fazer os cartões manualmente, chegavam a montar altas produções fotográficas para decorar seus valentines. Os cartões de Valentine’s Day são chamados valentines, uma paquera também pode ser chamada de valentine, no Valentine’s Day namorados e casados chamam seus parceiros de valentine, ou seja, valentine é uma palavra coringa amplamente utilizada não somente no Valentine’s Day mas nas semanas que o antecedem.

Nas escolas as crianças do primário (elementary school) levam bilhetinhos com algum docinho ou bombom para todos os coleguinhas de classe. Semanas antes da data as crianças decoram caixas de sapatos e levam para a escola para guardar seus valentines, e as professoras enviam listas com os nomes de todos os amiguinhos para as crianças não esquecerem de ninguém. E é claro que as crianças também entregam valentines aos seus professores.

Olha só que graça essa idéia de caixa para valentines da Crissy's Crafts

A partir do ginasial (middle school), os adolescentes não trocam valentines com todos os amigos; sabe como é, isso passa a ser coisa de crianças e eles são “adultos” demais para essas bobagens. Algumas meninas nessa fase ainda entregam valentines para as melhores amigas, mas não para os meninos, a não ser que sejam namorados, pois não querem ser mal interpretadas. Os meninos dessa idade porém, só entregam valentines às namoradas, ou para a menina que eles gostariam que fosse a namorada, coisa que exige muita coragem.

Aqui em casa eu ajudo minha pequena a decorar sua caixa de coletar valentines, e a preparar os catões para todos os amiguinhos; ajudo a minha mocinha com os seus cartões para as melhores amigas (ainda não temos paqueras sérias para considerar, mas do jeito que vamos não demorará muito); e costumo fazer um jantar gostoso para toda a família. As vezes eu compro uma das sobremesas tentadoras em formato de coração que decoram as vitrines das padarias dos mercados. Para o marido? Um cartão, e quiçá as crianças irão cedo para a cama, assim poderemos assistir um filminho romântico abraçadinhos no sofá.

As Crianças Crescem, e as Tradições Mudam, Mas o Espirito do Natal Permanece

A casa já esta pronta para a festa.

No Brasil a noite do dia 24 de dezembro é amplamente celebrada. É na véspera do Natal que os brasileiros ceiam a trocam presentes. Aqui nos Estados Unidos os costumes são diferentes. Algumas famílias até se reúnem para um jantar em família, outras vão à missa, mas a grande celebração para as crianças acontece na manhã do dia 25. Pois durante a noite, enquanto as crianças dormem, o Papai Noel desce pela chaminé da casa (se a casa não tiver chaminé ele entra pela janela mesmo) com seu saco de presentes e os arranja ao redor da Árvore de Natal, então ele come o cookie e bebe o leite que as crianças deixam preparados numa mesinha próxima a árvore, e parte para a próxima casa. Não é de se espantar que ele seja tão fofo, bebendo leite e comendo cookies em todas as casa do mundo como faz.

Aqui as missas de Natal do dia 24 são bem lotadas. No dia seguinte, 25 de dezembro, a criançada acorda e pula da cama animadíssima, corre para a sala e se põe a abrir presentes. Após a abertura dos pacotes, toma-se um lauto café da manhã com ovos, bacon e panquecas, pula-se o almoço, e vai-se direto para o jantar, servido cedo. Os pratos principais são, em geral, peru, presunto defumado (aquele que chamamos de tender no Brasil), pato assado, e pequenas aves como perdizes. Os acompanhamentos tradicionais incluem algum tipo de geleia agridoce como a de cranberry, purê de batatas, legumes grelhados ao refogados, e saladas. E as sobremesas sempre incluem brownies e cookies para as crianças.

Quando nossas filhas nasceram decidimos manter nossos hábitos brasileiros. Então, aqui em casa enquanto as meninas acreditavam em Papai Noel, nós jantávamos tarde, meu marido escapava para se fantasiar de Papai Noel e quando eu levava as crianças para a sala ele estava lá sentado, suando, pois morávamos na Florida onde os invernos são quentes como os do Rio de Janeiro. Ele abria seu saco de presentes e chamava as meninas que se sentavam no colo dele e ficavam encantadas, nem davam pela falta do pai. Com os anos elas passaram a perguntar: “Cadê meu pai.” Até que se tocaram, e agora a família toda é Papai Noel para as crianças das entidades que nós ajudamos todos os anos.

Eu ensinei as meninas que o Papai Noel é uma representação do espirito de bondade e caridade, que todos que podem devem ter para com os que precisam, e não apenas nesta época. Assim, além das doações que fazemos no decorrer do ano, em dezembro cada uma das meninas adota uma criança do orfanato mantido pela escola onde elas estudam. É uma entidade muito especial chamada “My House – Minha Casa”, que cuida de crianças com problemas de saúde cujas famílias não tem condições de assumir, por falta de dinheiro e/ou de estrutura, muitas vezes essas crianças são tiradas das famílias por maus tratos, e são encaminhadas à “My House” por estarem subnutridas e com sérios problemas emocionais, quando se recuperam retornam às famílias ou são encaminhadas para um orfanato convencional. Pegamos a lista de necessidades de duas crianças e montamos os pacotes, que são entregues pessoalmente pelos alunos da sexta série, todos os anos.

As listas incluem itens básicos, como artigos de higiene pessoal, pijamas, meias e chinelos, e vai até brinquedos adequados à idade e ao desenvolvimento de cada criança. Para algumas crianças, com problemas de saúde mais graves, a entidade pede dinheiro para a compra de medicamentos e descartáveis, quando é assim, fazemos um envelope com o dinheiro. Em ambos os casos as crianças escrevem cartas para acompanhar os presentes. Desta maneira, meu marido e eu vamos ensinando nossas filhas a pensarem no próximo, e serem, elas mesmas, representantes do Papai Noel.

Torta de Frango com Cream Cheese

Esta torta é uma adaptação da torta de frango com massa podre tradicional brasileira que eu incrementei com cream cheese, queijo cremoso americano tipo Philadelphia.

Siga a receita deste link para massa podre, se estiver com pressa use a massa comprada de sua preferência.

Agora, o recheio é o segredo. Toda vez que faço canja de galinha eu cozinho dois peitos grandes de frango com pele e osso, juntamente com os legumes e o tempero para o caldo (a panela de pressão encurta bem o tempo de cozimento). Quando estiverem macios, retire ambos os peitos de frango da panela, desosse, descarte a pele e corte a carne em cubos pequenos. Devolva 1/3 da carne picada à panela, adicione o macarrão a ser cozido no caldo saboroso, e sirva com pãozinho francês e um bom queijo prato. Os 2/3 da carne reservados serão usados na torta.

Torta de Frango com Cream Cheese

Torta de Frango com Cream Cheese

Ingredientes:

2 colheres de sopa de azeite de oliva;

½ Kg de peito de frango cozido e cortado em cubos;

1 cebola média bem bicada;

1 colher de sopa de salsinha picada;

1 colher de sopa de manjericão picado;

3 tomates ralados em ralo grosso, ou bem picadinhos;

1 tablete de cream cheese Philadelphia ou da marca de sua preferência, mas não pode ser light.

Preparo:

Aqueça uma panela, acrescente o azeite e refogue a cebola, acrescente o frango, os tomates, a salsinha e o manjericão. Quando o refogado estiver borbulhando adicione cream cheese. Misture com frequência, e uma vez que o creme de queijo tenha derretido completamente, prove o refogado e ajuste o sal. Desligue o fogo e deixe esfriar.

Aqueça o forno a 190º C. Forre uma forma de torta (eu gosto das de vidro) com um dos discos de massa podre, despeje o recheio e cubra com o segundo disco. Use um garfo para pressionar as bordas. Bata um ovo e pincele o topo. Faça 4 cortes de uns 3 centímetros cada na massa para permitir que os vapores do recheio escapem e a massa fique assentada. Quando as bordas dourarem, após cerca de 15 minutos no forno, retire a torta do forno e forre as bordas com papel alumínio, e retorne-a ao forno por 15 a 20 minutos mais. Voilà!

Meu Primeiro Dia de Ação de Graças “Americano”

Apesar de eu ter mudado com meu marido para os Estados Unidos em Dezembro de 1997, durante nossos primeiros seis anos no país vivemos na Flórida, onde a maioria dos amigos que fizemos eram latinos. Portanto, nossos Dias de Ação de Graças eram passados entre mexicanos, cubanos, porto-riquenhos, etc., numa mistura de culturas e tradições familiares diversas. Sim, era servido peru assado, mas com sabor de América Latina. E os acompanhamentos variavam de “guacamole” e “feijões refritos” a “torta de choclo” e “plátanos”. E como todo latino é exagerado, não ficávamos só no peru, não, alguém trazia um pernil assado, e sempre havia “arroz com pollo” e umas “papas rellenas”. Somente quando nos mudamos para Atlanta em 2006, foi que eu participei do meu primeiro jantar de Thanksgiving tradicional americano.

Na mudança para Atlanta contamos com o apoio de um velho amigo do Flavio, que muito gentilmente, nos preparou uma pasta com informações sobre a região onde moramos. E assim que chegamos ele e sua mulher nos convidaram para um brunch em sua casa. Quando chegamos fiquei encantada com o capricho da nossa anfitriã, estava tudo tão lindo. Já havia frutas, em camadas com iogurte e cereais, servidas em taças de cristal sobre a mesa, que ela havia decorado com toalha bordada, porcelana fina e talheres de prata.

A minha filha mais velha tinha sete anos e a pequena apenas três. Você acha que eu consegui relaxar para desfrutar daquilo tudo? Claro que não. Eu fiquei em cima delas durante toda a visita, pois como o casal já tinha os filhos adultos, e nenhum neto ainda, além da mesa elegantemente servida, toda casa era muito bem decorada com lindos objetos sobre todas as mesinhas de centro e canto. Lembro de passar boa parte do tempo caminhando atrás da pequena, enquanto mantinha o ouvido na minha mocinha que conversava animada com a anfitriã, mas no fim tudo deu certo, ambas portaram-se bem, e eu voltei para casa aliviada.

Retribuímos o brunch com um jantar simples, porque nossa mudança foi entregue pela metade, e o segundo container só chegaria em três meses, pois havia sido enviado para a China por engano. Eu conto essa estória em outro artigo. No momento basta dizer que eu retribui um café da manhã servido em porcelana e cristal, com um jantar servido em descartáveis, porque meu marido insistiu que não podíamos deixar passar muito tempo sem retribuir a gentileza deles. Em minha defesa, preciso salientar que fiz o que pude. O importante é que durante o jantar aqui em casa, nós fomos convidados para o jantar de “Thanksgiving” na casa deles. E eles perguntaram para a minha mocinha se ela gostava de peru. E a fofa disse:

– I love turkey. Eu amo peru.

Assim mesmo, nos dois idiomas, bem enfática.

Pelo cuidado que eles tiveram quando serviram o brunch, imaginei como seria o jantar de Thanksgiving na casa deles, e mesmo assim me surpreendi. A decoração da casa havia sido incrementada com detalhes outonais, e móveis tinham sido remanejados para acomodar uma mesa gigante em forma de T que ocupava todo o espaço da ampla sala de jantar. E a família inteira deles estava presente, todos muito simpáticos, e adultos, nenhuma outra criança além das minhas meninas. Ninguém para nos solidarizarmos nos momentos embaraçosos.

A primeira coisa que nossa anfitriã disse após as apresentações de praxe foi:

– A Giulia adora peru. Venha Giulia, vou te mostrar seu prato favorito.

E lá estava, sobre a ilha da cozinha, o peru assado, pronto para ser servido.

A fofa não decepcionou, passou as mãozinhas sobre a barriguinha, fez carinha de entusiasmo e disse:

-Estou morrendo de fome.

Aguardamos a chegada de um casal de sobrinhos e então nos pusemos a transportar travessas de acompanhamentos típicos à mesa, purê de batatas e batatas doces assadas, gravy, legumes sauté, geleia de cranberry, cestos de pães, e o famoso peru. Quando fomos nos sentar, descobrimos que haviam nos dado a base do T, com dois banco altos para as meninas na ponta, o Flavio e eu, um de cada lado delas, tudo muito prático e bem pensado para cuidarmos das pimpolhas. Nessa disposição, a Giulia ficou bem de frente para o casal que sentou-se no meio da mesa do lado oposto de onde estávamos.

Nosso anfitrião levantou-se, destrinchou o peru e todos começamos a passar os pratos de mão em mão servindo o que estivesse a nossa frente na maior animação, tipo jantar em família, até que todos tivéssemos um pouco de tudo a nossa frente. Foi feita uma oração em agradecimento as nossas bençãos e começamos a comer. A Giulia atacou o purê de batatas com entusiasmo, e num destes momentos mágicos, onde várias coisas acontecem ao mesmo tempo, e precisamente quando não deveriam, a mesa ficou em silencio com todos mastigando, ela provou o peru, e nossa anfitriã perguntou em voz alta para ser ouvida desde o outro lado da mesa:

– Você está gostando da comida Giulia?

E ela respondeu igualmente em voz alta, praticamente gritando:

– O purê está bom, mas eu não gostei do peru não, eu prefiro o da minha mãe.

Geleia de Cranberry

Caro leitor(a), acho que fiquei da cor da geleia de cranberry.

Thanksgiving – Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos

Este é o feriado nacional mais celebrado nos Estados Unidos. Apesar do nome parecer indicar uma data religiosa, esta é na verdade uma celebração histórica. Todos os americanos, independente de suas religiões, comemoram a primeira colheita de sucesso dos peregrinos do Mayflower.

Em 1621, os colonizadores de Plymouth e os índios Wampanoag compartilharam uma “festa da colheita de outono” que é reconhecida hoje como uma das primeiras celebrações de Ação de Graças na colônia americana. Por mais de dois séculos, o Dia de Ação de Graças foi celebrado individualmente pelas colônias e estados. Não foi até 1863, no meio da Guerra Civil Americana, que o presidente Abraham Lincoln proclamou o Dia de Ação de Graças nacional, que passaria a ser celebrado na última quinta-feira de cada novembro. Em 1941 o congresso americano mudou a celebração da última para a quarta quinta-feira de cada novembro.

Neste dia os americanos agradecem suas bençãos com uma refeição em família, que tradicionalmente inclui peru assado, stuffing (um tipo de farofa feita com cubos de pão torrado), purê de batatas, gravy (um molho grosso feito das raspas da assadeira do peru), algum legume da preferência da família ao forno, como vagem, aspargos ou couve de Bruxelas, gelatina de cranberry (não me pergunte por que, eu até compro pronta e ponho na mesa, mas aqui em casa ninguém gosta),e também é comum servir-se batata doce assada ou em purê. Como sobremesa são servidas tortas de maçã, de cereja, e principalmente de abóbora, entre outros doces acompanhados de café e chá.

Surpreendentemente este é o feriado em que os americanos mais viajam para estar com a família, e não o Natal como no Brasil. As passagens aumentam de preço, e mesmo assim os aeroportos ficam insuportavelmente lotados.

Vivendo aqui há tantos anos meu marido e eu adotamos o feriado, e nos sentamos para agradecer nossa saúde, nossa prosperidade e a união da nossa família, e para celebrar os frutos dos nossos esforços. Minhas filhas nasceram aqui, e quando eram menores faziam listas de agradecimentos na escola e traziam para casa, era uma graça. Obrigada Papai do Céu pelo papai, pela mamãe, pela Pipoca (nossa cachorrinha), pela minha casa, pelos meus brinquedos, pelas minhas vovós, pelos meus vovôs, pelos meus primos, pelos meus amiguinhos, pelos meus tios, porque a mamãe vai fazer pudim de leite e brigadeiro além de torta de abóbora, porque a mamãe concordou em pintar meu quarto de rosa (agora elas odeiam rosa), ah, e a mamãe mandou eu agradecer pela minha saúde.

Os colonizadores de Plymouth, Inglaterra – Raiz histórica do “Thanksgiving”

Em setembro de 1620, um pequeno navio chamado Mayflower partiu de Plymouth na Inglaterra levando 102 passageiros, incluindo uma variedade de separatistas religiosos que procuravam um novo lar onde eles pudessem praticar livremente sua fé, e outros indivíduos atraídos pela promessa de prosperidade e posse de terra no Novo Mundo. Após uma viajem traiçoeira e desconfortável que durou 66 dias, o navio ancorou perto da ponta de Cape Cod, extremo norte do seu destino pretendido, na foz do rio Hudson. Um mês depois o Mayflower cruzou a Baía de Massachusetts onde os peregrinos, como são comummente chamados aqueles colonizadores, começaram o trabalho de estabelecer uma aldeia onde hoje fica Plymouth, no estado de Massachusetts.

Durante o primeiro inverno, que foi brutal, a maioria dos colonizadores permaneceu a bordo do navio, onde sofreram de escorbuto, surtos de doenças contagiosas, e pela exposição ao frio. Apenas metade dos passageiros originais e dos tripulantes do Mayflower viveu para ver a sua primeira primavera na Nova Inglaterra. Em Março, os colonos remanescentes mudaram para terra firme, onde receberam a visita surpreendente de um índio Abenaki que os saudou em inglês. Vários dias depois, ele voltou com outro nativo americano, Squanto, um membro da tribo Pawtuxet que havia sido sequestrado por um capitão inglês e vendido como escravo. Ele conseguiu fugir para Londres e voltar para sua terra natal em uma expedição exploratória. Squanto ensinou os peregrinos, enfraquecidos por desnutrição e pelas doenças que os afligiram durante o inverno, como cultivar milho, extrair a seiva doce das árvores de bordo, pescar peixes nos rios, e evitar plantas venenosas. Ele também ajudou os colonos a forjar uma aliança com os Wampanoag, uma tribo local, aliança essa que perduraria por mais de 50 anos, e que tragicamente continua a ser um dos raros exemplos de harmonia entre colonos europeus e americanos nativos.

"The First Thanksgiving" (1915), by Jean Louis Gerome Ferris (American painter, 1863-1930)

Em novembro de 1621, após a primeira safra de milho bem sucedida dos peregrinos, o governador William Bradford organizou uma festa de celebração, e convidou um grupo de nativos norte-americanos aliados da jovem colônia norte-americana, incluindo o chefe Wampanoag Massasoit. Apesar de na época os próprios peregrinos não terem usado o termo “Thanksgiving” para o festival, que durou três dias, esta é considerada a primeira celebração do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Não há um registro exato do cardápio do banquete histórico, mas Edward Winslow, um peregrino e cronista da época, escreveu em seu diário que em preparação para o evento o governador Bradford enviou quatro homens em uma missão de “fowling” (“fowling piece” é uma pequena arma apropriada para caçar aves e pequenos animais), e que os convidados Wampanoag trouxeram cinco cervos. Historiadores sugerem que a maioria dos pratos provavelmente foi preparada utilizando especiarias e métodos de cozimento tradicionais dos nativos americanos, porque os peregrinos não tinham forno. O estoque de açúcar do Mayflower tinha diminuído drasticamente até o outono de 1621, e portanto a refeição não deve ter incluido tortas, bolos ou outras sobremesas que fazem parte das celebrações contemporâneas.

Proclamação original de Abraham Lincoln estabelecendo a última quinta-feira de novembro como dia nacional de Thanksgiving

By the President of the United States of America.

A Proclamation.

The year that is drawing towards its close has been filled with the blessings of fruitful fields and healthful skies. To these bounties, which are so constantly enjoyed that we are prone to forget the source from which they come, others have been added, which are of so extraordinary a nature, that they cannot fail to penetrate and soften even the heart which is habitually insensible to the ever watchful providence of Almighty God. In the midst of a civil war of unequaled magnitude and severity, which has sometimes seemed to foreign States to invite and to provoke their aggression, peace has been preserved with all nations, order has been maintained, the laws have been respected and obeyed, and harmony has prevailed everywhere except in the theatre of military conflict; while that theatre has been greatly contracted by the advancing armies and navies of the Union. Needful diversions of wealth and of strength from the fields of peaceful industry to the national defense, have not arrested the plough, the shuttle or the ship; the axe has enlarged the borders of our settlements, and the mines, as well of iron and coal as of the precious metals, have yielded even more abundantly than heretofore. Population has steadily increased, notwithstanding the waste that has been made in the camp, the siege and the battlefield; and the country, rejoicing in the consciousness of augmented strength and vigor, is permitted to expect continuance of years with large increase of freedom. No human counsel hath devised nor hath any mortal hand worked out these great things. They are the gracious gifts of the Most High God, who, while dealing with us in anger for our sins, hath nevertheless remembered mercy. It has seemed to me fit and proper that they should be solemnly, reverently and gratefully acknowledged as with one heart and one voice by the whole American People. I do therefore invite my fellow citizens in every part of the United States, and also those who are at sea and those who are sojourning in foreign lands, to set apart and observe the last Thursday of November next, as a day of Thanksgiving and Praise to our beneficent Father who dwelleth in the Heavens. And I recommend to them that while offering up the ascriptions justly due to Him for such singular deliverances and blessings, they do also, with humble penitence for our national perverseness and disobedience, commend to His tender care all those who have become widows, orphans, mourners or sufferers in the lamentable civil strife in which we are unavoidably engaged, and fervently implore the interposition of the Almighty Hand to heal the wounds of the nation and to restore it as soon as may be consistent with the Divine purposes to the full enjoyment of peace, harmony, tranquility and Union.

In testimony whereof, I have hereunto set my hand and caused the Seal of the United States to be affixed.

Done at the City of Washington, this Third day of October, in the year of our Lord one thousand eight hundred and sixty-three, and of the Independence of the Unites States the Eighty-eighth.

By the President: Abraham Lincoln

William H. Seward,
Secretary of State

Bibliografia:

http://www.history.com/topics/thanksgiving

http://showcase.netins.net/web/creative/lincoln/speeches/thanks.htm